Internacional sagrou-se campeão do Campeonato da Cidade de Ipiaú

A Prefeitura de Ipiaú realizou na tarde deste domingo (21), no Estádio Pedro Caetano, a final do Campeonato da Cidade, através da  Secretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, Diretoria de Esportes e da Liga Desportiva de Ipiaú. 
A competição entre o times da zona rural de Córrego de Pedras e Fazenda do Povo, Internacional e Vasco, foi bastante acirrada, visto que ambos foram para os pênaltis, porém quem sagrou-se campeão foi o time Internacional da Fazenda do Povo.
A Prefeita Maria das Graças esteve presente, juntamente com a secretária de Saúde Laryssa Dias, o secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo Caio Braga e o vereador Ivonilton.

A premiação em troféus e medalhas contemplou os campeões que ficaram muito felizes com o título.“Agradecemos a todos por terem participado do Campeonato da Cidade. Parabenizo a Diretoria de Esportes, a Liga e a Secretaria de Cultura, Esporte e lazer e Turismo. Também aos times participantes pelo esforço e dedicação e ao Internacional pelo título”, disse a Prefeita Maria.

Durante os jogos, o Estádio Pedro Caetano recebeu uma grande estrutura e apoio no local, com assistência da secretaria de Saúde, segurança com a presença da Polícia Militar, iluminação apropriada para jogos à noite adquirida no governo da prefeita Maria, e toda equipe técnica que cuidou atentamente de todos os detalhes.

Fonte: DECOM- Departamento de Comunicação da Prefeitura de Ipiaú
Produção- Danny Muniz

Borges Supermercado e Escudo goleiam e ficam perto de garantir a classificação

Neste domingo (21.05) aconteceram os jogos da 15ª rodada do Campeonato Master de Futebol.

No primeiro jogo o Borges Supermercado, comandada pelo artilheiro do campeonato Givaldo (11 gols), aplicou uma goleada na Consulcred.

Borges Supermercado 5x0 Consulcred
Borges Supermercado:

Gols Givaldo, Genésio, Jason, Júnior Loja e Tiririca

No segundo jogo, o Escudo que se acertou no campeonato, ganhou de virada e com goleada para a Pró Vida.
Pró Vida 1x5 Escudo

Gols: Pró Vida: Ivo, Escudo: Bodinho (2), Bruno Reis, Gulu e Marcos Cristiano

Próxima rodada

16ª rodada - Domingo (28.05)

07:15 - Borges Supermercado x Nei Modas

08:30 - Seven Moto Peças x Super Pão
Ipiauurgente.com.br (IU) colaboração/AABB-Burity

Lula oferece a Zelenski horários no G7, mas presidente da Ucrânia não aparece

Por volta das 19h de domingo (21) em Hiroshima, no Japão —7h no Brasil—, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) informou a jornalistas que aguardavam a chegada do líder da Ucrânia, Volodimir Zelenski, desde o início da tarde, que o encontro entre os dois na cúpula do G7 não aconteceria mais.

Após a relutância inicial de Lula diante da solicitação feita por Zelenski, sua equipe disse ter oferecido mais de um horário para uma conversa na tarde do domingo. Daí a presença de jornalistas brasileiros —e de uma bandeira da Ucrânia na sala de reuniões do 22º andar do hotel Ana Crowne Plaza, onde Lula realizou a maior parte de suas reuniões bilaterais.

Questionado durante entrevista com a imprensa se estava desapontado por não ter encontrado o homólogo brasileiro, Zelenski respondeu: “Acho que isso o desapontou”. Disse ter encontrado “quase todo mundo, todos os dirigentes. Todos têm seus próprios horários, por isso não pudemos nos encontrar com o presidente brasileiro”.

O único encontro de ambos acabou sendo, desse modo, na sessão de trabalho sobre paz, estabilidade e prosperidade global que dividiram com os demais líderes do G7 e convidados da cúpula, por volta de 12h, mas eles não teriam se falado diretamente. Uma fonte que solicitou anonimato afirmou, no entanto, que agora Brasília não pode ser acusado de má vontade em relação a Kiev.

No discurso que fez diante de Zelenski, Lula afirmou condenar a “violação da integridade territorial da Ucrânia” e repudiar “veementemente o uso da força como meio de resolver disputas”. Voltou a dizer que “os mecanismos multilaterais de prevenção e resolução de conflitos já não funcionam”, tema que já tinha abordado em discurso na véspera, e acrescentou que é preciso lembrar que as guerras hoje “vão muito além da Europa”, como no caso do Oriente Médio e do Haiti —uma alfinetada no protagonismo que o conflito entre Moscou e Kiev ganhou na agenda internacional.

No mês passado, em viagem a Abu Dhabi, Lula voltou a dizer que tanto Ucrânia quanto Rússia era responsáveis pela guerra. “O presidente [russo, Vladimir] Putin não toma a iniciativa de parar. [O presidente ucraniano, Volodimir] Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a continuação desta guerra”, disse na ocasião.

Depois, em Madri, ainda lidando com as repercussões negativas de suas declarações, o presidente tentou se esquivar de uma pergunta sobre se considerava os territórios da Crimeia e do Donbass ucranianos ou russos.

“Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia ou o Donbass. Quando você senta numa mesa de negociação, pode discutir qualquer coisa, até a Crimeia. Quem tem que discutir isso são os russos e os ucranianos”, respondeu a um jornalista espanhol.

Nelson de Sá, Folhapress

Ciro acumula condenações e enfrenta fila de credores e até bloqueio para licenciar carro

Defesa do ex-presidenciável diz que condenações são injustas e que valores extrapolam o razoável
Conhecido pela retórica inflamada contra adversários, o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) coleciona condenações por danos morais e tem sido alvo de ações de execução em série, o que já resultou em penhora e leilão de imóveis, constante bloqueio de valores em suas contas bancárias, incluindo R$ 101 mil na da sua mulher, chegando até o recente impedimento para licenciar um carro.

Ciro declarou no ano passado —quando disputou a Presidência e ficou em quarto lugar— patrimônio de R$ 3 milhões, mas a Justiça tem encontrado dificuldade para fazer valer as cobranças.

Prefeito, governador, ministro e quatro vezes candidato à Presidência, Ciro é alvo ou figura como autor em cerca de uma centena de ações criminais e cíveis relativas a danos morais, em especial no Ceará e em São Paulo.

A defesa do ex-presidenciável afirma que Ciro sofre restrição incomum ao seu direito de expressão, que as punições têm valores muito acima do normal e que ele não tem recursos e bens penhoráveis para cobri-las.

Diz ainda que as suas “nítidas dificuldades financeiras” decorrem de ele ser um político honesto, que não responde a processo de dano ao erário e que vive do seu salário.

Como vice-presidente nacional do PDT, Ciro recebe remuneração mensal de R$ 23,5 mil.

Na lista dos que ingressaram na Justiça alegando terem sido ofendidos pelo pedetista estão os ex-presidentes da República Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Jair Bolsonaro, além de políticos como José Serra (PSDB-SP), Eunício Oliveira (MDB-CE), Damares Alves (Republicanos-DF), Ricardo Salles (PL-SP), Eduardo Cunha (MDB-SP), João Doria (SP) e Valdemar Costa Neto (PL).

Contra alguns desses, como Ricardo Salles (chamado de “ex-ministro do desmatamento e contrabando”), Eduardo Cunha (“trambiqueiro”) e Doria (“farsante”), Ciro obteve vitórias, mas a lista de reveses tem empilhado condenações já na fase de execução que, somadas e corrigidas, ultrapassam a casa do milhão.

Só na Justiça de São Paulo, há 13 processos listados, sendo 9 protocolados de 2018 até agora.

Um deles diz respeito a ele ter chamado em 2018 o vereador paulistano Fernando Holiday (Republicanos) de “capitãozinho do mato”. Holiday entrou no Juizado Especial Cível, e Ciro acabou condenado a indenizá-lo em R$ 38 mil.

A ação de cumprimento da sentença tramitou por quatro anos sem que houvesse o pagamento, apesar de sucessivas tentativas de penhora de imóveis e busca de saldos em contas bancárias. A situação só mudou com a penhora em 2 de fevereiro deste ano da casa de Sobral que Ciro havia herdado da mãe, dona Mazé.

Uma empresa, porém, informou à Justiça que havia comprado a casa dois dias antes, em 31 de janeiro, e apresentou comprovante de repasse de R$ 561 mil para a conta de Giselle Bezerra, mulher de Ciro.

A Justiça então autorizou em abril pedido do advogado do vereador, Felipe Boarin L’Astorina, e bloqueou R$ 101 mil (valor atualizado devido a Holiday) da conta de Giselle. L’Astorina afirmou que entrará agora com ação de execução para pagamento dos honorários de sucumbência (valores devido pelo perdedor da ação aos advogados da parte vencedora).

“O mais importante foi a condenação dele pela ofensa, o que acabou servindo de exemplo para que tenhamos um debate mais civilizado sobre o racismo no Brasil, independente de ideologias”, disse Holiday.

De acordo com esse processo, restaram dois imóveis a Ciro que são impenhoráveis —um por ser sua residência e o outro por estar financiado pela Caixa.

Ciro também entrou com ação contra Holiday, por ter sido chamado de “coronelista”, mas perdeu em todas as instâncias.

Em outra ação de cobrança de honorários de sucumbência, a advogada Regina Marilia Prado Manssur pediu R$ 47 mil em 2020. Ela integrou a defesa de Collor (chamado “playboy safado” e “cheirador de cocaína”), cuja vitória resultou no leilão judicial de um apartamento de Ciro em 2021, no valor de R$ 520 mil.

Manssur também não recebeu ainda os valores, passados três anos.

Na última quinta (18), ela se opôs a pedido dos advogados de Ciro para que o veículo Toyota Hilux SW4 ano 2010 passe de “bloqueio do licenciamento” para “bloqueio da transferência” —o argumento é o de que Ciro não está conseguindo pagar as taxas do Detran.

O pedetista também perdeu ação movida contra a Editora Abril pela publicação de uma reportagem em 2018 e foi condenado a arcar com os honorários dos advogados.

