Entrevista – Zé Cocá: “O governo Jerônimo está um pouco perdido, falta uma marca”

Zé Cocá foi reeleito prefeito de Jequié
Entrevista – Zé Cocá: “O governo Jerônimo está um pouco perdido, falta uma marca”
exclusivas

Reeleito com margem histórica de votos, o prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP), contabiliza também uma vitória política e começa a se projetar como um líder regional, numa articulação que chega a abarcar 50 colegas prefeitos. Não à toa, já tem o nome ventilado para composição de chapa majoritária ao governo do Estado em 2026.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Cocá detalha os contornos dessa arrumação regional, ao tempo em que aponta críticas ao governo estadual pela falta de “um olhar macro” para as agendas regionais. Segundo ele, o governador Jerônimo “está um pouco perdido” e está nesses dois anos iniciais “ainda surfando na onda Rui Costa”.

Ex-presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Zé Cocá será personagem importante nas articulações da eleição do próximo biênio, embora sinalize que não planeje voltar ao comando da entidade. Ele ainda faz um alerta sobre a eventual volta do PP à base estadual e um balanço de como ACM Neto e Jerônimo saíram das urnas municipais.

Leia a entrevista na íntegra:

Queria começar falando da votação histórica em Jequié. O que justifica aquela margem tão expressiva?

É, 91,97%, praticamente 92%. Graças a Deus. Primeiro, benção de Deus e fruto de muito trabalho. E segundo, de fato, a oposição montou um processo de xingar, de tentar desmoralizar a nossa candidatura e a população de Jequié repudiou essa atitude, então acho que isso aumentou até a votação. Nas pesquisas dava 89, 90 pontos e aí a gente cresceu. Eu acho que foi um troco a esse sentido de fazer a política xingando. Até porque tem lugares aqui que tem aceitação sempre acima de 95, 96, 97%. A população está satisfeita com o mandato e quando você faz uma política xingando, sem propostas, o troco é nesse sentido, como foi a votação de Alexandre (Da Saúde, candidato que concorreu pelo PSD).

A partir dessa votação, o mundo político já começa a citar seu nome para compor uma chapa majoritária em 2026. O que é que o senhor pensa disso?

Eu digo sempre que é uma honra a gente estar, é uma honra a gente receber alguns convites, algumas falas, acho que está cedo ainda para essa discussão, mas política é uma coisa que você faz trabalhando. Meu foco hoje é terminar meu mandato em Jequié. Eu dizia que para deputado federal eu não sairia, até pela relação que eu tenho com o Leur [Lomanto Jr] e com o Cacá [Leão] eu não vou sair. Mas essa questão majoritária, o que é que eu pretendo, eu quero discutir isso, até porque nós fizemos aqui vários prefeitos da região, todo prefeito que faz vizinhança com Jequié nós ganhamos as eleições, ganhamos até municípios onde era quase impossível. A nossa influência aqui deu o comando de Manoel Vitorino, Apuarema, onde os prefeitos estavam muito bem e nós conseguimos ganhar com os nossos candidatos. Lafaiete Coutinho, Lajedo do Tabocal e tantos outros, então, graças a Deus a gente ficou forte. Qual a intenção da gente? Discutir regionalmente isso. Nossa região é muito forte, é uma região grande e fica fora das discussões políticas. Hoje Jequié não tem aeroporto regional, temos um aeródromo, mas não temos aeroporto. O nosso polo industrial está entrando em colapso, não tem uma discussão do novo polo industrial. Você tem um anel viário que foi recuperado quatro quilômetros e falta terminar. Então você tem obras estruturantes que precisam ser feitas para que a gente cresça mais, que a gente apareça, vamos dizer, regionalmente. A cidade tem voado, a região tem voado, mas a gente precisa de investimentos macro. A gente precisa entrar nessa discussão. A nossa maior intenção hoje é essa.

“A gente precisa abrir um leque de investimentos no interior da Bahia para que o interior fique mais forte, está faltando um olhar macro”

Quantas cidades em média o senhor calcula nesse arco de aliança regional junto com Jequié?

