Delação de Mauro Cid provoca pânico no clã Bolsonaro e cúpula do PL teme impacto na eleição de 2024

A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid preocupa cada vez mais o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sua família. Embora o clã Bolsonaro adote o discurso oficial da “perseguição política”, nos bastidores o clima é de pânico.

Um interlocutor do ex-presidente disse à Coluna, sob reserva, que ninguém no PL tem dúvidas de que mais denúncias contundentes vão aparecer, e não somente relativas ao escândalo das joias, caso revelado pelo Estadão.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, tem afirmado, em público, que Bolsonaro está sendo alvo de “várias injustiças”. A portas fechadas, porém, não esconde o receio com o impacto da delação de Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, na montagem das alianças do partido para as eleições municipais de 2024, principalmente em São Paulo.

Dirigentes do PL temem que, de cabo eleitoral poderoso o ex-presidente se transforme em um político “tóxico”, a ser escondido no palanque. Até agora, o partido apoia a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na capital paulista. Nunes, porém, vive uma encruzilhada política: precisa do voto do eleitor bolsonarista, mas, para se preservar, não pode ficar “colado” ao ex-presidente. É isso que indicam as últimas pesquisas avaliadas por coordenadores da campanha do prefeito.

A Polícia Federal está convencida de que Cid também vai apresentar provas sobre o núcleo político que armou a tentativa de golpe, em 8 de janeiro, e quem foram os financiadores daquele atentado contra a democracia, além de evidências sobre como funcionava o que as investigações chamam de “organização criminosa”.

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid deixou neste sábado, 9, o Batalhão do Exército de Brasília, onde estava preso desde 3 de maio, após ter fechado acordo de colaboração premiada com a PF, homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O tenente-coronel deve prestar novos depoimentos a partir da próxima semana.

Estadão Conteúdo

Programa de eficiência energética promove troca de geladeiras

A busca pela eficiência energética resultou na troca de mais de 8 mil geladeiras a clientes da distribuidora de energia Enel Brasil, em 40 municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Na mesma linha foram substituídas 568 mil lâmpadas incandescentes ou fluorescentes por modelos em LED em 78 cidades desses estados.

A substituição do eletrodoméstico, realizada no primeiro semestre, representou um aumento de 132% se comparado a igual período de 2022. As geladeiras têm selo Procel de economia de energia, e podem consumir até 70% menos energia do que modelos trocados.

Já com as lâmpadas de LED, que chegam a ser 80% mais econômicas que as outras e dez vezes mais duráveis do que as antigas, o volume total de trocas pela Enel este ano é 154% maior do que no mesmo período do ano passado.

A ação faz parte do programa Enel Compartilha Eficiência, um dos projetos de sustentabilidade da empresa, criado para promover ações sustentáveis e inclusivas para a população, e prevista pelo Programa de Eficiência Energética (PEE), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que promove o uso eficiente da energia elétrica em todos os setores da economia.

Além das trocas de geladeiras e das lâmpadas, o programa desenvolve ações junto aos clientes com palestras e dicas de consumo consciente de energia, como as questões de segurança no uso doméstico. A intenção é reforçar o conhecimento sobre a utilização correta dos aparelhos domésticos e evitar gastos desnecessários. Nos encontros ocorrem também debates de temas socioeconômicos e ambientais. Essas ações já beneficiaram mais de 29 mil moradores das cidades atendidas pela distribuidora.

Bônus
O cliente pode ainda economizar com a redução da emissão de gás carbônico na atmosfera, na troca de materiais recicláveis como papel, plástico, metal e vidro. O projeto Ecoenel, uma outra frente de sustentabilidade promovida pela companhia, é viabilizado também pelo Programa de Eficiência Energética. De janeiro a junho deste ano, o Ecoenel arrecadou mais de 3,5 mil toneladas de resíduos na área de concessão da distribuidora de energia.