“Em que pese o início da execução ter sua origem em fevereiro de 2018, há mais de 5 anos, até o momento não houve satisfação do crédito perseguido”, disse em nota o escritório Fidalgo Advogados.

Ciro chegou a fazer acordo de pagamento amigável em 2021, mas acabou não cumprindo. O débito atualizado, com correção e multa, está em R$ 19 mil.

Serra, chamado de o candidato dos “grandes negócios e negociatas”, ganhou ações que atualmente somam cerca de R$ 800 mil em indenização, de acordo com os processos. Cerca de 10% já foi pago por meio de bloqueio em contas bancárias de Ciro.

De acordo com relatório da Justiça do Ceará de setembro de 2022, havia 71 processos em trâmite em que Ciro era polo passivo. Desse total, 41 tinham como parte ativa Eunício Oliveira, que virou desafeto em 2014, ocasião em que foi chamado de “mistura de Pinóquio com irmão metralha”.

Eunício, que também já foi processado por Ciro, a quem chamou de “coronelzinho decadente, mentiroso e dissimulado”, tem patrimônio declarado de R$ 158 milhões e disse ter arrematado o apartamento leiloado em 2021 no processo movido por Collor.

Ciro também já sofreu três condenações por danos morais em processos contra o ex-candidato a governador do Ceará Capitão Wagner (União Brasil). As ações, ainda em fase de recurso, somam R$ 60 mil, sem correção.

Durante o motim de PMs no Ceará, em 2020, Ciro chamou o então deputado federal de “miliciano”.

OUTRO LADO: ADVOGADO DIZ QUE CIRO E VIVE SÓ DE SEU SALÁRIO

Indicado pela assessoria de Ciro para se manifestar sobre o assunto, o advogado Walber Agra afirma que as “nítidas dificuldades financeiras” de seu cliente decorrem “de ele ser um político honesto, que não responde a nenhum processo de dano ao erário, e ser um cidadão de classe média”.

Agra, que é professor da Faculdade de Direito do Recife e que também advoga para o PDT, divide com o escritório de André Xerez, do Ceará, a defesa de Ciro nos processos.

“O não pagamento se deve exclusivamente a falta de recursos e de bens penhoráveis, haja vista que ele recebe apenas salário para o seu sustento e de sua família”, acrescentou Walber.

O advogado também criticou as condenações e o valor das multas aplicadas.

“O que mais chama a atenção é que a restrição ao direito de liberdade de expressão de Ciro Gomes é muito mais alargada que os demais casos. Outra coisa que chama a atenção é o valor das multas, muito acima da maioria das estabelecidas na jurisprudência.”

Ranier Bragon e Danielle Brant, Folhapress

Ipiaú: Homem é preso por policiais militares no Centro de Abastecimento por desordem e perturbação do sossego.

Por voltas das 10h50min, desse sábado (20/05/23), policiais militares que faziam o policiamento a pé no centro de abastecimento foram informados por transeuntes que circulavam na feira, que próximo a área de comercialização das verduras havia um elemento trajando bermuda jeans e sem camisa causando desordem e tumulto no local.

Os policiais militares deslocaram até o local, onde se depararam com o suspeito, que foi devidamente abordado. O suspeito estava muito exaltado e apresentava sintomas de embriaguez alcoólica.

O indivíduo foi conduzido à delegacia territorial de Ipiaú, para a adoção das medidas de polícia judiciária.

Autor: A. S. P. (Masculino) nascido em 25/101968; Endereço: Fazenda Confiança 1, zona rural de Ipiaú

Fonte: ASCOM/55ª CIPM/PMBA, uma Força a serviço do cidadão!

Ipiaú: Homem é preso pela Policia Militar por agredir sua genitora (Lei Maria da Penha)

Por volta das 11h10min, desse sábado (20/05/23), a guarnição da 55ª CIPM/1º Pelotão foi solicitada por um senhor, que informou que o seu irmão, estava muito exaltado em sua residência, localizada na Rua Valdomiro Barreto, Santa Rita, em Ipiaú, e teria agredido sua mãe, uma senhora de 73 anos de idade.

Chegando ao local, a guarnição manteve contato com a vítima, que relatou que o autor a agrediu, verbal e fisicamente, e inclusive, é contumaz nesta prática.

Foi dada voz de prisão ao agressor, que foi conduzido, juntamente com a vítima e testemunha, para a Delegacia territorial de Jequié, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante.

Autor: G. C. de A. (Masculino) Idade: 40 anos; Vitima: H. C. de M. (Feminino) Idade: 73 anos

Fonte: ASCOM/55ª CIPM/PMBA, uma Força a a serviço do cidadão.

Comunidade quilombola que pediu socorro a Lula sofre sem direitos

Uma carta escrita de madrugada. A mãe, Rose, analfabeta, e a filha, Franciele, estudante de direito, capricharam nas explicações. Escreveram, escreveram, escreveram. Quando viram, a vida estava ali, naquelas oito páginas. Era a chance.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iria visitar a Bahia, e elas precisavam chamar a atenção para um desespero. No dia seguinte, durante o evento, ouvia-se de longe o grito da mulher: “Lula, pelo amor de Deus. Estamos sem água, sem esgoto, sem escola. Socorro!"

