Falta de mão de obra preocupa varejo mais do que ameaça cibernética, diz pesquisa
A maior preocupação dos CEOs da indústria de varejo e bens de consumo no Brasil não está na concorrência asiática ou na inflação: é a falta de mão de obra qualificada, que aflige 41% dos presidentes de empresas do setor no país. Em comparação aos CEOs de outras empresas, esta é uma preocupação de 30% dos líderes.
Os dados são da 28ª Pesquisa Global com CEOs, realizada pela multinacional de consultoria e auditoria PwC, que ouviu mais de 4.700 executivos de diferentes setores, em mais de cem países, entre outubro e novembro do ano passado.
Segundo a empresa, os números globais e regionais do levantamento são ponderados de acordo com o PIB (Produto Interno Bruto) nominal dos países, para garantir que as opiniões dos CEOs sejam representadas de maneira equilibrada. O Brasil foi o segundo país com mais respondentes, depois dos Estados Unidos.
O levantamento fez um recorte especial para o setor de varejo e bens de consumo. No Brasil, depois dos problemas com pessoal, os presidentes do setor estão mais preocupados com riscos cibernéticos (31%), inflação (28%), instabilidade macroeconômica (26% das respostas) e mudanças climáticas (23%).
Já entre os presidentes dos demais setores no país, o “top five” das maiores preocupações se completa com instabilidade macroeconômica (27%), riscos cibernéticos (26%), inflação (24%) e disrupção tecnológica (24%) —neste último caso, relacionado ao uso da IA generativa.
“Foi a primeira vez que a falta de mão de obra liderou o ranking das ameaças do varejo”, diz Luciana Medeiros, sócia e líder da indústria de consumo e varejo da PwC Brasil. Na visão dos executivos, faltam profissionais capacitados para o setor, uma dificuldade que pode afetar diretamente a operação e o crescimento da companhia.
Curiosamente, outro levantamento feito pela PwC —”Mercado da Maioria”— feito há pouco mais de um ano com o Instituto Locomotiva, apontou que as classes C, D e E queriam consumir mais cursos, tanto de idiomas quanto de capacitação.
Os CEOs também estão aflitos quanto à necessidade de inovação. Para 33% dos líderes do varejo e consumo, as suas empresas não serão viáveis economicamente por mais de dez anos sem implementarem mudanças significativas. “É a necessidade de se reinventar batendo à porta”, diz Luciana. “Hoje este setor procura novos serviços e produtos, assim como novas maneiras de ter acesso ao consumidor.”
Nesse sentido, há um interesse em explorar o uso da inteligência artificial para ganhos de produtividade, em gestão do estoque e controle de pessoal, por exemplo. Segundo a pesquisa, 63% dos CEOs do setor relataram ganhos de eficiência com IA generativa no uso do tempo dos funcionários (frente a 52% dos CEOs de outros setores).
A exploração da base de dados dos clientes a partir da IA, a fim de gerar novas possibilidades de venda de produtos e serviços, foi apontada por 41% dos CEOs do setor. “Os executivos estão usando a tecnologia para conhecerem ainda mais os consumidores”, diz a executiva.
A confiança dos líderes do varejo na IA, por sinal, está muito acima da percepção dos CEOs de outros setores: 82% dos presidentes de empresas de varejo e consumo no Brasil planejam investir na integração da IA para desenvolvimento de competências e aprimorar a força de trabalho (substituindo contagens manuais e planilhas de Excel, por exemplo), frente a 46% da média nacional.
Entre as principais iniciativas de inovação, os líderes do varejo e consumo no Brasil procuraram desenvolver produtos ou serviços (41%), buscar uma nova base de clientes (36%), investir em novas estratégias de crescimento (36%) e implementar novos modelos de precificação (33%). Neste último quesito, destaca Luciana, o consumidor brasileiro quer transparência na precificação, para ter a certeza de que está pagando um preço justo, como já mostraram outras pesquisas da PwC.
Em relação às perspectivas econômicas, 62% dos CEOs do setor de consumo no Brasil esperam aceleração da economia local nos próximos 12 meses, abaixo da média nacional dos demais setores no país (73%). Ainda assim, a maioria destes CEOs (59%) pretende ampliar suas equipes em 12 meses, superando a média dos líderes dos outros setores (53%).
Apenas 15% dos líderes de varejo e consumo preveem desaceleração neste ano, percentual semelhante à média nacional (14%).
“Existe um cenário de otimismo cauteloso”, diz Luciana, ressaltando que, ainda assim, o Brasil se mostra mais otimista que o resto do mundo, onde 57% dos CEOs acreditam em aceleração dos negócios, 21% preveem estabilidade e, 22%, desaceleração.
Daniele Madureira, Folhapress
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