Com Musk, EUA e imigração, extrema direita busca resultado histórico em eleição na Alemanha
Friedrich Merz caminha para ser o próximo primeiro-ministro da Alemanha. A liderança do conservador nas pesquisas, ainda que signifique uma guinada em diversos aspectos da política alemã, não supera o fato de que o mundo estará prestando mais atenção ao segundo lugar.
Neste domingo (23), na eleição parlamentar que define a 21ª legislatura do país no pós-guerra, a extrema direita deve alcançar seu melhor resultado em 90 anos.
Partido criado em 2013 para confrontar a condução econômica da Europa e que se degenerou rapidamente ao abraçar bandeiras populistas e xenófobas, a AfD (Alternativa para Alemanha) busca o resultado histórico com visibilidade quase planetária. Na esteira da vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, a legenda com integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo foi naturalizada por Elon Musk e incensada por diversos integrantes da “internacional reacionária”.
A expressão cunhada no mês passado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, reflete a preocupação da Europa democrática com o futuro político da Alemanha, sua maior economia, e com o do próprio continente. Em maior ou menor grau, a onda populista já prevalece em diversos países da União Europeia, como Itália, Holanda, Hungria e Áustria, mas alcançará novo patamar com uma presença forte no Bundestag, o Parlamento alemão.
Há bem mais em jogo do que o recrudescimento das políticas imigratórias ou recuos na questão ambiental, tão cara aos alemães. O discurso recente de J. D. Vance, vice-presidente americano, na Conferência de Segurança de Munique, chocou os europeus. Boris Pistorius, ministro alemão da Defesa, classificou a fala de Vance de inaceitável. “Ele compara a condição da Europa com o que está acontecendo em autocracias.”
Vance criticou o Brandmauer, ou firewall, a prática do campo democrático de isolar a extrema direita no Parlamento. Repetiu a cantilena de que a liberdade de expressão é confrontada pela rígida legislação digital da União Europeia. A inversão de papéis e prioridades se completou nos dias seguintes, quando Trump se aproximou de Vladimir Putin e chamou Volodimir Zelenski de ditador.
A Europa se vê agora entre concordar com a Rússia, sua maior ameaça existencial, ou encarar sozinha o apoio à Ucrânia em uma guerra que acontece em seu território.
O conflito e suas consequências consumiram a coalizão de governo montada em 2021 por Olaf Scholz, 66. A inédita elevação de gastos com defesa, para 2% do PIB, deprimiu uma economia já estagnada. A matriz energética dependente do gás russo teve que ser repensada às pressas e com alto custo. Uma austeridade excessiva, condicionada por um freio da dívida pública, versão local do teto de gastos, piorou o cenário. Foi uma discussão sobre o instrumento que pôs fim à coalizão e precipitou a eleição, antes prevista para setembro.
Os alemães vão às urnas preocupados com o bolso. Greves pipocam pelo país desde o fim do ano passado. Na última semana, repleta de visitantes para o Festival de Berlim de cinema, a capital alemã ficou dois dias sem ônibus e metrô.
Merz, 69, promete destravar a economia, investindo contra a burocracia e a regulamentação excessiva e promovendo a digitalização. Absorveu também o discurso linha-dura da extrema direita contra a imigração, como boa parte dos conservadores europeus. Nessa ofensiva, arranhou o firewall, ao propor uma legislação restritiva e aceitar votos da AfD. Centenas de milhares foram às ruas para criticá-lo.
O político da CDU afirma que nunca fará uma coalizão com a legenda extremista e que não reagir aos recentes episódios de violência protagonizados por imigrantes só fará aumentar o apoio à AfD. O último aconteceu na noite de sexta-feira (21) em Berlim. Um refugiado sírio esfaqueou um turista espanhol que visitava o Memorial do Holocausto. A polícia prendeu o suspeito e investiga suas motivações. O homem agredido foi operado e está fora de perigo.
Surfar a onda populista de uma crise imigratória não é apenas opção ideológica da extrema direita alemã, mas talvez seu único argumento. Na área econômica, por exemplo, as soluções da AfD são histéricas: a saída da Alemanha da União Europeia e a volta do marco alemão. O potencial de desastre fez empresas alemãs de grande porte deixarem de lado a tradicional isenção para se posicionar contra um governo populista.
A líder da AfD, Alice Weidel, 46, vinda do mercado financeiro, ainda fala em derrubar as torres eólicas do país. Sua excelente formação, fluente até em mandarim, não bate com a agenda do próprio partido. Assim como sua vida pessoal —é casada com uma cineasta nascida no Sri Lanka, enquanto a AfD defende o “casamento tradicional”.
Antes da atual campanha eleitoral, ela projetava seu partido no poder até 2029. Anabolizada por Musk, os EUA e a urgência da questão imigratória, agora prevê estar em uma coalizão de governo bem antes. “A AfD restará como sua única alternativa”, disse Weidel a Merz no último debate do atual Parlamento, há duas semanas.
O conservador repetiu que não governará com a oponente. “Vocês são tudo o que não somos.”
José Henrique Mariante/Folhapress
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