Mourão diz que Lula quer alimentar crise com Exército ao demitir comandante
Mourão diz que Lula quer alimentar crise com Exército ao demitir comandante |
Lula demitiu o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, em meio a uma crise de confiança aberta após os ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília. A decisão foi comunicada ao militar neste sábado (21).
De acordo com relatos de aliados de Lula e generais ouvidos pela reportagem, o principal motivo da exoneração foi Arruda ter resistido ao pedido do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, de que o tenente-coronel Mauro Cid fosse retirado do comando de um batalhão do Exército em Goiânia (GO).
“Se o motivo foi tentativa de pedir a cabeça de algum militar, sem que houvesse investigação, mostra que o governo realmente quer alimentar uma crise com as Forças e em particular com o Exército. Isso aí é péssimo para o país”, disse Mourão à reportagem.
Cid foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e entrou na mira da PF (Polícia Federal) após serem identificadas transações suspeitas no gabinete do mandatário.
Na sexta-feira (20), após o portal Metrópoles também noticiar o caso, Lula ordenou a Múcio que Cid fosse retirado da função de comando. O ministro da Defesa conversou com Arruda durante a noite e ele, segundo relatos, resistiu à ordem.
Pesou ainda na decisão, segundo aliados de Lula, a crise dos acampamentos golpistas em frente ao QG do Exército. O ponto alto foi o veto que Arruda e o comandante Militar do Planalto, general Gustavo Dutra, deram à retirada dos bolsonaristas extremistas no quartel na noite de 8 de janeiro.
O novo chefe da Força é o atual comandante militar do Sudeste (responsável por São Paulo), general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Nesta semana, ele havia feito um discurso incisivo de defesa da institucionalidade, pedindo o respeito ao resultado das eleições e afirmando o Exército como apolítico e apartidário.
Thaísa Oliveira/Folhapress
Vem ai o novo Mercadão do Bairro, na Rua Walter Hohlenwerger, 184 antiga Rua da Batateira
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General demitido reúne Alto Comando e não deixa claro motivo da decisão de Lula
O comandante do Exército, Júlio César de Arruda |
Três generais que participaram da reunião virtual afirmaram à reportagem que Arruda não deixou claro qual teria sido a principal motivação para sua demissão.
Ele disse, segundo os relatos, que, na sexta-feira (20), passou horas junto com Lula em reunião que foi considerada produtiva sobre investimentos em projetos estratégicos na área da defesa.
Arruda ainda afirmou que, na sexta, não chegou a ser questionado pelo presidente sobre os motivos que poderia ter levado à sua demissão. Ele atribuiu a decisão às críticas que o Exército tem recebido por uma suposta leniência com atos golpistas, que culminaram com o ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
A reportagem apurou, no entanto, que o principal desconforto de Lula se deu com a notícia de que o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seria investigado por movimentações suspeitas feitas a pedido do mandatário.
O caso foi revelado em setembro. A Polícia Federal encontrou no telefone do principal ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) mensagens que levantaram suspeitas de investigadores sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados por Cid com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro.
Segundo pessoas próximas a Lula, o presidente teria ficado irritado com o fato de Cid ter sido escolhido para comandar um batalhão do Exército em Goiânia.
Arruda, segundo fontes do Palácio, havia se recusado a exonerar Cid do cargo para o qual foi colocado ainda no fim de 2022, quando o general Freire Gomes comandava a Força.
Na noite de sexta-feira, após a reportagem do Metrópoles, Lula teria pedido que o tenente-coronel fosse exonerado. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, chegou a se reunir com Arruda para discutir a situação.
Diante da resistência, Arruda acabou demitido. O general Tomás Paiva, escolhido para assumir o comando do Exército, embarcou rumo a Brasília na tarde deste sábado para se reunir com Múcio.
Generais ouvidos pela reportagem afirmaram que a demissão foi uma surpresa para o Alto Comando do Exército, já que, apesar das insatisfações verbalizadas por Lula após o 8 de janeiro, havia uma impressão de que a crise havia sido revertida por Múcio e os comandantes militares.
Na quarta-feira (18), Arruda havia promovido uma reunião com o Alto Comando da Força para discutir a atual situação do Exército. Foi o primeiro encontro entre todos os generais quatro estrelas após os ataques de 8 de janeiro.