- “Traga ela aqui”, pediu o presidente.

Rose Meire dos Santos Silva, de 44 anos, foi ultrapassando as fileiras uma a uma e era contida pelos seguranças na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, lugar em que o presidente assinou o decreto de regulamentação da Lei Paulo Gustavo, no último dia 11 de maio.

Ela gritava pedindo para entregar um documento ao presidente. Primeiro, Lula pediu que ela esperasse um pouco. De tanto insistir, Rose foi atendida. Subiu ao palco, se ajoelhou, se emocionou e ergueu o coração. “Lula, nosso povo está morrendo. Pelo amor de Deus”.
Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação. - Foto divulgação

Depois, o presidente assinou o “recibo” e também foi às lágrimas. Precisou tomar um copo d'água. 

“Essa mulher representa um pouco daquilo que passa o povo brasileiro”, destacou Lula. (O momento está registrado na transmissão da TV Brasil, a partir de 1 hora e 44 minutos, no vídeo abaixo)

(3849) LANÇAMENTO DA LEI PAULO GUSTAVO EM SALVADOR | 11/05/2023 - YouTube

A mulher, que subiu ao palco naquele dia, é coordenadora da Associação dos Remanescentes do Quilombo Rio dos Macacos. “Sou uma mulher que luta para sobreviver”, disse, em entrevista à Agência Brasil, na semana seguinte ao evento

Luta para sobreviver porque a comunidade, com 150 famílias em 104 hectares no município de Simões Filho (BA), carece de direitos básicos e vive em um conflito com a Marinha, que construiu a Base de Aratu naquelas cercanias, na década de 60. “A gente vem sofrendo há mais de 50 anos. A gente paga, mas não tem iluminação pública, nem posto de saúde, nem escola”. Aliás, para ir e voltar da escola, as crianças precisam caminhar cerca de 14 quilômetros.

Outro problema que ela reclama é a falta de transporte e de acesso independente à comunidade. Para chegar à própria casa, os moradores precisam passar pela área militar. Isso dificulta, conforme ela explica, até o socorro de saúde quando há necessidade.

Rose Meire diz que um problema gravíssimo é a falta de água porque os militares impedem o acesso ao Rio dos Macacos, que dá nome à comunidade e é tratado como santuário desde os antepassados. “Precisamos do uso compartilhado do rio. Andamos com baldes por quilômetros para conseguir água. O que eles nos fornecem não é o suficiente. Fomos tratados como invasores. E os invasores foram eles”.

 A comunidade está assustada com o que ouviram de militares, sobre a possibilidade de construção de um muro que impediria qualquer acesso às águas. “Esse muro significa a morte do nosso povo quilombola”, escreveu a dupla na carta entregue ao presidente.

“Nosso povo foi criado aí nessas águas, pescando, cuidando do corpo, do espírito. Não tem como a gente sobreviver sem água. O que eu coloquei naquela carta foi pedindo as políticas públicas”.

O que vem da terra

Para sobreviver, a comunidade trabalha com agricultura familiar. Rose Meire relata que mais de 100 famílias já foram embora por causa da falta de condições mínimas. A jaca e a mandioca naquelas terras já foram mais promissoras e atraíam compradores de fora. 

Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação.
Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação. - Foto divulgação
O período de seca, a pouca água, a falta de insumos e equipamentos deixaram a situação mais complicada para vender o excedente. “Aqui é todo mundo só na enxada. Se tivesse um tratorzinho, a situação poderia ser diferente”.

Mesmo assim, a terra ainda rende para subsistência. “Feijão, mandioca, banana, milho, amendoim, batata. A gente planta dentro da comunidade. Se a gente tivesse material para desenvolver, não passava fome”. Rose Meire diz que já perdeu sete irmãos por causa do isolamento

“Segurança nacional"

Em nota à reportagem da Agência Brasil, a Marinha entende que foi estabelecido um procedimento conciliatório para uma “solução negociada” com a comunidade quilombola.

“A área atribuída à Marinha engloba a Barragem Rio dos Macacos e é considerada de segurança nacional, por contribuir para o planejamento das atividades relacionadas ao interesse nacional e à execução de políticas definidas para a área marítima”, diz a nota.

Os militares admitem que o principal acesso à comunidade é pela área militar. “Nesse contexto, a Marinha sempre permitiu, como ainda permite, a passagem regular dos moradores, de seus convidados, visitantes e de qualquer membro dos órgãos governamentais”. Acrescenta o documento que o governo da Bahia faz a construção de estradas de acesso independente à comunidade para aprimorar as políticas públicas.
Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação.
Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação. - Foto divulgação

Porém a Marinha não prevê o uso compartilhado do rio. “Sobre esse ponto, é importante registrar que a barragem é fonte de água única e essencial ao funcionamento e existência de todas as organizações militares que se encontram na área da Base Naval de Aratu (BNA), constituindo o Complexo Naval de Aratu, onde trabalham 1.800 militares e civis”.
Providências
Também em nota à Agência Brasil, o Ministério da Igualdade Racial garante que “acompanha de perto e com preocupação a situação do quilombo Rio dos Macacos”.

