Furacão Milton se aproxima da Flórida, e autoridades pedem retirada de milhões de pessoas

Imagem de satélite mostra furacão Milton entre o México (à esquerda) e a península da Flórida (à direita)
O Milton, um dos furacões mais poderosos jamais registrados no oceano Atlântico, avança através do golfo do México e deve atingir a costa da Flórida na noite desta quarta-feira (9), fazendo com que milhões de pessoas se apressem para fugir da destruição nos Estados Unidos.

Segundo o Centro Nacional de Furacões do país (NHC), o Milton “tem o potencial de ser um dos furacões mais destrutivos já registrados no centro-oeste da Flórida”. As autoridades pediram que cerca de 5,5 milhões de pessoas que moram na região de Tampa saiam de casa —em alguns casos, os moradores receberam ordens de remoção. O local já foi afetado pelo furacão Helene há pouco mais de uma semana.

De acordo com o jornal The New York Times, as rodovias do estado estão abarrotadas de pessoas tentando fugir e há falta de combustível na região —Tampa, um centro urbano densamente povoado na costa oeste da península da Flórida, não é atingida diretamente por um furacão há mais de um século.

Meteorologistas esperam que a área receba de 127 a 250 milímetros de chuva, o que pode causar enchentes. Mais de 2.000 voos foram cancelados, e embora o furacão só deva chegar à terra firme na quarta, ventos perigosos e chuva forte devem começar a afetar a Flórida ainda nesta terça.

O potencial destrutivo do Milton é exacerbado pelo fato de que o Helene atingiu ilhas ao redor da Flórida há pouco tempo, removendo barreiras de areia e vegetação que poderiam desacelerar o furacão. Além disso, o Milton pode transformar destroços que ainda não foram removidos na região em projéteis, causando ainda mais dano.

O presidente dos EUA, Joe Biden, cancelou uma viagem que faria à Alemanha e Angola para acompanhar os desdobramentos do fenômeno. Durante uma entrevista coletiva na terça, o democrata disse que o Milton é uma questão “de vida ou morte” e que os moradores da Flórida deveriam se retirar “agora, agora, agora”.

O governador do estado, o republicano Ron DeSantis, afirmou que neste momento “toda a península da Flórida está sob algum tipo de alerta ou advertência”, e disse que escavadeiras e outros equipamentos trabalham ininterruptamente para remover destroços causados pelo Helene.

DeSantis disse ainda que conversou com Biden por telefone. “O governo [federal] nos enviou tudo o que pedimos”, afirmou, acrescentando que vai mobilizar 8.000 membros da Guarda Nacional para lidar com as consequências do Milton, a maior mobilização da história da Flórida por conta de um fenômeno climático.

A prefeita de Tampa, Jane Castor, disse que quem resolver ficar nas áreas marcadas como sendo de remoção obrigatória “vai morrer”. Citando a previsão de enchentes de mais de 3 metros de altura, Castor disse que “casas de apenas um andar são menores do que isso. Se você ficar numa casa assim, ela vira o seu caixão”.

O operador de balsas Ken Wood, ouvido pela agência de notícias Reuters, disse que passou toda a terça-feira fazendo malas para fugir da cidade de Dunedin, a cerca de 40 quilômetros de distância de Tampa, junto com o seu gato, Andy.

Segundo a Reuters, Wood resolveu ignorar alertas e ficar em casa durante o furacão Helene, dizendo que foi uma das noites “mais assustadoras da minha vida”. “Não vou cometer o mesmo erro duas vezes”, afirmou.

A Reuters também ouviu o músico Mark Feinman, que diz ter precisado de 13 horas de viagem para atravessar uma distância de 800 quilômetros da cidade de St. Petersburg, na região metropolitana de Tampa, até Pensacola, na divisa com o estado do Alabama.

De acordo com Feinman, alguns motoristas estavam andando no acostamento e atravessando canteiros entre estradas para tentar escapar do trânsito, causando acidentes. Todos os postos de gasolina em um trecho de mais de 300 quilômetros na rodovia Interstate 10 estavam sem combustível.

Meteorologistas americanos correm para tentar determinar onde, exatamente, o Milton vai chegar à terra firme na Flórida —o curso do furacão tem mudado ao longo do dia. Na pior das hipóteses, o fenômeno atinge a baía de Tampa em cheio, cruzando toda a península no espaço de 24 horas antes de perder força na costa atlântica do estado.

O furacão Milton chegou a ser rebaixado para a categoria 4 na escala Saffir-Simpson à medida que se deslocava pelo golfo do México, mas voltou à categoria 5, a mais alta possível, poucas horas depois. Ao atravessar a região mexicana de Yucatán, o fenômeno causou chuva pesada, ventos fortes e ondas de tempestade, mas não registrou mortes ou maiores danos.

A situação pode ser muito diferente quando o furacão chegar aos EUA. A intensificação do Milton de tempestade para furacão de categoria 5 foi uma das mais rápidas já registradas, dizem meteorologistas, uma característica que era rara em fenômenos do tipo, mas que se torna cada vez mais comum agora.

Isso acontece porque, graças às mudanças climáticas, a temperatura do mar no golfo do México está mais elevada, e quanto mais profunda é a camada de água quente, mais energia um furacão consegue acumular.

O governador Ron DeSantis ainda disse nesta terça-feira que a Flórida deve acionar 8 mil membros da Guarda Nacional e está posicionando caminhões de suprimentos e equipamentos perto da área onde a tempestade deve atingir o solo. “Vocês têm tempo para sair, então, por favor, saiam”, reforçou o governador. “Essa tempestade é tão forte, tão grande, que é irreal”, ele disse. “Estamos em modo de sobrevivência.”

O governo do estado está distribuindo geradores de energia, alimentos, água e tendas para a população. Os habitantes das áreas de risco estão protegendo suas casas ou planejam ir embora.

As autoridades se preparam para danos catastróficos e cortes de energia que devem durar dias. Milton se tornou a terceira tempestade de intensificação mais rápida já registrada no oceano Atlântico, passando de uma tempestade tropical para um furacão de categoria 5 —o mais poderoso— em menos de 24 horas.

Gabriel Barnabé/Victor Lacombe/Guilherme Botacini/Folhapress

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