Concessão de novos financiamentos imobiliários cai em setembro em meio a falta de recursos
A mudança de tendência coincide com um momento de falta de recursos para financiamento imobiliário sob impacto do alto volume de saques da caderneta de poupança, de juros em dois dígitos no país e de demanda crescente por imóveis.
No acumulado do ano, o volume de crédito concedido para pessoas físicas para financiamento imobiliário com recursos direcionados a partir dos depósitos de poupança e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) foi 27,3% maior do que no mesmo período de 2023.
Do total dos recursos direcionados dos depósitos de poupança, as instituições financeiras devem aplicar 80% a taxas de juros reguladas e até 20% a taxas de juros livres.
Na modalidade das taxas reguladas, houve recuo de 4,7% no mês. Em setembro, foram concedidos R$ 17,8 bilhões –contra R$ 18,6 bilhões em agosto.
Já na fatia das taxas de mercado, houve queda de 2,2% em relação ao mesmo período –sendo R$ 2,9 bilhões no mês passado, ante R$ 3 bilhões em agosto. Apesar da retração mensal, os dois segmentos apresentaram expansão no ano.
A Caixa Econômica Federal é a maior financiadora da casa própria no país, responsável por cerca de 68% do mercado de crédito imobiliário. Como mostrou a Folha, o banco tem deixado clientes à espera da assinatura de contratos de empréstimos, mesmo com o processo para a concessão de recursos já avançado.
Para os últimos meses do ano, resta disponível apenas 15% do orçamento anual da instituição para esse tipo de financiamento com recursos da poupança. O banco recebeu um orçamento de R$ 75 bilhões para contratações com verba da poupança neste ano. Até setembro, já foram consumidos R$ 63,5 bilhões.
Operando no limite da sua capacidade, a Caixa decidiu aplicar novas regras para emprestar dinheiro a quem pretende comprar imóveis de até R$ 1,5 milhão, encarecendo a operação.
A partir de novembro, a cota máxima de financiamento cairá de 80% para 70% para amortização pela tabela SAC (Sistema de Amortização Constante), em que as parcelas são maiores no início e menores no fim, por causa da diminuição progressiva dos juros.
A falta de recursos está afetando também quem vai comprar imóveis pelo programa habitacional MCMV (Minha Casa, Minha Vida), uma das vitrines sociais do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No acumulado do ano, a poupança registrou retirada líquida de R$ 11,24 bilhões, segundo dados do BC. Foram seis meses de saques líquidos até agora em 2024, com o maior volume registrado em janeiro, de R$ 20,15 bilhões.
Em setembro –terceiro mês seguido em que as retiradas superaram os depósitos, houve o maior volume de saques líquidos desde janeiro, totalizando R$ 7,14 bilhões.
Em julho, em entrevista à Folha, o ministro das Cidades, Jader Filho, cobrou a liberação, pelo BC, de parte dos recursos da poupança que hoje estão parados em depósitos compulsórios e que poderiam ser usados para financiamento da casa própria.
O Banco Central exige o recolhimento compulsório de 20% sobre os recursos de depósitos de poupança. Em junho, o presidente da Caixa, Carlos Vieira, defendeu que a liberação dos depósitos compulsórios dos bancos seria uma saída para driblar a possível falta de recursos para a concessão de financiamento imobiliário.
A ideia do banco é que o recolhimento compulsório passe a ser de 15%. Segundo a vice-presidente de Habitação, Inês Magalhães, a liberação de uma parcela de 5% dos recursos da poupança poderia injetar cerca de R$ 20 bilhões na capacidade da Caixa de financiar a compra da casa própria.
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