Na conversa, o comandante falou sobre a importância de manter a hierarquia, a disciplina e o controle das tropas. Ele disse que há cobranças para que as Forças Armadas sejam despolitizadas.
Na reunião, a maioria dos generais afirmou que não há politização do Exército, que as tropas seguem controladas e que militares da reserva mancharam a imagem da Força com declarações públicas em tom golpista e contra Lula.
Segundo relatos de generais que participaram da reunião, foi repassada também a ordem para que militares que tivessem participado dos atos de 8 de janeiro fossem identificados e punidos.
Tratava-se de um esforço dos comandos das Forças Armadas para mostrar ao Palácio do Planalto que não haveria complacência com o golpismo entre os militares, no que foi chamado de fim do “precedente Pazuello”.
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Cézar Feitoza/Victoria Azevedo/Catia Seabra/Idiana Tomazelli/Folhapress
Novo comandante do Exército, Tomás Paiva, é visto com maior traquejo político
O novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva |
Atual comandante militar do Sudeste (responsável por São Paulo), ele chegou em 2019 ao posto de general de Exército, o mais alto da carreira, passando a integrar o Alto Comando da Força.
Tomás Paiva está na linha sucessória natural, sendo o mais antigo detentor de quatro estrelas do Alto-Comando, ao lado de Valério Strumpf.
Em 2022, quando havia tentativas de contato com o Exército por parte de petistas, que então lideravam a corrida presidencial com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o nome de Tómaz era citado nos bastidores como uma das possíveis pontes.
Nesta semana, Tomás havia feito um discurso incisivo de defesa da institucionalidade, pedindo o respeito ao resultado das eleições e afirmando o Exército como apolítico e apartidário. Tudo isso em meio ao impacto dos ataques golpistas de 8 de janeiro.
Tomás, como é chamado, já havia sido cotado para o cargo, mas alguns petistas temiam que sua grande capacidade de articulação o tornasse numa força independente, assim como Eduardo Villas Bôas foi quando escolhido por Dilma Rousseff (PT) no fim de 2014 —o ex-comandante foi o artífice da volta dos fardados à política.
Tomás foi chefe de gabinete de Villas Bôas.
Neste sábado (21), Lula demitiu o comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, do posto de comandante do Exército em meio a uma crise de confiança aberta após os ataques do dia 8 de janeiro, em Brasília.
Em discurso na quarta-feira (18) durante uma cerimônia no QGI (Quartel-General Integrado), em São Paulo, o novo comandante do Exército disse que o resultado das urnas deve ser respeitado, independentemente do presidente exercendo o mandato.
Sem citar o nome de Lula, o comandante afirmou que “não interessa quem está no comando, a gente vai cumprir a missão do mesmo jeito”. Disse também que ainda que houvesse um “turbilhão, terremotos, tsunamis”, continuarão coesos, respeitosos e garantindo a democracia.
Em outro trecho, afirmou: “Quando a gente vota, tem que respeitar o resultado da urna. Não interessa. Tem que respeitar. É isso que se faz. Essa é a convicção que a gente tem que ter. Mesmo que a gente não goste”, afirmou. “Nem sempre a gente gosta. Nem sempre é o que a gente queria. Não interessa. Esse é o papel de quem é instituição de Estado. Instituição que respeita os valores da pátria, como de Estado”.
Entre outras atuações no Exército, Tomás foi também subcomandante da Minustah (Missão de Estabilização da ONU, no Haiti).
Cézar Feitoza/Ranier Bragon/Folhapress
Lula demite comandante do Exército após crise de confiança
O comandante do Exército, Júlio Cesar de Arruda |
O novo chefe da Força é o atual comandante militar do Sudeste (responsável por São Paulo), general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Nesta semana, ele havia feito um discurso incisivo de defesa da institucionalidade, pedindo o respeito ao resultado das eleições e afirmando o Exército como apolítico e apartidário.
Tomás, como é chamado, já havia sido cotado para o cargo, mas alguns petistas temiam que sua grande capacidade de articulação o tornassem numa força independente, assim como Eduardo Villas Bôas foi quando escolhido por Dilma Rousseff (PT) no fim de 2014 —o ex-comandante foi o artífice da volta dos fardados à política.
Além disso, o general está na linha sucessória natural, sendo o mais antigo detentor de quatro estrelas do Alto-Comando, ao lado de Valério Strumpf.