Hoje nós temos média de 30 cidades que têm aqui na região. Das 30, em que nós tivemos alguma influência, nós fizemos 17 prefeitos. Então ficamos com uma região muito forte. E a influência do nosso nome, da administração de Jequié, da mudança, tem extrapolado essas fronteiras. Então prefeitos de municípios mais longe têm nos procurado, têm discutido, porque vê essa discussão regional muito forte. Essa área aqui em torno de Jequié corresponde a quase 30 municípios. Então o território do Vale do Jiquiriçá e Médio Rio de Contas, onde nós vamos para quase 40 nos dois e aí já pega um pouco do Baixo Sul, quase 50 municípios, têm discutido isso junto. Então a gente tem visto acender uma chama que estava apagada para criar uma discussão regional mais forte. Então Jequié tem encampado isso e com certeza vou trabalhar para liderar esse processo. Claro, com os amigos, chamar os outros municípios é importante, município de Ilhéus, município de Itabuna, para nos ajudar, o município de Jaguaquara, a prefeita é muito amiga, tem nos ajudado muito, em Ipiaú, Santo Antônio de Jesus, para que a gente encampe uma campanha forte de interiorização. Não precisa desmerecer a Região Metropolitana, mas a gente precisa de investimentos mais fortes. Pode continuar investindo lá, mas nós precisamos de novos polos industriais, a gente precisa de novas avenidas, a gente precisa de aeroportos regionais, a gente precisa abrir um leque de investimentos no interior da Bahia para que o interior fique mais forte e está faltando um olhar macro. Às vezes você tem pequenas obras, mas a gente precisa de um olhar macro mais para essas áreas.

“Você vê agenda de visita, visita, visita, mas nós precisamos de agendas produtivas, agendas de projetos regionais, isso está faltando”

Considerando essa visão mais municipalista, na sua avaliação como é que governo e oposição saíram dessa disputa municipal?

Na minha concepção, a oposição saiu muito forte nas grandes cidades, o governo saiu mais forte nas pequenas cidades, mas eu acho que está faltando uma identidade no governo Jerônimo. O governo Jerônimo, na minha concepção, está um pouco perdido, ficou dois anos ainda surfando na onda Rui Costa, então falta uma marca do governo Jerônimo para criar sua marca, que hoje não tem. Então para mim, a maior deficiência é nesse sentido. Falar das infraestruturas regionais, discutir com os consórcios, onde não houve trabalho nenhum nesses dois anos em relação a isso. O governo Rui discutiu muito com relação a isso. Discutir com os municípios, discutir com os deputados, os trabalhos do interior, então a gente vê os prefeitos um pouco perdidos. Você vê a agenda de visita, visita, visita, mas nós precisamos de agendas produtivas, agendas de projetos regionais, então isso está faltando, você não está vendo uma marca no governo. Então isso, na minha concepção, tem fragilizado muito o governo.

“Você inverte o sentido quando vai falar só de política. A gente tem que discutir o trabalho e, aí sim, pode se discutir política”

A gente tem acompanhado um movimento do seu partido, o PP, de querer regressar à base do governo estadual. O senhor defende esse retorno, já tem uma posição formada sobre essa questão?

Eu acho que está cedo para isso. Eu até falei numa entrevista que estava solicitando uma audiência com o governador para que ele abra uma agenda para discutir ações macro na nossa região. Eu acho que é hora de discutir esse trabalho que não aconteceu, discutir obras estruturantes regionalmente para que aí sim, depois disso, discutir a questão política. Você inverte o sentido quando vai falar só de política. A gente tem que discutir o inverso, o trabalho, a infraestrutura, e aí sim, se for um projeto forte, se o governo entender dessa forma, pode se discutir política. Mas eu acho que está cedo para discutir só política. Ou seja, é um apoio político a partir de um projeto de ações pensadas. Isso precisa de um projeto nesse sentido. Só discutir política agora por discutir, eu sou contra.

E como anda a relação dos municípios com o governo federal? O senhor pegou dois anos do final do governo Bolsonaro e os dois anos iniciais do governo Lula. O que mudou?

