Brasil deve pesar riscos de aderir a Nova Rota da Seda, diz chefe de Comércio dos EUA

O Brasil deve ter cautela com uma possível adesão a chamada Nova Rota da Seda (projeto chinês de investimentos em infraestrutura), afirmou nesta quarta (23) uma das principais autoridades econômicas dos Estados Unidos, a representante de Comércio, Katherine Tai, em São Paulo.

“Soberania é fundamental, e essa é uma decisão do governo brasileiro. Mas eu encorajaria meus amigos no Brasil a olhar a proposta com as lentes da objetividade, com as lentes da gestão de risco”, disse Tai, em evento promovido pela Bloomberg que teve a disputa geopolítica entre EUA e China como pano de fundo de vários dos debates.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não fechou posição sobre participar do projeto chinês, mas grupos pressionam para que esse anúncio seja feito durante a visita do presidente chinês Xi Jinping, em novembro.

A ala econômica do governo brasileiro, no entanto, defende que qualquer acordo inclua mecanismos como transferência de tecnologia e salvaguardas para defender a produção industrial nacional e alavancar o comércio de alto valor agregado.

“O Brasil deve se perguntar qual é o caminho que leva a mais resiliência não só da economia brasileira, mas da economia global”, afirmou Tai.

Reduzir a dependência de cadeias de suprimento da China foi o tema central da fala da representante de comércio americana, e com esse objetivo que, o governo americano trabalha para anunciar, também em novembro, na cúpula do G20, um acordo em que o Brasil seria fornecedor preferencial de minerais críticos para os americanos.

Esses minerais (como grafite, lítio, manganês, terras raras e níquel) são essenciais para fabricar inúmeros produtos de alta tecnologia e energia verde, como baterias de veículos elétricos e paineis solares, setores apontados por Tai como preocupantes, por estarem muito concentrados em produtores chineses.

“Se olhar os segmentos da produção de módulos para energia solar, a China tem entre 80% e 100% da cadeia de suprimento em cada um deles. É uma dependência efetiva de uma só economia, com risco importante para a cadeia de suprimentos, como aconteceu na pandemia com as máscaras e outros equipamentos de segurança”, afirmou.

Questionada sobre barreiras para impedir que produtos chineses concorram com os americanos, como a tarifa de 100% sobre veículos elétricos introduzida no mês passado, Tai afirmou que o governo dos EUA está concentrado em discutir “instrumentos de comércio que possam fortalecer as cadeias de suprimento”, o que se aplica também a produtos feitos por empresas chinesas em outros países, como o México e o Brasil.

Segundo ela, a análise leva em conta quatro critérios: transparência sobre a relação entre o fabricante e o Estado, diversidade, confiança e sustentabilidade.

“Se uma montadora chinesa vai fabricar seus veículos no México, nós estaremos preocupados com quem está trabalhando nessas fábricas, qual a regulação trabalhista, qual o impacto ambiental e, principalmente, se há uma conexão transparente entre empresa e Estado.”

Sem acusar abertamente o avanço chinês sobre outros países como extrativista, Tai engatou em seguida uma menção às pesquisas que deram o Prêmio Nobel de Economia deste ano aos economistas Daron Acemoglu e Simon Johnson, do MIT (Massachusets Institute of Technology), e James A. Robinson, da Universidade de Chicago.

“O que os economistas identificaram é que, no período pós-colonial, países que desenvolveram instituições inclusivas foram mais bem-sucedidos em gerar riqueza, em relação aos que seguiram caminhos mais extrativos. Em nossas parcerias com amigos e vizinhos, temos que usar nossas ferramentas de comércio para reforçar instituições inclusivas”, disse Tai.

Folhapress

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