Arruda tinha sido nomeado para o comando da Força em 28 de dezembro, antes da posse de Lula como presidente. Ele havia sido escolhido por critério de antiguidade pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Segundo auxiliares do presidente, a decisão foi tomada porque Arruda não demonstrou disposição de tomar providências imediatas para reduzir as desconfianças de Lula em relação a militares do Exército após a invasão do Palácio do Planalto e das sedes do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso.
A demissão tem potencial para agravar as tensões entre Lula e o comando das Forças Armadas. Os governistas afirmam, no entanto, que a saída de Arruda é necessária para que Lula exercesse sua autoridade como presidente.
Depois dos ataques à praça dos Três Poderes, Lula manifestou publicamente sua desconfiança em relação às Forças Armadas, em críticas direcionadas especificamente ao Exército.
No dia 12, ele afirmou que “muita gente das Forças Armadas” dentro do Palácio do Planalto foi conivente com a invasão. “Estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não vi a porta de entrada quebrada”, disse. As declarações de Lula provocaram reações negativas dentro da Força.
O Alto-Comando do Exército, formado pelos generais do topo de carreira, se reuniu neste sábado para discutir a demissão.
Lula cumpre agenda neste sábado em Roraima para anunciar ações contra uma crise de saúde em terras yanomamis. Ele deve retornar a Brasília no fim do dia.
Na sexta-feira (20), o presidente se reuniu com Arruda e os comandantes da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno. O encontro foi articulado por Múcio como uma maneira de reduzir as tensões deste início de governo.
A reunião, no entanto, não foi suficiente para “virar a página” na relação, como pretendia o ministro da Defesa. A conversa se concentrou em projetos estratégicos e planos de investimentos das Forças Armadas. Dirigentes da Federação das Indústrias do Estado do de São Paulo foram chamados por Lula para participar do encontro.
Nos dias que antecederam a reunião, Lula disse a auxiliares que esperava uma providência enérgica contra os militares que teriam sido coniventes com o ataque à praça dos Três Poderes, no dia 8. A sinalização incluiria uma punição aplicada a esses indivíduos pelas próprias Forças Armadas.
Um dos focos mais vivos de tensão era a chefia do Batalhão da Guarda Presidencial, responsável pela segurança do Palácio do Planalto. Lula exigiu a troca do comandante da tropa, mas o Exército defendeu afastá-lo só depois de uma investigação que pudesse comprovar que ele teria facilitado a invasão do prédio.
O governo também exige uma mudança clara de posição dos militares diante de eventuais ameaças de protestos em frente aos quartéis. Neste ponto, há sinais de convergência: a determinação dos militares é impedir novas ocupações.
Aliados de Lula que fazem uma ponte com os militares afirmam que o novo governo conseguiu melhorar as relações com a Marinha e a Aeronáutica. O Exército, por outro lado, era visto como um problema —o que ficou marcado com a demissão de Arruda.
Bruno Boghossian/Igor Gielow/Folhapress
Justiça amplia a R$ 18,5 mi bloqueio de bens de suspeitos de atos golpistas no DF
Estragos dos ataques golpistas aos prédios dos três Poderes |
A decisão assinada na sexta-feira (20) atende a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União) e considera novos cálculos sobre os danos causados pelos bolsonaristas em prédios públicos da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A Justiça havia bloqueado R$ 6,5 milhões, no último dia 12, em bens e direitos de pessoas, entidades e empresas que teriam envolvimento com os ataques golpistas. A medida é uma forma de tentar garantir recursos para reformar os prédios do Congresso, Planalto e STF (Supremo Tribunal Federal).
A primeira decisão era baseada em estimativa de prejuízo aos prédios da Câmara e do Senado.
O cálculo sobre o dano total ainda está sendo afinado, mas a AGU citou agora que a Câmara aponta um valor de R$ 1,1 milhão em estragos, ainda sem considerar o custo para restaurar obras de arte.
No Planalto, são estimados danos de R$ 7,9 milhões.
Já no STF, a ação dos bolsonaristas causou prejuízo de ao menos R$ 5,92 milhões. Ao pedir a ampliação do bloqueio, a AGU afirmou que a estimativa de dano aos prédios públicos está subdimensionada.