“Nossa equipe já realizou atendimentos à população e está organizando uma missão interministerial ao local para executar escuta qualificada e ampla da situação de violações e vulnerabilidades por qual a comunidade quilombola está passando”
Direitos

Em caso de escuta qualificada, os servidores públicos poderão ouvir histórias variadas, como a de Franciele dos Santos Silva, de 23 anos, filha de Rose Meire. A mãe pede que nem ela nem as outras três irmãs apareçam em fotografias. Tem medo de represálias. Ela é a primeira da comunidade a chegar a uma faculdade. Conseguiu ingressar no curso de direito da Universidade Federal da Bahia. Para ir todos os dias às aulas, sai da comunidade às 16h e chega perto das 19h no campus. Mas o esforço é com alegria.

“Eu resolvi, na verdade, estudar direito porque venho de uma comunidade quilombola que não tem nenhum tipo de política pública. Já sofreu diversas violências e ameaças. A Marinha invadiu nossas terras há mais de 50 anos e a partir daí, a gente vem sofrendo inúmeras violações de direitos”.
Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação.
Bahia. Comunidade Quilombola Rio dos Macacos/ Foto Divulgação. - Foto divulgação
O que a inspirou também foi o fato de ter perdido anos letivos no ensino fundamental porque não conseguia chegar à escola por falta de transporte. “Entrei na faculdade em 2019 para cursar ciência e tecnologia. Depois, fiz o Exame Nacional do Ensino Médio novamente e entrei em direito”. O exemplo de Franciele fez com que outros jovens também sonhassem com o ensino superior. “Agora temos o total de oito pessoas da comunidade na universidade pública”
Ela lamenta, entretanto, que precisa passar por dentro da Vila Naval e tem até o acesso negado. “A gente não tem iluminação pública, nem água encanada, nem esgotamento sanitário”. Toda vez que pensa em desistir, em função de estudar no período noturno, lembra da força da mãe.

“Uma mulher de força, luta e inspiração. Agora a gente espera que esse esforço dela não tenha sido em vão. Foi um pedido de socorro a carta que ela entregou nas mãos do presidente. Eu e ela sentamos e a gente escreveu essa carta na madrugada daquele dia”.

A Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais (AATR) trabalha em apoio às necessidades da comunidade quilombola Rio dos Macacos. Assessores jurídicos da entidade ouvidos pela reportagem entendem que o Ministério Público tem apoiado as ações para que o Estado Brasileiro cumpra o dever de cuidar daquelas pessoas. Mas explicam que há um longo caminho para a garantia desses direitos diante de tanta desassistência.

Problemas, inclusive, que são antigos, e que datam da década de 60. Violações contra a comunidade foram registradas pelo documentarista baiano Josias Pires Neto. Mesmo assim, a Marinha nega que haja registro de violência. O primeiro filme foi um curta, Quilombo Rio do Macaco, lançado em 2011.

Depois, veio o longa Quilombo Rio dos Macacos (lançado em 2017).

Os trabalhos têm direitos abertos de exibição. “Os filmes foram importantes para mostrar que existiam quilombolas com mais de 90 de idade e que não era invasores. Eles já estavam ali”.

O documentarista explica que, desde a construção da Vila Naval, onde iriam morar os militares que serviriam naquela organização militar, os quilombolas trabalharam nas casas dos militares.

Depois os conflitos foram crescendo com histórias de humilhação e violência, segundo o documentarista. Conforme testemunha o cineasta, as situações ficam rígidas ou flexíveis a depender do comandante que serve na base. Ele entende que dar visibilidade à comunidade ajudou para que os quilombolas não fossem expulsos do local, como se fossem invasores. "Um acordo judicial foi viabilizado".

“É uma comunidade muito frágil e sem acesso a direitos humanos básicos e fundamentais. A luta continua para que eles possam ter pelo menos o uso compartilhado da represa porque é uma área em que eles pescam”.

Quase 10 anos depois do último filme, as imagens ainda são difíceis, mas também são de luta, de madrugadas em claro e de uma carta com pedido de esperança.
Por Luiz Claudio Ferreira - Repórter da Agência Brasil - Brasília

MST elabora dossiê contra Ricardo Salles e outros deputados da CPI

Em parceria com organizações de luta pela preservação do meio ambiente, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) está elaborando um dossiê contra Ricardo Salles (PL-SP) e outros deputados que vão compor a CPI instalada no Congresso que tem os ativistas do campo na mira.

Segundo apurou o Painel, a cúpula do movimento definiu que não adotará postura passiva diante da CPI e organiza ofensiva para combater discursivamente os ruralistas, que articularam a criação da comissão e são maioria nela.

O dossiê faz parte dessa estratégia, e está sendo elaborado com a colaboração de organizações sociais ligadas à causa da preservação do meio ambiente. O De Olho nos Ruralistas, observatório do agronegócio no Brasil, será um dos colaboradores.

A passagem de Salles, relator da CPI, pelo Ministério do Meio Ambiente será um dos focos de pesquisa.

Ele pediu demissão da pasta em junho de 2021, pressionado por investigação sobre suposto favorecimento a empresários do setor de madeiras por meio da modificação de regras com o objetivo de regularizar cargas apreendidas no exterior e pelos altos índices de desmatamento.