Pelos cálculos da empresa, esse volume evitou a emissão de aproximadamente 11 mil toneladas de gás carbônico na atmosfera e resultou na economia de mais de 15 mil MWh de energia, montante que, pelos cálculos da Enel, é suficiente para abastecer 7,3 mil famílias por um ano. A iniciativa é reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente como referência em prática ambiental.

A diretora de Sustentabilidade da Enel Brasil, Márcia Massotti, disse que, de início, a empresa entrou nessa área porque tinha uma obrigação de investimento, uma vez que parte dos recursos usados nos projetos é relativa a uma parcela da tarifa paga pelos clientes. Depois disso, a empresa passou a ver o investimento na eficiência energética como uma participação no esforço do Brasil em reduzir o efeito estufa, ao qual o país se comprometeu no acordo de Paris.

“O primeiro objetivo é ambiental, muito voltado ao tema da eficiência e no consumo da energia e na contenção do aquecimento global”, explicou em entrevista à Agência Brasil.

Conforme a empresa, além de facilitar o pagamento dos clientes, o programa contribui diretamente para a Política Nacional de Resíduos Sólidos e com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda (ODS) 2030 da ONU.

O cliente que quiser aderir ao programa precisa apenas apresentar a conta de energia e um documento com foto em um dos 198 pontos de coleta em funcionamento nos três estados e receber o cartão Ecoenel. Depois que fizer o cadastro, poderá levar os resíduos limpos e já separados por tipo de material até o ponto de sua preferência. Os materiais são pesados nos ecopontos e o valor do bônus é creditado automaticamente na conta de energia do cliente ou de uma instituição social indicada por ele.

“Só nos seis primeiros meses deste ano a gente arrecadou quase 4 mil toneladas de resíduos que colaboraram para evitar a emissão de aproximadamente 8 mil toneladas de gás carbônico na atmosfera e gerou quase R$ 1,4 milhão em bônus na conta de luz de mais 23 mil de clientes nas distribuidoras do Rio, São Paulo e Ceará”, revelou Márcia Massotti.

A diretora destacou os projetos desenvolvidos pela empresa em diversas aplicações da busca da eficiência energética. “Nesse pilar de geração de renda, fazemos projetos de empreendedorismo, de capacitação, de empregabilidade, para que de fato, o orçamento familiar possa aumentar, e assim essa família tenha condições de pagar a sua fatura de energia”.

Luminárias

A cidade do Rio de Janeiro também tem programa de eficiência energética. A Parceria Público-Privada de Iluminação Pública conta com 457 mil luminárias de LED instaladas por toda a cidade. O número superou a expectativa inicial de 450 mil previstas no contrato. Agora, depois de uma avaliação da Rioluz, foram identificados mais 80 mil pontos de luz novos que precisariam ser atendidos e por isso houve uma atualização no projeto inicial. O investimento previsto na parceria para a modernização da iluminação da capital é de R$ 1,4 bilhão.

“Até o final do ano, vamos transformar a cidade em um Rio de LED”, disse o presidente da Rioluz, Eduardo Feital.

Ainda na esteira da eficiência energética, a Prefeitura do Rio de Janeiro vai instalar também no sistema de PPP com o Consórcio Rio Solar, uma fazenda de energia solar em um antigo aterro sanitário desativado em Santa Cruz, na zona oeste da cidade. A expectativa da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), responsável pelos contratos de PPP no município, é do programa Solário Carioca gerar, pelo menos, R$ 2 milhões de economia, por ano, para o município, com uso de energia limpa em imóveis da prefeitura.

A energia produzida pelo Solário Carioca no antigo aterro sanitário desativado vai abastecer cerca de 45 escolas municipais ou 15 unidades de Pronto Atendimento (UPA). O investimento privado é estimado em R$ 45 milhões em um período de 25 anos. De acordo com a prefeitura, a Usina Solar Fotovoltaica (USF) funcionará no modelo de Minigeração Distribuída de energia limpa e terá potência de 5 megawatts (MW).
Ao todo, serão mais de 11 mil painéis que devem ser instalados em 1 ano após assinatura do contrato. Outras quatro áreas para implantação de usinas fotovoltaicas semelhantes já foram identificadas pela prefeitura.

