Extrema direita alemã obtém melhor resultado nas urnas desde fim da Segunda Guerra
Pesquisas de boca de urna apontam que o partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) foi o segundo mais votado nas eleições alemãs deste domingo (23), obtendo cerca de 20% dos votos —o melhor resultado para uma sigla deste campo político desde o fim do nazismo há 80 anos.
Trata-se de um acontecimento histórico, capaz até mesmo de ofuscar a vitória da CDU (União Democrata-Cristã), de centro-direita. Liderados por Friedrich Merz, provável futuro primeiro-ministro, a sigla obteve 28% dos votos, segundo levantamentos, se tornando o partido mais votado e obtendo, assim, preferência na formação de um futuro governo.
O SPD do atual premiê, Olaf Scholz, amargou seu pior resultado da história da Alemanha pós-guerra, caindo a 16%. Ainda não está claro se o social-democrata renunciará à Presidência de seu partido, como é comum em casos assim. Os Verdes obtiveram 12% dos votos e A Esquerda, 8%.
O SPD do atual premiê, Olaf Scholz, amargou seu pior resultado da história da Alemanha pós-guerra. Ainda não está claro se o social-democrata renunciará à Presidência de seu partido, como é comum em casos assim.
Em 2013, primeiro ano no qual concorreu ao Parlamento federal, a AfD obteve pouco menos de 5% dos votos. Em 2017, nas eleições seguintes, mais do que dobrou o desempenho anterior e alcançou 12%, resultado que não conseguiu repetir nas últimas eleições, marcadas por uma vitória expressiva do SPD de Scholz e nas quais a AfD obteve pouco mais de 10%. Agora, atinge um patamar inédito, com 20%.
Com o resultado, a AfD não apenas se consolida como força política relevante no país, mas também deve ganhar protagonismo na oposição: graças à estratégia dos partidos democráticos de se recusar a formar governo com os extremistas, a AfD quase certamente será a maior sigla no Parlamento fora do poder.
Após os resultados apontarem a vitória de seu partido, Merz repetiu a promessa de que não formará governo com a extrema direita. Ainda assim, a depender do grau de instabilidade do próximo governo alemão, é provável que a AfD angarie ainda mais apoio eleitoral até as próximas eleições, que podem ser antecipadas se houver crise na coalizão de turno.
Além disso, quanto maior a parcela do voto, mais difícil será para o campo democrático encontrar configurações que excluam a sigla. O resultado desse domingo, por exemplo, já abre à AfD a possibilidade de oferecer à CDU, como Weidel fez neste domingo, um acordo tácito de tolerar um governo de minoria caso os conservadores não consigam acordo com o SPD ou os Verdes. Isso daria aos extremistas grande poder de ditar os rumos do país mesmo tecnicamente fora das rédeas do Estado.
Esse cenário é improvável, visto que a CDU já governou com o SPD muitas vezes e poderia facilmente fazê-lo de novo, inclusive com apoio dos Verdes. Mas há complicações: alas da CDU se recusam a governar com o partido ambientalista, a quem consideram inimigos da indústria e do carro. E o próprio Scholz, neste domingo, aumentou o grau de incerteza ao dizer que não liderará seu partido e deixará a política se o SPD entrar em um governo liderado por Merz.
“Primeiro, é preciso dizer que esse é um sucesso histórico para nós”, disse Weidel à imprensa alemã no domingo. “Dobramos nosso resultado, mesmo quando queriam nos cortar pela metade. Nossa mão está estendida para compor o novo governo e fazer valer a vontade do povo, da Alemanha.”
Para acumular ganhos eleitorais tão expressivos ao longo dos anos, a AfD, que nasceu como um movimento contrário à União Europeia, investiu pesado na hostilidade a imigrantes como principal bandeira. A AfD explodiu em popularidade surfando em sentimentos anti-imigração após a crise migratória de 2015, quando 1 milhão de refugiados foram aceitos no país pelo governo Angela Merkel no contexto da guerra na Síria.
Entre eleições para o Parlamento federal em Berlim, a AfD passou a última década construindo uma fortaleza política nos estados que compunham a antiga Alemanha Oriental, chegando em 2024 a partido mais votado em um deles, a Turíngia. Especialistas apresentam diferentes explicações para o fenômeno, como a maior pobreza nesses estados, o menor contato das pessoas com imigrantes em seu dia a dia e até mesmo diferenças na reflexão sobre o passado nazista.
A AfD é monitorada nacionalmente pelo serviço de inteligência interno da Alemanha por conta de seu caráter radical, e seus diretórios na Turíngia, na Saxônia e na Saxônia-Anhalt são oficialmente considerados extremistas —ou seja, as autoridades alemãs consideram que seus objetivos políticos são incompatíveis com a democracia, o que pode abrir a porta para o banimento do partido.
Também por isso, até aqui, o tabu de ser o partido que permitiria a volta da extrema direita ao poder pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial parece manter o Brandmauer, ou firewall, contra a AfD de pé por enquanto —ainda mais em um momento no qual comparações entre 2025 e 1933, ano no qual Adolf Hitler chegou ao poder, ganham força.
Isso se deve principalmente ao candidato da CDU, Friedrich Merz. Semanas antes da votação, ele orientou seu partido no Parlamento a aprovar uma lei, com o apoio da AfD, restringindo a imigração na Alemanha —na votação seguinte, graças à oposição de alguns poucos parlamentares da CDU, a proposta foi derrotada, mas foi a primeira vez na história moderna da Alemanha que a centro-direita colaborou com a extrema direita.
O caso que acendeu alertas (ou, no caso dos extremistas, alimentou esperanças) para a possibilidade de um governo formado pela CDU e pela AfD, que teria, com os resultados do domingo, ampla maioria no Parlamento.
Victor Lacombe/Folhapress
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