Eu acho que não se mudou muita coisa, não. O que era de direito dos deputados continuou. Os deputados federais estavam muito fortes no governo Bolsonaro, continuaram muito fortes no governo Lula. Então, as ações hoje que têm chegado para os municípios têm chegado através dos deputados. A gente não viu, assim, nenhuma ação pujante. Teve o Minha Casa Minha Vida, mas não tem execução ainda. Só tem propostas, município foi selecionado, mas a gente não viu nenhuma agenda propositiva. Jequié já está planejado para construir umas casas agora, mas ainda não começou nenhuma execução de nada. Então, na minha concepção, os mesmos sentidos, os deputados federais muito fortes, mas o governo ainda não criou um plano de governo mesmo para debater o governo e município, isso não aconteceu ainda não.

“Jequié precisa urgente, urgente, urgente de um aeroporto regional […] o governador Jerônimo nos fez a mesma conversa, nós estamos caminhando para dois anos e até hoje..”

Falando da gestão de Jequié, quais são os desafios que o senhor tem nesse segundo mandato?

O segundo mandato nosso nós estamos terminando a parte de pavimentação de Jequié. Jequié precisa urgente, urgente, urgente de um aeroporto regional ou o melhoramento do nosso e regionalize isso ou a construção de um novo. Nós levamos essa proposta ao governo quando era Rui Costa, o governo naquele momento aceitou a proposta, começou a debater, o governador Jerônimo nos fez a mesma conversa, nós estamos caminhando para dois anos e até hoje… Para mim é uma prioridade regional e eu espero que o governo nos chame para conversar o mais rápido possível. Um novo centro industrial para que a gente gere emprego. A nossa região ainda tem um índice de desemprego maior do que o índice nacional. Jequié melhorou muito, nós quase que dobramos a quantidade de CNPJs, nós crescemos muito muito no centro industrial, mas estamos longe do ideal ainda, até por uma questão regional. Porque Jequié, quando ela começa a gerar emprego, a região começa a vir para ela. Então isso, nos municípios, regionalmente, enfraquece. A gente precisa fortalecer isso, o campo de geração de emprego é a nossa intenção de crescer nessa área.

“Todos os países de primeiro mundo só resolveram o problema da segurança pública quando fizeram um investimento forte em educação. O governo do estado não tem feito isso”

Jequié já apareceu como a cidade mais violenta do país. Como tem sido a atuação do governo estadual? O município está fazendo algum movimento no sentido de fazer uma ação integrada?

O governo ainda não se debruçou na questão da segurança pública e não avaliou que segurança pública é um projeto conjunto. Eu tenho dito isto há vários anos – ou o governo discute segurança pública atrelada ao processo educacional ou não vai fazer. Tem que ter a parceria com os municípios. Então precisa juntar com os municípios, o governo federal, o governo estadual precisam discutir creches, escolas em tempo integral, agora com projeto macro para integrar os municípios automaticamente. Aí sim, você qualificar a Guarda, organizar para que a gente faça o serviço de rua, de monitoramento. Então, eu acho que está faltando essa integração. O governo está fazendo alguns movimentos, mas movimentos pontuais. Então, a gente precisa qualificar, além de organizar nossa polícia, que é uma polícia excepcional, mas a gente precisa ter carro de qualidade, processo de drone muito forte. Todos os países de primeiro mundo só resolveram o problema da segurança pública quando fizeram um investimento forte em educação. O governo do estado não tem feito isso. Nossos municípios têm problema crônico de creches. É dever dos municípios, mas os municípios na sua maioria não tem dinheiro para fazer creches. Então, o governo do estado tinha que fazer esse investimento em creches, tinha que fazer esse investimento em escola de tempo integral para que você comece a quebrar o ciclo desses alunos que estão na rua e acabam indo para o lado mais marginalizado. O governo não tem feito isso. Isso é um processo a longo prazo, que precisa ser começado. Eu tenho dito, aqui em Jequié nós fizemos 10 creches novas e a intenção no próximo ano é fazer mais 10 e chegar ao final do mandato de 20 a 30 creches, fechando 100% as áreas. Nós entramos com 10 escolas de tempo integral, hoje temos 21. A intenção em 2025 é terminar com 40, pra que a gente consiga fazer em turnos opostos várias oficinas, vários trabalhos. Nós temos mais de cinco mil alunos em qualquer projeto educacional nosso esportivo. Então, o governo precisa investir nessa área. Não adianta só o município fazer, claro que já melhora, mas se você fizer um projeto integrado de segurança pública e educação, a gente vai ter uma queda. Mas infelizmente, o governo ainda não acordou para isso.

