Tempestade violenta mata pelo menos 95 pessoas no leste da Espanha após forte inundação
Maior chuva do século deixa desaparecidos e milhares de desabrigados em Valência |
Carlos Mazón, presidente da Comunidade Valenciana, a entidade governamental local, confirmou de madrugada ao jornal El País que as equipes de socorro estavam encontrando “corpos sem vida”. A contagem de mortos saltou de 13 para 51 em questão de horas e, durante o dia, galgou para 95 após a intensificação dos serviços de busca. “Estamos todos em choque”.
Um fenômeno chamado gota fria, uma tempestade com ventos fortes, granizo e trovoadas, característica do outono, era aguardada pelos meteorologistas, mas não na intensidade registrada, a maior deste século, com mais de 300 l/m2 (o mesmo que mm) de chuva em cerca de 12 horas. Em depoimento ao El País, uma mulher descreveu pedras de granizo “do tamanho de bolas de golfe”.
De acordo com o Aemet, o serviço meteorológico da Espanha, em Chiva, uma das localidades mais afetadas, a marca chegou a 491 l/m2. Choveu em oito horas o esperado para um ano inteiro, de acordo com publicação do instituto no X.
Depoimentos de sobreviventes à imprensa espanhola descrevem um cenário de destruição súbita: “Veio como uma onda, parecia um tsunami”; “Fomos encurralados como ratos”.
Eventos climáticos extremos estão ocorrendo em todo o planeta em maior intensidade e frequência, afirmam cientistas, devido ao aquecimento global. Na Europa, nas últimas semanas, o estrago havia sido na França, assolada por fortes chuvas. Em setembro, países da Europa Central registraram mais de uma dezena de vítimas em seguidas inundações.
A chuva continuava na quarta-feira (30), em menor intensidade, mas ainda provocando inundações em Albacete, Granada e por quase toda Andaluzia, região mais ao sul, de grande apelo turístico.
A tempestade, também chamada de Dana (depressão isolada em níveis altos, na sigla em espanhol), começou no início da noite de terça-feira (29), deixando milhares presos em escritórios e centros comerciais, sem condições de voltar para casa. Várias estradas ficaram bloqueadas pelas inundações. Bombeiros e equipes de resgate não conseguiam chegar aos locais mais afetados.
Mais de mil homens da Forças Armadas foram despachados para a região. “É um fenômeno sem precedentes”, declarou a ministra da Defesa, Margarita Robles. Boatos e desinformação também eram uma preocupação. Segundo a imprensa espanhola, rumores sobre o rompimento de uma represa e alertas falsos de tsunami prejudicaram os trabalhos de resgate.
Imagens de redes sociais mostraram ruas e avenidas tomadas de água, carros boiando e ventanias com proporção de tornado. Pela manhã, as ruas de Valência acumulavam lama, lixo e dezenas de veículos virados.
Muitas estradas ficaram bloqueadas, e as linhas de trem voltaram a circular de maneira irregular. O trem-bala entre Valência e Madri estava com viagens suspensas; em outra linha do sistema, em Málaga, chegou a ocorrer um descarrilamento, sem consequências. O corte de energia afetava 155 mil residências, assim como havia zonas sem sinal de celular ou internet.
O Congresso paralisou sessão de controle do governo federal para concentrar esforços no atendimento da população afetada e fez um minuto de silêncio. O primeiro-ministro, que decretou três dias luto no país, pediu para a população seguir as orientações das autoridades. “Tomem cuidado e evitem deslocamentos desnecessários”, escreveu no X.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prestou solidariedade à Espanha e afirmou que acionou o sistema de emergência do Copernicus, o serviço europeu de monitoramento por satélites. O aparato fornece imagens e dados atualizados das regiões afetadas às equipes de emergência.
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