Na decisão de sexta-feira (20), o juiz federal Francisco Alexandre Ribeiro afirmou que os bloqueios tem como objetivo “assegurar o ressarcimento dos milionários danos patrimoniais causados ao erário público”.
Alguns dos réus que tiveram bens bloqueados teriam financiado o transporte de bolsonaristas a Brasília.
“Os réus tiveram papel decisivo no desenrolar fático ocorrido no último dia 8 de janeiro de 2023 e, portanto, devem responder pelos danos causados ao patrimônio público federal e derivados desses atos”, afirmou a AGU no primeiro pedido feito à Justiça para bloqueio dos bens.
“A gravidade dos fatos praticados e nos quais os réus se envolveram, que, mais que lesar o patrimônio público federal, implicaram ameaça real ao regime democrático brasileiro, impõe uma resposta célere e efetiva”, acrescentou.
Mateus Vargas/Folhapress
Lula testa limites em relação inédita com BC autônomo
O incômodo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros com o patamar elevado dos juros no Brasil tem levado a nova administração a elevar a pressão sobre o Banco Central. Os limites da relação são testados no inédito cenário de uma autoridade monetária comandada por nomes não indicados pelo novo governo, e com autonomia para suas funções.
Do outro lado, o BC tem alertado para problemas que a expansão de gastos pode gerar sobre a inflação, especialmente diante das maiores despesas em 2023 e da elevada incerteza sobre a regra que substituirá o teto de gastos –a qual será proposta até abril, de acordo com a previsão do governo.
A troca de recados entre Lula, os integrantes do primeiro escalão e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ganhou temperatura na última semana e explicitou as divergências.
O presidente veio a público nos últimos dias criticar a atuação da autoridade monetária, dizer que a autonomia da autarquia é uma bobagem e classificar a atual meta de inflação como exagerada.
“É uma bobagem achar que o presidente de um BC independente vai fazer mais do que fez o BC quando o presidente [da República] era quem indicava”, afirmou. “Por que, com o BC independente, a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está?”.
A tensão ocorre porque esta é a primeira vez que a autonomia do BC é testada em face de um governo que não indicou os diretores. Até 2024, Lula terá de conviver com o titular da autarquia indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Campos Neto, que está no comando do BC desde 2019, se comprometeu a ficar no cargo até o fim do mandato e antecipou que não tem interesse em um segundo.
Em vigor desde fevereiro de 2021, no governo Bolsonaro, a lei de autonomia determina mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores do BC, que podem ser renovados apenas uma vez e não são coincidentes com o do presidente da República. A medida busca reduzir a ingerência política sobre a instituição.
“Vamos vivenciar pela primeira vez um ano em que teremos um novo governo junto com um presidente de BC indicado pelo anterior. Então, teremos um período de adaptação no qual qualquer movimentação pode querer ser sinalizada como algum tipo de recado ou divergência”, diz Carla Beni, professora de MBAs da FGV (Fundação Getulio Vargas).
As declarações recentes do petista representaram uma escalada no tom contra o BC, geraram estresse ao pressionar os juros negociados pelo mercado e obrigaram o próprio governo a vir a público ajustar o discurso. Coube ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) dizer que o presidente não vai agir contra a autonomia da autoridade monetária.
A postura de Lula, no entanto, não é isolada no governo, e o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tem feito pressão sobre a autarquia com queixas ao patamar dos juros. Para ele, o país vive uma “situação anômala”, com “uma inflação comparativamente baixa e uma taxa de juro real fora de propósito para uma economia que já vem se desacelerando”.
Em entrevista a jornalistas no último dia 12, acrescentou que esse é um “jogo” que o governo está “aprendendo a fazer”. “Antigamente não existia independência do BC, agora existe, precisamos entender”, afirmou Haddad após apresentar um pacote de medidas para melhorar as contas públicas, que classificou como uma “carta para o BC”.
“Vamos [Ministério da Fazenda e BC] trocando cartas até o dia em que a gente celebra um entendimento maior”, disse. O comentário foi feito poucos dias após o BC enviar uma carta a Haddad justificando o estouro da meta de inflação e dizendo que acompanha com especial atenção a política do governo para a área fiscal.
Apesar do tom, o titular da pasta destacou que respeita a independência da autarquia. “Eu não tenho de estar satisfeito ou insatisfeito com o BC, tenho de respeitar a institucionalidade, respeitar a independência que foi aprovada e buscar os caminhos para harmonizar as políticas”, afirmou.