O senhor já foi presidente da UPB, pretende participar novamente dessa disputa de alguma forma? Ser candidato ou apoiar algum nome? Defende algum encaminhamento?

Hoje tem vários candidatos querendo ser, tem bons nomes. Eu vejo, um exemplo, Wilson, de Andaraí, para mim é um nome excepcional que teria o meu apoio com toda certeza se ele quisesse ser candidato. Eu penso que a gente precisa integrar. Essa semana eu estarei em Salvador para conversar com alguns amigos. Não está nos meus planos ser candidato, mas se for a necessidade nós poderemos repensar e conversar. Mas o meu plano é que a gente tenha de fato um presidente municipalista, não desmerecendo Quinho, gosto de Quinho demais, mas eu acho que o trabalho não focou na discussão com os municípios. O que fizemos na UPB quando fomos presidente, havia uma integração dos municípios, a gente ia para Brasília juntos. A gente fazia um processo integrado. Presidente da UPB não pode ser sozinho, você não pode ter todas as agendas só em Brasília, a gente tem que criar um grupo de trabalho, a gente precisa que a diretoria nos ajude a fazer esse trabalho para que a gente possa integrar. A gente fazia atos em Brasília com 200, 250 prefeitos. A gente já teve atos em Brasília que o Brasil todo juntou 200 prefeitos e a Bahia sozinha foi com 250, porque a gente criou uma mobilização. A questão da alíquota do INSS, quando nós lançamos a pauta em Brasília era uma piada. Nós conseguimos votar como prioridade, nós conseguimos passar nas comissões e uma pauta que era piada virou verdade e virou necessidade porque a Bahia estava muito forte com a integração dos prefeitos. Então, eu sonho com a UPB assim e precisamos de fato ter um candidato que tenha esse pensamento. Eu vi isso em Wilson na FEC eu e Wilson fizemos uma parceria muito muito forte entre FEC e a UPB, então para mim seria um grande nome. Tem outros bons nomes, eu estou citando o de Wilson porque foi o que veio à cabeça, mas a gente precisa de fato discutir um nome que não seja governo, não seja oposição, seja o UPB, seja municipalista.

Fazendo um exercício de futuro para 2026, a partir desse desenho das urnas, olhando agora para a Bahia como um todo, acha que a ACM Neto vem fortalecido? Ou a máquina estadual ainda é muito forte?

Eu acho que nós estamos equilibrados. A eleição é equilibrada, vai depender de várias vertentes, depende de como é que o governo vai agir nesses dois anos. É um momento de equilíbrio, mas é o momento também de a gente ter atenção. Há um desgaste muito grande no governo por causa da segurança pública, os assuntos de saúde, outros assuntos que você não vê ainda, o que é que o governo pretende de fato fazer, mas há uma força da máquina, tem o governo federal, tem o nome Lula, que ninguém sabe como é que vai estar, que ainda tem muita deficiência. A gente não viu ainda um forte gerenciamento no governo, então é uma pauta ainda para a gente ter uma luz mesmo, como é que será isso, no meado, final de 2025, aí a gente vai ver como é que estarão os dois.

“[Majoritária] É uma discussão que a gente vai fazer com paciência”

O nome do senhor citado para majoritária está mais para uma majoritária com a ACM Neto ou para uma majoritária com Jerônimo?

É uma discussão de partido e grupo. Hoje eu tenho amigos, o PP em primeiro lugar, e eu tenho amigos e parceiros em vários partidos. Então, é uma discussão que a gente precisa fazer em grupo. Eu dizia lá atrás, quando me convidaram para voltar para a base, que eu não voltaria sozinho de forma nenhuma porque seria uma injustiça minha com quem nos acompanhou. Tinha que ser uma discussão macro. Volto à mesma discussão: vamos fazer uma discussão com ACM Neto? Com o governo? Precisa ter uma discussão macro, muito bem pensada, eu vou pensar nesse momento também na minha região, nos municípios que compõem aqui, além de Jequié. É uma discussão que a gente vai fazer com paciência.

Política Livre


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