Caiado articula equipe, lançamento de pré-candidatura presidencial e giro pelo Brasil em 2025

Mais de 30 anos depois de estrear na corrida presidencial com menos de 1% dos votos, Ronaldo Caiado (União Brasil) aposta que, desta vez, a experiência (ou os “cabelos brancos”, como costuma dizer) serão o seu passaporte para a vitória. O governador de Goiás chega a 2025 tratando a candidatura presidencial como um objetivo inadiável, espécie de última cartada em sua trajetória política, que acumula passagens pela Câmara dos Deputados, Senado e governo estadual.

Em meio a uma direita fragmentada e à inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL), Caiado se antecipou e decidiu colocar o bloco nas ruas já este ano, marcando o lançamento da sua pré-candidatura ao Planalto para o mês de março.

Salvador foi escolhida como palco do anúncio, em uma decisão carregada de simbolismos. Foi lá que Lula (PT) alcançou sua maior votação entre as capitais no segundo turno de 2022 contra Bolsonaro. E apesar de o Estado ser um histórico reduto petista, também é uma base importante do União Brasil, partido de Caiado. Na última eleição municipal, o União Brasil garantiu a reeleição de Bruno Reis na capital baiana com margem de quase 80% dos votos válidos. O evento de lançamento da pré-candidatura de Caiado deve reunir as principais lideranças locais da legenda, incluindo Bruno Reis e o ex-prefeito ACM Neto. O presidente nacional do partido, Antonio Rueda, também promete marcar presença.

Com o anúncio feito, Caiado deve avançar para a criação de um núcleo de coordenação política, que contará com Rueda, ACM Neto e outros atores políticos. Desse núcleo, que sairá do papel ainda no primeiro semestre, vão surgir os braços estratégicos da pré-campanha, responsáveis por pela agenda, comunicação e elaboração do programa de governo de Caiado.

Nos próximos meses, Caiado planeja selecionar nomes para formar o time de especialistas encarregado de elaborar sua plataforma de governo. Correligionários contam que, no ano passado, ele iniciou conversas com alguns profissionais, entre eles, a médica Ludhmila Hajjar, o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto e Erick Figueiredo, que presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no governo Bolsonaro. No entanto, dizem aliados, foram apenas sondagens iniciais, sem garantia de que esses nomes integrarão a equipe.

Governador planeja giro pelo País

Até o ano passado, a agenda de Caiado estava limitada a compromissos governamentais e convites para eventos. Agora, a estratégia é criar uma agenda nacional. Em entrevista ao jornal O estado de São Paulo, Rueda contou que o plano é iniciar as agendas nas capitais e em cidades com mais de 200 mil habitantes onde o partido tem prefeitos.

“É começar a fazer o dever a partir da nossa casa, criando um movimento político consistente. Por isso, vamos a Salvador, estou pedindo para ele ir a Natal, Teresina… E não tem como menosprezar os maiores colégios eleitorais, como Rio e Minas. Temos que ir para cima nesses Estados e construir uma base com personagens da política que comprem o trabalho do Caiado”, disse o dirigente nacional.

Rueda afirmou que o partido vai contratar pesquisas para nortear a estratégia eleitoral de Caiado, com a primeira delas, em nível nacional, prevista para este mês. O marqueteiro será contratado mais adiante.

“O que precisamos agora é fazer pesquisas e dar densidade eleitoral para o Caiado, divulgar as ideias dele, o que ele fez, para trazer tração para a campanha”, completou Rueda, que nega haver contradição entre a candidatura de Caiado e o fato de o União Brasil integrar o governo Lula. “Quem vive a política sabe que a construção dos ministérios foi uma condição particular. Estou muito tranquilo quanto a isso. Os dois ministros estão fazendo um trabalho importante”.

Nas próximas semanas, Caiado deve inaugurar um escritório na região central de São Paulo, onde pretende receber lideranças políticas e representantes de diversos setores, incluindo empresários e formadores de opinião.