“Se seguiu por esse local, primeiro para dar uma destinação de um aterro desativado, além da facilidade jurídica pela regularização, pela necessidade da região, pela boa qualidade do imóvel, que não tem sombra, e é um lugar plano. Tecnicamente falando, era bom, então por vários motivos técnicos se chegou à decisão de utilizar aquele imóvel. Também por decisões técnicas estratégicas chegou-se a decisão de usar uma PPP para a implantação e depois a operação desse projeto”, revelou o diretor de estruturação de projetos da Ccpar, Lucas Costa.

Para o diretor executivo da Revolusolar, Eduardo Ávila, a questão da eficiência energética é fundamental, em especial nas comunidades onde a ONG realiza projetos de geração distribuída, que têm resultado em economia para os moradores. Segundo o diretor, junto com a instalação de sistemas fotovoltaicos tem a implementação da solar térmica, destinada ao aquecimento de água.

Ávila destacou que conforme dados do IBGE, um dos maiores itens de consumo das famílias de baixa renda no Brasil, é o chuveiro elétrico. “Chega a 20%, 30% em alguns casos. Só com o solar térmica para aquecer água se consegue reduzir bastante o consumo de energia e depois o resto pode ser suprido por fotovoltaica. A gente entende também que a eficiência energética vai para muito além dos equipamentos, nessa perspectiva técnica. É fundamental também a perspectiva de custo benefício, a mudança de hábitos de consumo que a gente consegue enxergar também com a implantação da solar fotovoltaica”, disse à Agência Brasil.

Ávila disse que estudos no campo das ciências comportamentais mostram que a aproximação maior do consumidor, agora, também produtor de energia, para esse ambiente da geração de energia elétrica, produz o efeito de valorização. “A pessoa ao gerar sua própria energia valoriza muito mais e acaba tendo hábitos de consumo mais eficientes. Inclusive, a geração distribuída é considerada em nível do sistema interligado nacional uma medida de eficiência energética ao reduzir na ponta o consumo das famílias em relação à rede elétrica”, completou.

“As famílias atendidas tendem a usar, principalmente, as economias na conta de luz, mais de 90% com alimentação, quer dizer, é uma questão de segurança alimentar também nos projetos que a gente desenvolve”, disse.

A Revolusolar foi criada há 7 anos e desenvolve projetos em comunidades, como a da Babilônia, na zona sul do Rio de Janeiro. Lá, atualmente, 34 famílias participam do programa. A ONG instalou uma usina na comunidade e a perspectiva, segundo Bruna Santos, presidente da Cooperativa de energia renovável Percília e Lúcio, é que até o fim do ano o número de usinas seja ampliado, o que vai permitir atender até 100 famílias neste tipo de fornecimento de energia.

De acordo com Eduardo Ávila, a Revolusolar está replicando o modelo para outras comunidades do município do Rio, como a Maré e Cidade Nova, e para outros estados como um conjunto habitacional e uma comunidade, em São Paulo; Minas, Espírito Santo; e uma comunidade indígena no Amazonas.

Agência Brasil

Moraes homologa acordo de delação e manda soltar Mauro Cid, ex-auxiliar de Bolsonaro

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), homologou neste sábado (9) o acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Com a decisão, Cid será solto, mas terá de usar tornozeleira eletrônica. A informação foi revelada pela GloboNews e confirmada pela Folha.

O teor dos relatos e provas que o militar pretende apresentar em seu acordo permanece sob sigilo.

Em publicação em rede social, o procurador-geral, Augusto Aras, afirmou neste sábado que a Procuradoria-Geral da República não concorda com acordos de colaboração firmados pela PF, como foi o caso do fechado pelo militar.