Para Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper e colunista da Folha de S.Paulo, Haddad está “ultrapassando o limite de suas prerrogativas e, repetidas vezes, buscando, por meio de falas públicas, intimidar o Banco Central de forma a induzir decisões relativas à política monetária”.
Ele destaca que “cabe ao ministro da Fazenda cuidar das questões fiscais sem criar ruídos ou conflitos políticos com o BC”, que, na visão dele, está atuando dentro de suas competências. “Não vejo o presidente ou os diretores do BC se pronunciando fora dos documentos oficiais sobre política fiscal ou qualquer outra coisa fora de sua alçada”.
Já Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC, vê uma convergência de interesses depois de Haddad ter declarado que as políticas fiscal e monetária precisam atuar em harmonia. “Tem muitas coisas em aberto, mas não me parece que tenha um curto-circuito”, diz.
O presidente do conselho da Jive Investments ressalta que o ministro iniciou sua gestão em uma situação de fragilidade diante das declarações de Lula sobre a existência de um conflito entre responsabilidade fiscal e social, recebidas de forma negativa pelo mercado.
“Haddad tem de falar e fazer coisas que tragam sensação de estabilidade à frente. Ele está fazendo corretamente, é melhor falar mais do que falar menos, mas não adianta falar para um lado e fazer para outro”, afirma.
Ex-diretor do BC, Tony Volpon pondera que o ideal seria o ministro da Fazenda não entrar em discussões sobre nível de juros, citando os Estados Unidos como exemplo. No entanto, reconhece que, no caso brasileiro, há um trabalho de adaptação por parte “de um governo de esquerda à ideia de ter um Banco Central independente”.
Para o economista, a tensão entre governo e BC pode se acirrar nos próximos meses se houver frustração com relação ao nível de atividade econômica. Se o cenário de desaceleração esperado pelo mercado se confirmar, ele projeta como alternativa “boa” o governo rever suas perspectivas e trabalhar para dar ao BC condições de reduzir os juros de forma responsável.
Já a alternativa “ruim”, na opinião dele, seria o governo culpabilizar a autoridade monetária, falar em mudar a meta de inflação e “querer mexer na política monetária em função de uma frustração com o crescimento econômico e o resultado da sua política fiscal”.
“Acredito que isso foi grande parte do desastre do governo Dilma [Rousseff] na área econômica. A Dilma se frustrou com o crescimento em 2011 e começou a mexer em um monte de coisas, inclusive fez uma interferência velada no Banco Central em 2012. A partir daí teve toda a sequência de eventos que levou à recessão de 2014 a 2016”, afirma.
Apesar da conjectura, ele não vê isso como uma “briga contratada”. “Por enquanto dá para ficar nesse jogo mais amigável”, acrescenta.
Na quinta-feira (19), Campos Neto relativizou as críticas feitas por Lula à autonomia formal do BC, argumentando que informações são retiradas de contexto em algumas entrevistas e colocando as declarações do presidente em perspectiva.
“Acho que ele [Lula] quis dizer ‘eu não acho que precisamos ter a independência na lei, pode ter a independência sem a lei e fazer as coisas funcionarem’”, disse o presidente do BC em evento na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).
“Mas quando você pensa no que está acontecendo no Brasil e quão difícil foi o processo da eleição no Brasil, acho que o mercado estaria bem mais volátil se o BC não tivesse a autonomia na lei. Seria outro elemento de incerteza”.
Nathalia Garcia/Folhapress
Baterias antiaéreas no centro de Moscou assustam moradores
Bateria antiaérea Pantsir-S1 usada para proteger o estádio de São Petersburgo na Copa de 2018 |
Tudo começou com a circulação de uma fotografia de uma bateria de curto alcance Pantsir-S1 em cima do enorme prédio do Ministério da Defesa, que fica a 3,5 km a sudoeste do Kremlin, na margem oposta do rio Moscou ao famoso parque Górki.
Depois, um vídeo captou outro Pantsir sendo içado para o topo de um prédio do Ministério da Educação a cerca de 5 km a leste, no distrito de Taganski. A partir daí, pululam imagens do sistema de armas em outros pontos em torno de Moscou, como a cerca de 10 km da residência oficial de Putin, em Novo-Ogariovo.