A tática do MST pode gerar desgaste à imagem de Salles no momento em que ele tenta viabilizar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2024. Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal, já manifestou a intenção de participar da eleição, e também pode ser atingido pela CPI —Salles tem afirmado que a CPI do MST pode chegar ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que tem o psolista como principal líder.

Outra frente já definida como alvo pelo MST é o possível envolvimento do presidente da CPI, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), em atos antidemocráticos no Rio Grande do Sul.

Em novembro de 2022, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul colocou o nome de Zucco em uma lista enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) de pessoas que estimularam ou participaram de bloqueios de estradas e ruas, além de mobilizações no entorno de quartéis, após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial.

Na quarta-feira (17), como mostrou a revista Veja, Alexandre de Moraes, ministro do STF, determinou que a Polícia Federal investigue o caso do deputado federal.

Guilherme Seto, Folhapress

Em Jequié, Jerônimo inaugura obras e visita Exposição Agropecuária

O governador Jerônimo Rodrigues visitou o município de Jequié, na região sudoeste, na tarde deste sábado (20). No distrito de Itajuru, ele entregou uma unidade de processamento de derivados da mandioca, implantada por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado (SDR), cujo objetivo é apoiar a inclusão social e geração de emprego e renda, visando ações estruturantes e de inclusão sócio-produtiva. Em seguida, na sede do município, ele inaugurou mais uma Areninha Society, dessa vez no bairro Jequiézinho.
“Passamos em Itajuru, entregamos a unidade industrial de agroindústria, fomos ao Centro Social Urbano, onde eu já joguei bola, quando morei em Jequié, para reconhecer e ver uma areninha, e me encontrei com a turma daquele bairro”, relembrou Jerônimo ao falar sobre os investimentos do Governo do Estado. Completando a agenda de compromissos, o governador participou da abertura da Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial do município (Expo Jequié), no Parque de Exposições Luiz Carlos Braga.
A comitiva governamental foi acompanhado pelos secretários de Desenvolvimento Rural, Osni Cardoso, e da Agricultura, Wallison Tum, que participaram da entrega de três veículos utilitários para associações de trabalhadores da agricultura familiar. Os equipamentos foram adquiridos via SDR, que também levou para o evento, a Vila da Agricultura Familiar e Economia Solidária, com a participação de expositores do Território Médio Rio de Contas.
“É uma feira da agricultura familiar, um pavilhão inteiro e cerca de 60% dos expositores é de mulheres. É uma feira que recebe os produtos regionais. Mas, é claro que eu também quero ver aqui o desenvolvimento de uma feira de tecnologia, de exposição de animais, melhoria genética. Eu tenho certeza que a parceria com os prefeitos da região para estimular a participação dos produtores da agropecuária da região vai dinamizar o setor”, completou o governador.

O diretor-presidente da CAR, Jeandro Ribeiro, explicou que a Vila da Agricultura Familiar e Economia Solidária é um estímulo do colegiado territorial Médio de Rio de Contas. “A gente, com nosso escritório da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), reuniu todos os empreendimentos do território, que estão recebendo investimentos da SDR, através da CAR. Aqui tem uma diversidade de produtos que passam por Manoel Vitorino, Jitaúna, Ipiaú, Jequié, Gongogi, por vários municípios que os projetos já estão demonstrando seus resultados”, acrescentou.

Na Vila, estão sendo comercializados produtos como, sequilhos, biscoitos, doces, compotas, manteiga, frutas, mel, além de cerâmicas, artesanatos, entre outras mercadorias da agricultura familiar. Uma das maiores feiras agrícolas da região, a Expo Jequié segue até 28 de maio, com a participação de expositores e criadores de animais, estandes de empresas e órgãos públicos, leilão de animais e outras atrações.

Fonte: SECOM/GOVBA

O melhor que a esquerda faz por Lula é criticá-lo, diz João Santana à Folha

O marqueteiro João Santana, 70, preferiu a discrição enquanto cuidava da campanha de Ciro Gomes (PDT) à Presidência em 2022, destoando da exposição que tinha quando trabalhou com os petistas Lula e Dilma Rousseff, até cair na infâmia ao ser preso pela Operação Lava Jato.

Santana, geralmente avesso a entrevistas, recebeu a Folha em seu escritório, em Salvador, na quarta-feira (17), para fazer um balanço da eleição do ano passado —que lhe rendeu uma amizade íntima com Ciro— e dar opiniões sobre a comunicação do atual governo e o legado de Jair Bolsonaro (PL).

“O melhor que a esquerda pode fazer por Lula é criticá-lo”, afirma o baiano, que se identifica com esse campo ideológico e diz que é um erro deixar o bolsonarismo monopolizar a crítica ao presidente.

Condenados por lavagem de dinheiro de caixa dois, Santana e sua esposa e sócia, Mônica Moura, fecharam acordo de delação premiada em 2017. Devolveram cerca de R$ 80 milhões, cumpriram penas nos regimes fechado e semiaberto, usaram tornozeleira e ainda prestam serviços comunitários.

O marqueteiro se recusa a citar nomes por não ter provas, mas diz suspeitar da prática de caixa dois por outras campanhas em 2022. “Você desenvolve o olfato e percebe algumas movimentações.”