“A PGR, portanto, não aceita delações conduzidas pela Polícia Federal, como aquelas de Antonio Palocci e de Sergio Cabral, por exemplo.”

Aras ainda afirmou que o subprocurador-geral da República que se manifestou na delação de Mauro Cid apenas postula “que se cumpra a lei”. O Supremo, no entanto, desde 2018 considera que as polícias têm autonomia para firmar os acordos de colaboração.

Moraes recebeu em seu gabinete uma proposta de delação premiada feita pelo tenente-coronel, em audiência na quarta-feira (6) com a presença do próprio Cid e de seu advogado, Cezar Bittencourt.

Preso há mais de quatro meses no Batalhão do Exército de Brasília, Cid era um dos assistentes mais próximos de Bolsonaro e adotou postura de maior cooperação com autoridades policiais após mudar de advogado, em agosto.

Em julho, ele compareceu a CPI do Congresso sobre o 8 de janeiro e ficou em silêncio, lendo apenas uma manifestação na qual minimizou a importância de sua função na Presidência na antiga gestão.

Julia Chaib e Constança Rezende, Folhapress

Secretaria de Saúde de Ipiaú participa de congresso regional de saúde pública

A Prefeitura de Ipiaú, por meio da Secretaria de Saúde, marcou presença nesta semana em Salvador no 9º Congresso Norte/Nordeste de Secretarias Municipais de Saúde e no 10º Congresso dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia.
O evento, que foi realizado no Centro de de Convenções, é considerado um dos maiores encontros de Saúde Pública no Brasil. Reuniu gestores, trabalhadores de saúde e profissionais do Sistema Único de Saúde de 2.244 municípios das regiões Norte e Nordeste. Com o tema "As especificidades do Norte e Nordeste na Regionalização do SUS," o evento proporcionou uma plataforma crucial para a troca de conhecimentos e experiências.
O Congresso também contou com palestras no auditório e também a tradicional Feira "Aqui tem SUS," onde estandes de diversas instituições, públicas e privadas, exibiram produtos, serviços e tecnologias relacionados à saúde pública. Neste ano, foram previstos 53 estandes, demonstrando a diversidade e inovação no campo da saúde.

A secretária Laryssa Dias ressaltou a relevância da participação de Ipiaú no congresso, promovido pelo Conselho de Secretarias Municipais de Saúde da Bahia (COSEMS BA). "Nossa presença aqui é fundamental para agregar conhecimento e ideias que vão enriquecer nossa atuação na Secretaria de Saúde de Ipiaú. Compartilhamos desafios e soluções com outros municípios, aprendendo com suas experiências e contribuindo com as nossas."


Texto e fotos: Michel Querino / Decom Prefeitura de Ipiaú

Zanin mostra independência, e ministro do STF não é empregado do presidente, diz especialista

O advogado constitucionalista Álvaro Palma de Jorge vê com bons olhos os votos de Cristiano Zanin no STF (Supremo Tribunal Federal). Não por concordar com o conteúdo deles, mas porque eles mostram a independência do ministro.

Nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Zanin tem sido criticado por setores da esquerda, decepcionados com o teor conservador de decisões do ministro recém-empossado.

Para Jorge, que é professor da FGV Direito Rio, há muito alarde em torno disso quando o oposto seria pior: um ministro que votasse sempre alinhado com o presidente que o indicou provocaria um desgaste de legitimidade da corte.

“O STF não é um ambiente político-partidário. Por mais que o presidente procure nomear alguém que tenha uma visão de mundo alinhada à sua, não se pode esperar que o ministro do Supremo vá ser um empregado do presidente da República”, afirma Jorge.

Autor do livro “Supremo Interesse” (ed. Synergia, 2020), sobre a evolução na escolha dos ministros do STF, Jorge critica a ideia de tornar os votos sigilosos, como sugeriu Lula, e propõe medidas para aperfeiçoar o processo de nomeação para a corte.