“Dá medo, isso me lembra as histórias da minha avó na Segunda Guerra Mundial, quando havia baterias nos telhados”, disse por WhatsApp o jornalista Mikhail, que pediu para não ter o sobrenome divulgado. Ele mora perto de Taganski, e sua formação militar o faz especular que a posição daquela bateria em especial visa cobrir a aproximação a leste do Kremlin.
De fato, olhando o raio de alcance das duas baterias, a sede do governo russo fica na intersecção das áreas de coberturas dos Pantsir.
“Ninguém fala nada, isso é mau sinal, ainda mais depois do que aconteceu em Engels”, continuou, em referência aos ataques com drones de longa distância de origem soviética que Kiev promoveu contra a base aérea homônima, a 800 km da fronteira ucraniana. Houve também um ataque a meros 180 km de Moscou, que por sua vez fica a 450 km do país vizinho, dentro do raio de alcance das antigas armas ucranianas (1.000 km).
Na sexta (20), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, foi instado por repórteres a explicar o que estava acontecendo. Não o fez, dizendo que assuntos de defesa deveriam ser discutidos com o ministério, que por sua vez não fez comentários.
Os Pantsir-S1 são sistemas de curto alcance e baixo altitude, a última das três camadas do sistema de defesa antiaérea russo: na longa distância estão o S-300, o S-400 e o novo S-500, enquanto na intermediária são empregadas baterias como a Tor-M1 e a Buk, entre outros modelos.
Moscou já era protegida por sistemas de longa distância, segundo analistas militares, mas a introdução dessas baterias, que protegeram estádios na Copa-2018, sugere a preocupação justamente com drones, menores e de mais difícil interceptação. O Pantsir-S1 teve um desempenho sofrível contra drones suicidas na guerra civil da Síria, mas desde então foram atualizados com novos radares e parecem ter sucesso na Ucrânia, onde estão sendo operados.
Eles atacam seus alvos com mísseis que têm alcance de 18 km de distância e 15 km, de altitude. Caso um drone ou míssil de cruzeiro escape, ele ainda conta com dois canhões de curtíssimo alcance para tentar abatê-los.
Alguns observadores pró-Kremlin parecem conformados com o sinal de insucesso militar que as baterias implicam. “Isso significa que [o governo] entende perfeitamente os riscos e entende que ataques contra Moscou e outras regiões são uma questão de tempo”, escreveu o jornalista especializado em assuntos militares Alexander Kots, alinhado a Putin. “É bom começar a planejar antes do que depois de um primeiro ataque”.
Seu colega de profissão Mikhail vê de outra forma a questão. “Se a guerra chegar a Moscou, será um enorme fracasso para Putin, ficará difícil de esconder o problema”, afirma. No fim de outubro, haviam pouquíssimas referências ao conflito iniciado em fevereiro passado pelas ruas da cidade, uma política deliberada do Kremlin.
Igor Gielow/Folhapress
PF prende homem que ameaçou Lula em redes sociais
A Polícia Federal de Roraima prendeu um homem em flagrante na noite de sexta-feira (20), em Boa Vista, suspeito de incentivar a violência contra o presidente da República. O homem teria comentado em uma publicação sobre a visita de Lula ao estado de Roraima, neste sábado (21), que ‘seria a hora de colocar a bala na cabeça dele’.
Segundo nota divulgada pela PF-RR o suspeito foi encaminhado ao sistema prisional onde ficará à disposição da Justiça.
O presidente Lula (PT) divulgou, na tarde de sexta-feira (20) em suas redes sociais, que viaja a Roraima (no sábado) para oferecer o suporte do governo federal e dos ministros, para pela garantia da vida de crianças Yanomami. No post, o presidente diz que recebeu informações sobre “a absurda situação de desnutrição das crianças Yanomami em Roraima”.
Bernadete Druzian/Folhapress
Governo do Estado prevê entrega de mais 104 mercados municipais requalificados ou construídos
Mercado muncipal |
Os mercados municipais, centros comerciais e feiras livres são importantes pontos de comercialização da produção rural. Lá, estão reunidos comerciantes e produtores das sedes dos municípios, comunidades rurais e povoados.