Após tanto tempo recluso, por que resolveu falar agora? Há uma mudança de estilo de acordo com o tempo de vida e maturidade. Eu realmente queria ter o mínimo protagonismo possível. E porque acho que tem algumas coisas em que posso contribuir levemente para a reflexão política e de comunicação.

A derrota de Ciro foi também uma derrota do sr., antes acostumado a vitórias. O que aconteceu? São vários fatores. Na vida, como na política, algumas derrotas são inevitáveis. O importante é a forma de encará-las.

Sem demérito de ninguém, nunca tive um candidato no nível de Ciro, mas ao mesmo tempo nunca vivi uma campanha com tantos impedimentos políticos, técnicos e conjunturais, escassez de meios e tantas dificuldades estratégicas e táticas.

Quais? A eleição de 2022 é definida, com razão, como a eleição do ódio e do medo, mas acho que foi principalmente a eleição da covardia. Para muitas camadas da população, e infelizmente grande parte delas propensas a votar no Ciro, predominou do ponto de vista psicológico uma covardia.

Existia a polarização, mas mesmo aqueles eleitores com um voto cristalizado tinham sempre uma segunda opção, que era Ciro. Mas havia a covardia de votar e ele perder e a da mudança, pelo conforto que eles imaginavam ter adquirido debaixo daquela asa protetora da primeira opção eleitoral.

E qual era a estratégia? Ciro tinha duas batalhas: uma interna, no partido, e outra externa. Para vencê-las, tinha que fazer barulho, uma coisa combativa. O caminho era uma campanha com discurso contundente, político, moral e administrativo, com propostas ousadas, mas sedutoras, e ao mesmo tempo de combate permanente aos dois lados. Não me arrependo.

Os ataques a Lula eram fruto da soma das mágoas do sr. e de Ciro, como se dizia? Quando eu ouvia isso, a vontade que tinha era de dar risada. O Ciro pode ter mágoas por ele, mas o sentimento político era mais forte do que qualquer mágoa de natureza pessoal.

Não tenho mágoa do Lula. Tenho admiração e carinho pela Dilma, mas, que ela poderia ter atuado de forma mais carinhosa pessoalmente, não anti-institucional, durante a tragédia que eu e Mônica vivemos, isso poderia.

Ciro foi criticado, inclusive por aliados, pelo tom contra a Lula. O sr. o aconselhou a moderar, como se noticiou? Não exatamente dessa maneira. O calor de uma campanha e de uma personalidade como a de Ciro às vezes pode provocar esse tipo de reação. Era uma campanha emocional, mas vigorosa e verdadeira. É difícil estabelecer certo ponto de equilíbrio quando você está num combate pleno.

O lulismo semeou a visão equivocada de que, ao fazer isso, Ciro estaria concorrendo para a vitória do Bolsonaro. Isso é errado porque tínhamos potencialmente condições de arrancar voto de um lado e do outro. E ninguém tinha condições de ganhar em primeiro turno. Era um raciocínio para justificar a necessidade de preservar a democracia. E esse tortíssimo argumento predomina hoje com outro formato.

Qual? É o de dizer: “Olha, minha gente, não vamos criticar o Lula porque isso é fortalecer o Bolsonaro, é correr um risco”. Isso é um absurdo e um mal sem tamanho para o Lula e para a democracia.

Vincular a sobrevivência do sistema democrático ao bom desempenho de um indivíduo é já de antemão apregoar sua fragilidade. Para quem quer ajudar o Lula a fazer um bom governo —e estou entre eles, jamais quero que o Lula fracasse e que ocorra um retrocesso—, a coisa melhor a fazer é criticá-lo.

Deixar o monopólio da crítica com Bolsonaro é um erro por causa de uma lógica mecânica: se um elemento [Bolsonaro] tem esse poder, e o outro [Lula] fracassa, isso vai levar o movimento em direção ao primeiro. Não se pode deixar o Lula livre, leve e solto para cometer os erros sem advertência, sem críticas.

E quais as suas críticas? Há muitas coisas elogiáveis. O governo não está mal, está começando, driblando algumas dificuldades, cometendo alguns erros e esquecendo algumas coisas.

O próprio Lula acho que disse que o governo dele era de transição. Para onde? Precisa apontar. As grandes discussões nacionais continuam sem ocorrer. Não ocorreram na campanha. A única voz que se levantava era a de Ciro.

Agora, a coisa mais importante a se fazer é melhorar Lula, não piorar Bolsonaro. Piorar o péssimo? Não. [Precisamos] melhorar aquilo que já é bom. O Lula tem coisas boas, mas é uma pessoa naturalmente comodista e conciliadora em excesso.

Como avalia a comunicação do governo? Fala-se muito que o governo tem problema de comunicação, mas acho que, na verdade, a comunicação sofre problemas de governo. Raramente um governo com um projeto de nação concreto e um plano de ação claro tem problema de comunicação.

O protagonismo excessivo de um líder quase narcísico e a repetição retórica monótona não são suficientes, como também não é suficiente vender doses de empatia e de institucionalidade. O Lula precisa tomar cuidado para que o discurso da miséria não vire a miséria do discurso. Só que as dificuldades de governo são grandes também. Não se pode culpar a comunicação por tudo.

