Governo vê possível seca crítica neste ano no pantanal e faz monitoramento da amazônia
Segundo integrantes da Esplanada, as informações reunidas ainda são preliminares e não é possível traçar um cenário para além de março —o pico da estiagem costuma vir depois disso.
De forma geral, segundo afirmaram sob reserva quatro membros do governo, há a expectativa de que o Brasil passe por um novo ano de seca forte em 2025. Talvez não tão grave quanto em 2024, mas, ainda assim, preocupante.
Um fator em especial eleva o risco: o acúmulo de duas temporadas consecutivas de seca no último biênio, o que é inédito na história recente do país.
Para compensar esse fato e reequilibrar o solo e a vegetação, seria necessário uma quantidade de umidade maior do que o normal —mas a projeção é que o La Niña (fenômeno que traz chuvas para parte do país) seja fraco.
Por outro lado, em 2025 o Brasil não deve sofrer os efeitos do El Niño (fenômeno inverso, que reduz a precipitação) e há a expectativa que as novas legislações criadas para enfrentamento da crise climática reduzam os impactos negativos da estiagem.
Além disso, o ano de 2024 foi o mais quente de toda a história, com recorde de seca e fogo, e a tendência é que a quantidade de ondas de calor que passam pelo país aumente.
“Não há indicadores de um cenário otimista, mas não dá para dizer que 2025 será pior ou igual que 2024”, diz o secretário de combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, André Lima.
“Não podemos dar uma perspectiva para todo ano, mas a situação para o verão é que ainda sofremos os impactos das secas de 2023 e 2024”, completa José Marengo, climatologista e coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
O cenário do país foi debatido nesta sexta-feira (24), em uma reunião organizada pelo Ministério do Meio Ambiente para tratar do cenário de seca, em especial no Norte e no Centro-Oeste.
Participaram a ministra Marina Silva e representantes da Casa Civil, do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), da ANA (Agência Nacional de Águas), entre outros órgãos do governo e de fora dele.
Desde os recordes de fogo de 2024, o Ciman (centro que coordena as operações de combate a incêndios florestais) se manteve mobilizado ininterruptamente —tradicionalmente ele só era acionado na época da seca.
O Comif (Comitê de Manejo do Fogo) prepara a regulamentação da lei do fogo e a construção de medidas obrigatórias, inclusive para fazendeiros, de prevenção a queimadas.
O Ibama assinou no início deste ano um novo contrato para ter sete novos helicópteros para combate a incêndios, e calcula um aumento de 40% na sua capacidade de ação.
Diante da imprevisibilidade dos fenômenos climáticos extremos, o objetivo é que reuniões como a que aconteceu nesta sexta se repitam mensalmente.
Em linhas gerais, o diagnóstico deste primeiro encontro do ano foi de que o cenário previsto para acontecer a partir de 2035 já se tornou realidade.
Os locais de maior atenção no início deste ano são Acre, Rondônia e oeste do Amazonas, estados do bioma amazônico, e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que compõem o pantanal.
Nesta segunda região, de acordo com integrantes da reunião, já se pode projetar uma situação crítica. Os índices pluviométricos ainda estão dentro da média —porém, na parte inferior desta faixa—, e a temporada de água atrasou para começar com relação ao que era esperado.
Além disso, as bacias hidrográficas da região não se recuperaram e já há projeção de que pode haver dificuldade de navegabilidade.
Segundo o Monitor de Secas, da ANA (Agência Nacional de Águas), Mato Grosso do Sul registrou seca grave em dezembro de 2023, situação pior do que a vivida um ano antes, de seca fraca.
Por outro lado, no último mês de 2024, Mato Grosso apresentou seca grave e moderada, cenário menos pior do que a seca extrema do período anterior.
O índice mais importante para prever a intensidade da estiagem na região para este ano será a cobertura de água na época das enchentes, entre março e abril.
Já na amazônia, integrantes do governo afirmam que ainda é difícil projetar a intensidade da seca.
Além de chuvas fracas, do La Niña, da ausência do El Niño e do acúmulo de secas, a temperatura das águas no oceano Atlântico Tropical nos próximos meses pode ser fundamental para definir a situação do bioma. Quando essa região tem temperaturas mais baixas, as correntes fazem com que a umidade chegue com mais intensidade ao norte da América do Sul, e contribuem para arrefecer a estiagem.
Mas o aumento do derretimento da calota aquece a região neste ano, e o impacto no Brasil pode ser o inverso: menos chuva e mais seca.
No Acre, por exemplo, o número de focos de incêndio para janeiro já é o mais alto da história (33, contra 24 que era o recorde anterior, de 2022).
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