Nos últimos anos, a CAR celebrou convênios com associações, cooperativas, consórcios e prefeituras como forma de incentivo e fomento à agricultura familiar, gerando renda em diversos municípios do interior da Bahia.
Para o diretor-presidente da CAR, Jeandro Ribeiro, os mercados municipais são, de fato, locais onde a agricultura familiar e a população da cidade se encontram. “É um momento em que a agricultura familiar consegue comercializar seus produtos, mas também onde os consumidores adquirem o produto sabendo sua origem. Entendendo que essa é uma ação estruturante, o Governo da Bahia, por meio da CAR, vem requalificando os mercados, onde estamos oportunizando a esses públicos um espaço de identidade, com condições sanitárias. É o shopping aberto dos pequenos municípios”.
Em Poções, por exemplo, o Centro Comercial Monsenhor Honorato, entregue em outubro de 2022, é motivo de orgulho para as 40 famílias de feirantes que vendem alimentos, roupas, utensílios de casa, eletrônicos, entre outros. O espaço atende à população do município estimada em 46.900 habitantes.
Os próximos municípios que irão contar com mercados novos ou requalificados são Amargosa, Andorinha, Camacã, Caldeirão Grande, Cristópolis, Guarantinga, Rafael Jambeiro, Gandu, Retirolândia e Várzea da Roça, entre outros.
Fila para tirar visto americano em São Paulo cresce e supera 500 dias
Passaporte |
Os números representam uma pequena variação, para cima, em relação ao que era observado no final de dezembro, quando brasileiros em São Paulo precisavam esperar 491 dias para emitir os papéis pela primeira vez e um mês para renová-los.
É possível consultar o tempo de espera para vários tipos de visto, nos diferentes consulados dos EUA no país, no site do Departamento de Estado. Os de turismo são os B1/B2.
O escritório em São Paulo é o que tem as filas mais longas no Brasil atualmente. Em Brasília, os que querem tirar visto pela primeira vez devem esperar 434 dias e os que precisam de renovação, 20 dias. No Rio de Janeiro, são 429 e 20 dias, respectivamente; no Recife, 361 e 3. O consulado em Porto Alegre tem o menor tempo de espera para a primeira emissão: 301 dias; para renovação, 22.
Esse tempo de agendamento começou a aumentar de forma mais acentuada como efeito direto da Covid-19, que impactou o funcionamento das missões diplomáticas. No período de restrições mais severas, os EUA deixaram de emitir autorizações de entrada não emergenciais para estrangeiros.
“Desde a retomada pós-pandemia do processamento regular de vistos, a embaixada e os consulados no Brasil têm trabalhado ativamente para contratar e treinar funcionários adicionais”, afirmou o Departamento de Estado, em nota.
O órgão aumentou o número de horas e dias de atendimentos para dar conta da demanda represada, além de ter ampliado o prazo de renovação para 48 meses. Nesses casos, o solicitante que tem um visto vencido há menos de quatro anos não precisa fazer uma nova entrevista.
Por isso o prazo para a renovação é mais rápido, com o agendamento marcado para a entrega dos documentos no Centro de Atendimento ao Solicitante de Visto (Casv). A devolução do passaporte com o documento após o trâmite, porém, pode levar algumas semanas —então, é preciso se programar antes de marcar a viagem.
“Como resultado, em novembro de 2022, a embaixada e os consulados dos EUA emitiram em todo o país 66% mais vistos de turistas e negócios do que no mesmo período pré-pandemia. A embaixada e os consulados no Brasil estão em segundo lugar entre os países que mais receberam solicitações de visto no mundo em 2022”.
Apesar do longo tempo de espera, a entidade diz que esses números são dinâmicos e que muitos turistas conseguem adiantar a data das entrevistas, sem custo adicional, devido a cancelamentos de outros solicitantes e a abertura de novos horários de atendimento.
Além disso, é possível pedir a antecipação da entrevista em casos emergenciais, como morte de parentes imediatos e tratamentos médicos. Para fazer esse tipo de solicitação é preciso agendar para a data mais próxima disponível, clicar em “Continuar” e, em seguida, em “Request Expedite”.
A partir do momento em que as taxas são pagas, o cidadão tem até 365 dias para agendar uma entrevista —que não precisa ocorrer nesse prazo de um ano. Uma vez agendada, o pagamento permanecerá válido até a data da entrevista.
Daniela Arcanjo/Folhapress
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