De quem é a culpa de Jerônimo vir tendo dificuldades para governar?, por Raul Monteiro*

Não será fácil ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) executar sua primeira reforma administrativa, cuja necessidade ele próprio já anunciou como a preparar os espíritos de correligionários e aliados para o período de instabilidade resultante das mudanças que julga imprescindíveis no governo. O propósito oficial das alterações, que devem envolver cerca de 10 pastas, empresas e autarquias, é melhorar a performance da máquina governamental para livrá-la de fragilidades que o transformam em alvo fácil de críticas da oposição, sustentando os índices de avaliação seus e da gestão, algo essencial para o plano de se reeleger, em 2026.

Na prática, no entanto, todo mundo sabe que Jerônimo pretende usar o pretexto da importância de ajustar a máquina para dar à administração uma feição própria, projeto que esbarra num dilema: sua profunda gratidão ao senador Jaques Wagner e ao ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa. Os dois tiveram papel inconteste tanto na escolha de seu nome para disputar o governo quanto na luta renhida que foi travada contra a oposição, representada pelo ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), para que ele fosse eleito governador, estendendo o controle do partido sobre o comando administrativo e político do Estado por mais quatro anos.

Diferentemente da postura que adotou em relação à gestão de Rui, que fez seu sucessor, mas de quem, desde o primeiro momento após a eleição, buscou afastar-se para lhe permitir tanto montar o governo quanto administrar livre de qualquer interferência sua, Wagner mudou de comportamento quanto a Jerônimo, passando a ocupar com quadros seus todos os espaços que asseguram o controle político do governo. O ministro, por sua vez, não agiu de forma diferente, buscando colocar os dele em cargos e órgãos restantes como forma não apenas de exercer influência no governo como de impedir que o senador avançasse além do razoável sobre a gestão.

Para completar, os movimentos ocorreram sob um clima de forte dissenso entre os dois principais líderes petistas – iniciado desde o processo de escolha de Jerônimo como candidato petista ao governo, em 2022 -, que passou a ser reproduzido por seus respectivos representantes no governo. O resultado é que no frigir da disputa ambos acabaram reduzindo a margem de indicações pessoais a cargos-chaves no governo por Jerônimo, cujos interesses ficaram espremidos entre aqueles dos dois grupos, obrigando-o ainda a agir como uma espécie de magistrado para evitar conflitos com potencial para inviabilizar sua gestão.

Agora, completam-se dois anos que Jerônimo governa sob a pressão de dois elementos que parecem não querer se misturar mais, o que é uma tarefa dificílima. Ao lado disso, ainda precisa conviver com críticas de representantes de ambos os lados segundo as quais não vem demonstrando até agora verdadeiro apreço pela gestão, além de insinuações de que, se der sinais de que há risco de fracassar no desafio de garantir a continuidade do grupo no poder, pode vir a ser substituído na cabeça da chapa de 2026 por Rui ou Wagner. Mas ele também vem recebendo conselhos a fim de aproveitar a oportunidade para mandar a gratidão às favas e passar a governar com os seus.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

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