Transição verde está se mostrando muito mais custosa, diz Campos Neto

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou neste sábado (9) que a transição para uma economia verde está se mostrando muito mais custosa do que o previsto e que o custo desse processo tem sido subestimado.

Apesar do alerta, o chefe da autoridade monetária vê a transição energética como necessária e defende que ela seja feita de maneira coordenada. Para Campos Neto, as questões climáticas devem ser incorporadas ao mandato dos bancos centrais.
De acordo com o presidente do BC, após a pandemia, as pessoas passaram a exigir que o crescimento seja mais sustentável e inclusivo.
“Os eventos climáticos estão crescendo em ritmo alarmante e, se olharmos para as inundações, é quase exponencial agora. Portanto, a transição precisa ocorrer e precisa ser coordenada”, disse.

“Há sinais claros de que subestimamos o custo da transição. Também ficou claro que o clima é nosso mandato. Quero dizer, olhem para as questões de preço e estabilidade financeira no Brasil. […] Temos os setores de seguros, as questões de produtividade. A transição verde está se mostrando muito mais custosa”, acrescentou.

Ele também ressaltou que teve de lidar com três problemas climáticos em um intervalo de um ano no Brasil, sem citar especificamente quais. Mais de 2,3 milhões de pessoas e 478 municípios foram afetados por enchentes no Rio Grande do Sul em maio.

As declarações de Campos Neto foram dadas em evento organizado pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais), na Suíça.

No debate, Campos Neto propôs uma reflexão sobre a mobilização de políticas macroprudenciais —usadas para assegurar a estabilidade do sistema financeiro— para tratar de questões climáticas, de forma a impulsionar a transição verde.

“Costumávamos trabalhar no Banco Central com o princípio da separação, que diz que, para a política monetária, usamos a taxa de juros, e, para a estabilidade financeira, usamos a política macroprudencial. Os efeitos são um sistema flutuante. Quando temos uma crise, essas coisas tendem a se cruzar em algum momento”, disse.

“Se o clima é um desafio tão grande, […] se a questão verde está realmente nos levando ao mesmo lugar, em algum momento, não deveríamos estar usando um pouco de [política] macroprudencial para regular isso?”, complementou.

Nesse caso, o presidente do BC questionou se não deveria ser cobrado, por exemplo, um custo de capital mais elevado dos bancos que não têm investimentos verdes. Na sequência, disse se tratar de uma opinião controversa.

Nathalia Garcia / Folhapress

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