Existe uma pressão para Lula nomear para o STF uma mulher, de preferência negra. Qual é sua avaliação sobre esse tipo de critério?

Do ponto de vista formal, os critérios previstos na Constituição são o notável saber jurídico, a reputação ilibada e a idade, maior de 35 anos. Dentro disso, existe uma discricionariedade bastante ampla. Mas, se você pegar a história de indicação de membros do STF, você vai ver que são quase sempre homens brancos do Sudeste.

O direito constitucional é um direito vivo, em que sempre se estão interpretando temas como igualdade, dignidade etc. É importante trazer para dentro desse debate pessoas que deem representatividade a uma visão de mundo mais próxima à realidade de determinados grupos.

E quanto a um equilíbrio entre conservadores e progressistas, isso também deveria ser uma preocupação?

O STF não é um ambiente político-partidário. Por mais que o presidente procure nomear alguém que tenha uma visão de mundo alinhada à sua, não se pode esperar que o ministro do Supremo vá ser um empregado do presidente da República.

O ministro chega com todas as garantias de independência justamente para poder julgar com liberdade. É um equívoco conceitual esperar fidelidade canina. Aliás, na história recente, há vários exemplos de ministros que julgaram contra os interesses de quem os indicou. Isso é natural e é bom que seja assim.

O [Edson] Fachin, recém-entrado na corte, julgou um caso do processo de impeachment e deu voto contrário ao interesse da Dilma [Rousseff], que o nomeou. O André Mendonça votou contra o Daniel Silveira, contrariando uma visão de Jair Bolsonaro, que o indicou. A Rosa Weber, indicada pela Dilma, votou contra o HC [habeas corpus] do [Antonio] Palocci.

Então não precisamos necessariamente ter um equilíbrio de forças. Isso às vezes acontece no Brasil, assim como nos Estados Unidos, por causa da composição específica de um momento. A corte também pode ser mais liberal ou mais conservadora; isso é natural da democracia. Mas a pluralidade de visões, essa, sim, é importante.

Setores da esquerda têm criticado o ministro Zanin por votos considerados conservadores. Essas críticas fazem sentido?

Do ponto de vista da decepção da esquerda com os votos do Zanin, isso é um tema extracorte. O que o ministro demonstrou, e acho que isso é importante, é uma independência sobre determinados temas. Ele tem entendimentos diferentes daqueles do presidente ou do grupo político que apoia o presidente.

Veja o caso do ministro Alexandre de Moraes. Hoje, ninguém tem dúvidas sobre a importância do papel dele na condução do processo eleitoral, mas, no momento em que ele foi indicado para o Supremo, o PT fez uma nota muito dura, dizendo que era uma escolha não republicana e que violava os interesses jurídicos do país.

Não se deve esperar que o ministro vote porque tem um alinhamento político A ou B. O que ele tem é uma visão do direito A ou B, e essa visão, que precisa ser fundamentada, pode contrariar um interesse político.

Acho que tem sido feito muito alarde sobre essas decisões [do Zanin]. O contrário seria muito ruim: se você tiver a percepção de que o ministro julga não com base na lei ou em sua convicção, mas por ter um alinhamento com o presidente, aí teríamos um problema de legitimidade da corte.

Lula afirmou dias atrás que os votos dos ministros deveriam ser sigilosos, para evitar que eles se tornem alvo de ataques. Como o sr. vê essa questão?

Não existe decisão do Poder Judiciário que não seja motivada e pública. Essa é uma garantia básica do Estado de Direito. Agora, a gente tem um regime em que os votos de cada ministro são explícitos; isso ressalta o papel individual de cada um e diminui o posicionamento da corte como instituição. Isso, de fato, leva a determinados debates.