Mas quais são as falhas? Precisa ter uma comunicação mais mobilizadora e linhas definidas para algumas áreas sensíveis, como: economia, Amazônia, evangélicos, questão militar, agro. Hoje, no mundo ambientado nas redes, boa parte da comunicação tem que ser segmentada, com núcleos digitais. Não é essa história de gabinete do ódio, para passar campanha negativa, mas para disseminar conteúdos.

Como vê a estratégia da guerra contra o Banco Central? É duplamente acertada. Do ponto de vista filosófico, é correta porque autonomia do BC num país como o Brasil não tem muito sentido da forma como foi implantada. E, do ponto de vista tático, ele criou um ponto de combate interessante. Essa tática de criar inimigos para dispersar algumas atenções é importante. Qualquer governo faz isso. O que pode é também, de vez em quando, dosar a ação retórica e produzir ações mais concretas.

Sua atuação com Ciro, que apontava corrupção em Lula e no PT, não era um ponto frágil da campanha? Não diria frágil eleitoralmente. Era mais constrangedor para mim do que para o Ciro, porque me associar de uma forma injusta à corrupção, o que nem o próprio [Sergio] Moro fez, não tem sentido.

Com erro de caixa dois, sim, como 99,9% dos marqueteiros brasileiros. Não há nenhum que eu conheça que não tenha recebido. Depois dessa cruzada [da Lava Jato], de absurdos que foram cometidos contra mim, eu imaginava que fosse melhorar essa situação. Não é o que me parece que aconteceu.

O sr. se refere a caixa dois? Posso dizer que houve uma campanha em 2022 que o marketing não recebeu um tostão de caixa dois, que foi a nossa, mas não posso dizer que isso aconteceu em todas. Não estou acusando nem denunciando ninguém, mas os indícios, os rumores, as conversas [existem].

Possui provas? Não, mas você desenvolve o olfato e percebe algumas movimentações. Não me pergunte quem, quando, como, que não vou falar, nem sob tortura. Aliás, falando em tortura, sei o que é isso [referência ao período da prisão e delação].

A Lava Jato é uma história que ainda não acabou, não em relação a mim, mas em tudo —tanto para os supostos transgressores da lei como para aqueles que usaram a lei para transgredir.

Sua presença na campanha de Ciro dificultou o apoio de Marina Silva, que chama o sr. de inventor das fake news no Brasil por causa dos ataques da campanha de Dilma a ela em 2014? No fundo, ela já sabia a quem iria apoiar [Lula], que ela tinha mais convicção da chance de vitória. Ela queria um barco seguro.

E veja ao lado de quem ela está hoje em dia: o Lula, o PT, todos que fizeram essa campanha contra ela. O João Santana foi um artífice, um finalizador. Alguns dos provedores de informações que deram o argumento do supervalorizado comercial do Banco Central hoje almoçam e jantam com ela. Não vou dizer os nomes.

E ela não sabe que esse João Santana, que ela diz ser esse personagem maléfico, segurou uma série de argumentos que chegaram com ataques pessoais terríveis contra ela e a família dela.

O sr. reconhece que, após a vitória de Dilma em 2014, houve estelionato eleitoral ou ao menos uma mudança de rumos em relação ao que foi apresentado na campanha? Na época, foi surpreendente para mim. Com a intimidade que eu tinha com a presidente Dilma e com a cúpula do governo, não fui suficientemente informado da situação econômica durante a campanha, ao contrário.

Se eu tivesse sido, não que fosse mudar radicalmente a linha da campanha, mas a dosagem poderia ter sido menos ufanista, menos “poliana”, menos otimista. Às vezes, acho que a própria Dilma não tinha consciência plena da situação ou pelo menos de um agravamento.

E para 2026, o que prevê? É uma incógnita. Antes de 2024, não dá para prever nada. Vamos ter as eleições municipais mais importantes desde 1985. Contrariando a tradição, elas serão extremamente nacionalizadas e essa coisa da bipolaridade vai estar muito presente.

Pretende trabalhar em outras campanhas? Não é que eu não queira, mas não sei nem o formato em que eu possa voltar a atuar. Estou hoje vendo algumas coisas muito mais do ponto de vista teórico. E estudando, escrevendo, fazendo música e cuidando dos meus netos.

RAIO-X | JOÃO CERQUEIRA DE SANTANA FILHO, 70

Jornalista de formação, foi marqueteiro político das campanhas presidenciais de Lula (2006) e de Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do PT. Atuou em 11 eleições presidenciais, com 8 vitórias em 7 países. É casado com a jornalista Mônica Moura, sua sócia. Foram presos pela Operação Lava Jato em 2016 e condenados por lavagem de dinheiro de caixa dois de campanhas. Fizeram delação premiada e hoje ainda cumprem serviços comunitários. Ambos cuidaram da campanha de Ciro Gomes (PDT) à Presidência em 2022. Também músico, Santana lançou em 2020 o álbum “Suave Distopia”, com Jorge Alfredo.

Joelmir Tavares, Folhapress

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