Direita fragmentada e embate com Bolsonaro são desafios

Caiado tem afirmado que será candidato à Presidência independentemente da conjuntura, com ou sem o apoio de Bolsonaro. Em seu entorno, há o sentimento de que apenas a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) poderia mudar seus planos, mas publicamente o próprio Caiado descarta essa possibilidade. Entre seus correligionários, há quem acredite que o primeiro turno da eleição de 2026 funcionará como uma espécie de prévias da direita, com diferentes candidatos na disputa, sem um nome único de consenso, como alguns líderes partidários defendem.

Além do alto desconhecimento sobre seu nome, Caiado enfrenta o desafio de derrubar estereótipos criados em torno de sua imagem, principalmente a associação excessiva ao agronegócio. Segundo um assessor, que preferiu não se identificar, o governador precisa mostrar que não é um “jacu do mato”. Por isso, uma das frentes da comunicação será destacar sua formação médica e seu histórico como professor. Embora seja um candidato de direita, a campanha também buscará associá-lo a temas sociais, na tentativa de atrair eleitores mais ao centro.

Outros desafios incluem demover o cantor Gusttavo Lima, de quem é aliado, da candidatura presidencial e enfrentar a animosidade de Bolsonaro, que passou a fazer críticas públicas ao governador. Durante a última campanha eleitoral, Caiado e Bolsonaro travaram uma disputa acirrada na eleição de Goiânia, na qual o governador levou a melhor com a vitória de Sandro Mabel (União Brasil). Segundo pessoas próximas a Caiado, ele não pretende comprar a briga com o ex-presidente, mas também não deve buscar uma reconciliação. Os dois já se desentenderam em outras ocasiões, como quando Caiado criticou a postura de Bolsonaro na pandemia de covid-19.

No fim do ano passado, Caiado passou a ter uma preocupação jurídica: ele foi condenado pela Justiça Eleitoral de Goiás a oito anos de inelegibilidade por supostamente ter cometido abuso de poder político durante as eleições municipais ao usar a sede do Palácio das Esmeraldas para beneficiar o prefeito eleito de Goiânia – o que ele nega. Por se tratar de uma decisão de primeira instância, Caiado poderá recorrer ao colegiado do TRE-GO.

Enquanto lida com esses desafios, Caiado já planeja explorar vitrines de sua gestão em 2025. A alta aprovação em seu próprio estado é uma delas — na última pesquisa Quaest, Caiado aparece com 88% de aprovação. A segurança, que é uma das principais preocupações dos eleitores, deve ser a principal bandeira de sua campanha, assim como a educação. Em 2023, Goiás conquistou a melhor nota do país no ensino médio da rede estadual, segundo o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

Para o cientista político Renato Dorgan, especialista em pesquisas eleitorais e estratégia política e CEO do Instituto Travessia, Caiado desponta como uma opção interessante para o cenário presidencial por reunir atributos que permitem atrair um eleitor mais ao centro, e não só à direita. “Caiado tem um grande apelo no campo do desenvolvimento econômico e do agronegócio, com uma postura menos ideológica e distante da extrema direita. Ele representa um ‘azul clássico’, similar aos antigos candidatos do PSDB ou ao próprio FHC. Tem o perfil de um democrata, alguém com uma postura mais centralizada”, analisa Dorgan.

Apesar de considerar que o governador de Goiás parte de uma base eleitoral menor em comparação a nomes como Tarcísio de Freitas ou figuras ligadas à família Bolsonaro, Dorgan acredita que Caiado tem mais potencial para conquistar o voto de centro que foi decisivo para Lula em 2022. “Do ponto de vista do marketing político, é muito mais fácil de ser construído do que qualquer um desses outros candidatos. O próprio Tarcísio é muito preso ao estigma do bolsonarismo”, avalia.

Bianca Gomes/Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente esta matéria.