Na Ucrânia, civis e militares já se preparam para próxima guerra contra a Rússia

Condições para acordo pelo fim do conflito, como cessão de territórios, não serão aceitas por ucranianos
A invasão russa à Ucrânia, que completou três anos, continua em andamento, mas Vladislav Chumachenko, um assistente médico na linha de frente do conflito, já antecipa a próxima guerra. O homem de 39 anos tem claro que, se as conversas entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, levarem ao fim do combate, as condições seriam inaceitáveis para o país.



Entre as condições inaceitáveis apontada por Chumachenko estaria a cessão obrigatória de alguma parte do território ucraniano para a Rússia. Uma possibilidade real, dada a recente retórica pró-Kremlin de Trump.

— Para nós, é óbvio que não ficaremos felizes com qualquer resultado dessas negociações —declarou à AFP. — A única coisa que podemos fazer é continuar nosso trabalho. E nos preparar a próxima etapa do conflito.

Sua esposa, Anastasia Chumachenko, que dirige com ele a ONG Medicina Tática Norte, diz que a Rússia não vai parar por um acordo.

— Eles vão tentar atacar novamente, temos que estar preparados — afirmou.

Vladislav sabe que não tem qualquer poder de impedir a próxima “ideia louca” que Putin ou Trump possam ter sobre a Ucrânia, mas ele pode se preparar. Diante disso, o casal recomendou aos seus voluntários que fiquem vigilantes no caso de um acordo.

Após três anos de guerra brutal, dois deles decidiram parar, exaustos, mas os outros devem se preparar para “a próxima fase do conflito”, segundo Vladislav.

Seu veículo foi recentemente atingido por um tanque russo quando transportavam um soldado ferido na linha de frente.

Questão de tempo

Eles também deram treinamento médico aos soldados, o que deverá continuar mesmo que as hostilidades cessem, garantiu Vladislav.

— A história ensina que, nessa parte do mundo, nenhuma pausa é permanente — explicou.

Ele diz que alguns soldados ucranianos desejam voltar à vida civil, mas outros não querem retornar para casa para “colher batatas”.

Antes da invasão russa em fevereiro de 2022, o casal tinha uma academia de escalada e cuidava de sua filha de 9 anos. A menina agora vive com os avós, e os pais a veem apenas alguns dias por mês.

Anastasia, vestindo um boné caqui, considera “importante” que sua filha permaneça na Ucrânia e aprenda a entender a guerra, que pode voltar ao longo da vida da menina.

— Certamente acontecerá, é só questão de tempo — afirma Anastasia.

Nada a perder

Oleksandr, comandante de uma unidade militar na 93ª brigada, é um dos que permanecerão com o uniforme, aconteça o que acontecer. Em uma sala abafada e iluminadas com luzes rosas, ele e outros soldados levantam pesos para passar o tempo.

— Aqui estou no meu elemento — comentou à AFP, referindo-se à sua vida militar na linha de frente.

Oleksandr diz que ficará no leste da Ucrânia para estar “pronto” caso o combate recomece depois que um acordo de paz seja alcançado.

— Fomos enganados uma vez, mas não permitiremos uma segunda vez — afirmou, referindo-se aos oito anos que se passaram entre o conflito iniciado em 2014 por separatistas pró-Rússia e a invasão russa de 2022.

Oleksandr acredita que seria um grande erro a Ucrânia ceder território, como as cinco regiões que a Rússia afirma ter anexado e, controla parcialmente, incluindo a Crimeia, tomada em 2014.

— Os rapazes que lutam pela nossa terra (…) não ouvirão (o presidente Volodymyr) Zelensky (se ele aceitar essas condições) e continuaremos pressionando — declarou.

Alguns soldados perderam suas casas, suas famílias e não têm mais nada a perder, explicou.

— Eles irão até o fim, e eu os apoio. E talvez eu mesmo seja um deles, quem sabe? — disse. Por AFP

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