A deliberação, que é a discussão entre os ministros, pode ser mais ou menos aberta. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela é fechada, e o voto que sai da deliberação é a posição da corte. Mas não existe sigilo na decisão. Você sabe quais ministros estão na maioria e quais não estão.

No Brasil, com a TV Justiça, existe um controle social do que ocorre ali no Supremo. Para o bem ou para o mal, acho que não dá para voltar atrás. Se o presidente acertou no diagnóstico da doença –não se pode admitir que ministro do Supremo seja perseguido no meio da rua porque deu um voto A ou B—, o remédio foi apressado, não foi bem pensado.

Atualmente, não só os julgamentos são acompanhados com atenção mas também o processo de nomeação dos ministros. Desde quando é assim?

O processo de escolha de ministro sempre foi o mesmo: o presidente indica e o Senado aprova. Mas, antes da Constituição de 88, não havia propriamente uma sabatina como se faz hoje; era basicamente um rito de passagem. Após 88, com a estruturação dessa sabatina em que a Comissão de Constituição e Justiça olha mais em detalhe para o nome, a atenção também foi crescendo –porque foi crescendo o protagonismo do Supremo.

Uma das hipóteses é que quem primeiro se ligou nessa importância foi o próprio Legislativo. Na década de 90, quando as CPIs começaram a ganhar força, havia muita dúvida sobre os procedimentos, e o Supremo interveio várias vezes. O STF também começou a dar decisões limitando o uso de medidas provisórias.

Essas questões mais políticas deram uma luz nova para a escolha dos ministros do Supremo. Depois a própria sociedade começou a ver o quanto era importante [esse tema]. A gente parava para pensar em eleger deputado, senador, e de repente o ministro do Supremo podia, sozinho, tomar decisões muito mais relevantes.

No final dos anos 2000, a partir de 2010, esse assunto ganhou mais relevância por causa da divisão política. Existia a expectativa de que alguém ia entrar no Supremo e estar mais próximo de uma visão política.

Esse processo levou a uma alteração no perfil dos ministros nomeados?

No macro, não. Em regra, foram juízes brancos etc. Mas o que a gente começa a ver é uma concentração um pouco maior de pessoas com passagem por Brasília. Ou seja, estar próximo do poder central passou a ser não um critério, mas uma qualidade.

Existe uma crítica de que o Senado não cumpre seu papel na nomeação de ministros do STF, já que há mais de cem anos não rejeita um nome. O sr. concorda?

O fato de não haver rejeição não é suficiente para dizer que o processo não funciona. Veja que, no início do governo, Bolsonaro alardeou que indicaria um filho para a Embaixada do Brasil em Washington. É uma indicação que também precisa da aprovação do Senado. Esse nome [do filho] nunca foi enviado. Porque o presidente sabia que não tinha capacidade de convencer os senadores.

Num sistema de controles mútuos, é importante entender que a mera existência do poder de veto já condiciona as escolhas que o presidente pode fazer.

De que maneira seria possível aperfeiçoar o processo de escolha de ministro

A sociedade pode contribuir mais. Primeiro, o presidente poderia fazer um pronunciamento explicando por que está escolhendo determinada pessoa. Isso não é inventar a roda, mas vai fazer com que o debate ganhe uma vida pública ainda maior.

Depois, a gente precisa de mais tempo de investigação, de deliberação; um hiato de pelo menos uns 30 dias, como acontece no México, por exemplo, entre a indicação e a sabatina. Uma terceira sugestão é o Senado fazer audiências públicas prévias à sabatina, para a sociedade levar contribuições.

E, finalmente, o questionário que o indicado já envia para o Senado poderia incluir informações sobre quem o apoia, se tem alguém financiando a candidatura, pagando assessoria de imprensa, viagem para visitar senador etc. Além disso, poderia incluir informações sobre possíveis conflitos de interesse na corte. Ou seja, se o escritório tem algum caso relevante lá.

São mudanças que podem ser feitas sem emenda constitucional, que têm caráter republicano e que poderiam ajudar a energizar o debate.

