Derrotas nas eleições precipitam disputa interna pelo comando do PT
Segundo relatos, a possibilidade de Gleisi deixar a presidência do PT já em fevereiro foi citada pelo ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, durante uma reunião dos dois com Lula.
Na conversa, o presidente perguntou a Gleisi sobre o processo eleitoral do partido, a ser iniciado em 2025. A deputada respondeu que seu mandato termina em junho. Padilha a questionou se não seria em fevereiro, o que ela negou.
A briga pela condução do partido é travada dentro da força política liderada por Lula, a CNB (Construindo um Novo Brasil). O presidente atua para deter a implosão da tendência em meio à troca de acusações de seus integrantes.
Enquanto uma ala da CNB prega a renovação da direção do partido —tendo à frente o prefeito de Araraquara, Edinho Silva—, outra responsabiliza ministros de Lula pelo resultado do PT nas urnas.
Em desabafos após o primeiro turno, dirigentes do PT chegaram a afirmar que Lula é blindado por ministros bajuladores hoje instalados na chamada cozinha do Palácio do Planalto, todos petistas.
Gleisi rejeita a possibilidade de deixar o cargo antes do previsto e diz que ficará até o fim de seu mandato. Ela nega que Lula tenha sugerido a antecipação da sua substituição e afirma que pretende cumprir seu mandato conforme acertado com o próprio presidente.
Seu mandato foi prorrogado a pedido de Lula. Em dezembro de 2022, após ter sido eleito presidente, Lula afirmou a aliados que Gleisi seguiria à frente do partido e, portanto, não seria ministra em seu governo.
A ideia era evitar que uma disputa fosse deflagrada no primeiro ano de seu governo, prejudicando os preparativos para a corrida municipal. Gleisi lembra que não há como antecipar a eleição interna e diz que pretende conduzir o processo.
“Vou ficar até o fim do mandato. E conduzir a sucessão. Esse foi meu compromisso, inclusive com o presidente Lula”, diz ela.
A presidente do PT tem classificado de legítima a candidatura de um nome do Nordeste. Esse gesto é entendido como uma prova de resistência ao nome de Edinho.
Ele é o preferido de Lula para a vaga. Ministro do governo Dilma, Edinho atuou na coordenação de campanha do presidente em 2022. A derrota em Araraquara (SP), cidade da qual é prefeito, tem sido usada para debilitar sua candidatura.
O partido tinha expectativa de vencer na cidade com a ex-secretária da Saúde Eliana Honain, apadrinhada de Edinho. Apesar de ser apontada como favorita em pesquisas eleitorais, ela foi derrotada por Luis Claudio Lapena Barreto, o Dr. Lapena, do PL.
Diante desse cenário, integrantes da sigla afirmam ser necessário que um representante do Nordeste seja alçado ao posto, já que a região foi a responsável pela vitória ao petista na última eleição à Presidência.
Nesse contexto, é lembrado o nome do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). A interlocutores ele diz que tem um acordo com a cúpula do partido e lideranças do Ceará para tentar o Senado em 2026, o que impossibilitaria ser presidente do PT.
Apesar disso, no entanto, tem afirmado que só tratará desse assunto após o segundo turno das eleições. A interlocutores afirmou que esse foi um pedido da própria Gleisi, para que ele não tomasse nenhuma decisão antes dos resultados do segundo turno.
Guimarães tem se dedicado à campanha de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza. Na capital cearense, o petista tem como adversário o deputado federal André Fernandes (PL), apoiado por Jair Bolsonaro.
Defensores da candidatura de Guimarães dizem que uma vitória em Fortaleza, capital mais populosa do Nordeste, impulsionaria o nome do deputado para ser presidente do partido, já que ele sairá fortalecido nesse cenário.
Ex-presidente do PT de São Paulo, o deputado estadual Emídio de Souza rechaça a ideia de condicionar a escolha do presidente do partido à performance eleitoral.
“A escolha do presidente do PT nunca esteve vinculada ao desempenho eleitoral. E, sim, ao perfil. Acho que, neste momento, Edinho tem o perfil ideal para reposicionar o PT na sociedade”, diz ele.
Petistas enxergam, por trás dessa disputa, a eleição presidencial de 2026. À frente do partido, Gleisi tem feito críticas à política econômica conduzida por Fernando Haddad (Fazenda), apontado como um nome para a sucessão de Lula caso o presidente não busque a reeleição.
As críticas de Gleisi a teriam afastado do núcleo do governo. Hoje, uma das hipóteses para a antecipação de sua saída seria um convite para um ministério, em uma reforma ministerial.
A sucessão no PT entrará formalmente em pauta a partir da segunda-feira (28), quando o comando do partido fará um balanço das eleições. O calendário do processo interno será definido em dezembro, durante reunião do diretório nacional. Mas petistas calculam serem necessários pelo menos três meses para a eleição da nova direção do partido.
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