RAIO-X

Álvaro Palma de Jorge, 50

Advogado, mestre pela FGV Direito Rio e pela Universidade Harvard, é professor de direito constitucional da FGV Direto Rio. Escreveu o livro “Supremo Interesse” (ed. Synergia, 2020), sobre o processo de escolha dos ministros do STF.

Uirá Machado, Folhapress

Terremoto de magnitude 6.8 deixa ao menos 820 mortos no Marrocos

Um forte terremoto atingiu o Marrocos na noite desta sexta-feira (8) e deixou pelo menos 820 pessoas mortas e 672 feridas, incluindo 205 em condições graves, de acordo com informações da mídia estatal local que atualizaram as estimativas anteriores. O número de vítimas, que já faz desse abalo o mais mortal desde 2004, ainda é preliminar, segundo o Ministério do Interior.

O terremoto ocorreu em Ighil, nas montanhas do Alto Atlas, cerca de 70 quilômetros a sudoeste de Marrakech, a uma profundidade de 18,5 quilômetros, às 23h11 no horário local (19h11 do horário de Brasília).

De acordo com as autoridades, as mortes se concentram nas províncias e municípios de Al Hauz, Marrakech, Uarzazat, Azilal, Chichaoua e Tarudant. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram cenários de devastação.

“A terra tremeu por cerca de 20 segundos. As portas se abriram e fecharam sozinhas enquanto eu descia correndo do segundo andar”, disse à agência de notícias Reuters Hamid Afkir, professor em uma área montanhosa a oeste do epicentro, perto da cidade de Taroudant.

A vice-governadora do Ceará, Jade Romero, e o vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza, estavam em Marrakech com suas respectivas comitivas para o Encontro Mundial de Geoparques. “Toda nossa comitiva do Governo do Estado do Ceará está bem e em local seguro”, afirmou Romero pelo X, antigo Twitter. A equipe de Souza também está protegida e deve retornar ao Brasil neste sábado (9), de acordo com a assessoria do político.

“A população nessa região vive em estruturas altamente vulneráveis a abalos sísmicos”, afirmou o Serviço Geológico dos Estados Unidos, que estimou a magnitude do terremoto em 6.8. O centro geofísico do Marrocos, por sua vez, disse que o terremoto teve magnitude de 7.2.

Na cidade antiga de Marrakech, um Patrimônio Mundial da Unesco densamente povoado, casas desabaram e um muro apresentava rachaduras e trechos destruídos. Durante a noite, as pessoas estavam tentando remover manualmente os escombros enquanto aguardavam equipamentos adequados, disse à Reuters Id Waaziz Hassan, um morador.

“Via os edifícios se movendo”, disse à AFP Abdelhak el Amrani, de Marrakech, que afirmou ter havido uma queda da eletricidade de dez minutos. “As pessoas estavam em pânico. As crianças choravam, os pais estavam desamparados.”

Pessoas na capital, Rabat, e na cidade costeira de Imsouane, ambas perto do epicentro, também fugiram de suas casas com medo de um terremoto mais forte, segundo testemunhas da Reuters.

Montasir Itri, morador da vila de Asni, disse que a maioria das casas foi danificada. “Nossos vizinhos estão sob os escombros e as pessoas estão trabalhando duro para resgatá-los usando os meios disponíveis”, disse ele.

Marrocos frequentemente experimenta terremotos em sua região norte devido à sua localização entre as placas africana e euroasiática. Em 2004, pelo menos 628 pessoas morreram e 926 ficaram feridas quando um terremoto atingiu Alhucemas, no nordeste do país.

Em 1980, o terremoto em El Asnam, na Argélia, com uma magnitude de 7,3, foi um dos terremotos mais destrutivos da história contemporânea. Resultou na morte de 2.500 pessoas e deixou pelo menos 300 mil pessoas desabrigadas.

Folhapress

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