Israel deve analisar proposta do Egito para encerrar conflito em Gaza

De acordo com a proposta, haverá uma pausa inicial nas batalhas para permitir a libertação de reféns israelenses em troca do fim da prisão de 140 palestinos
O governo de Israel deve analisar uma proposta do Egito para encerrar o conflito na Faixa de Gaza. O plano, que consiste em três etapas, será discutido pelo gabinete da guerra contra o Hamas ainda nesta segunda-feira, 25. De acordo com a proposta, haverá uma pausa inicial nas batalhas em Gaza para permitir a libertação de reféns israelenses em troca do fim da prisão de 140 palestinos detidos em Israel. Além disso, está prevista a formação de um governo de transição para a Faixa de Gaza e Cisjordânia, composto por várias facções palestinas, incluindo o Hamas. 

O Egito compartilhou a proposta na semana passada com líderes de Israel, do Hamas, do Qatar e dos Estados Unidos, além de discutir o assunto com a Autoridade Palestina. Durante essas discussões, também foi abordada a criação de um governo tecnocrata provisório após o fim do conflito em Gaza. No entanto, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, indicou que o cessar-fogo não ocorrerá tão cedo. Durante uma visita a soldados no norte de Gaza, ele afirmou: “Não vamos parar, a guerra continua até o final”.
*Com informações do Estadão Conteúdo

União Brasil quer aumentar filiações e eleger 700 prefeitos em 2024

O União Brasil estabeleceu como meta eleger cerca de 700 prefeitos em 2024. Para isso, deve criar no começo do ano um grupo de trabalho, com um coordenador eleitoral responsável por cada uma das cinco regiões do país.

A legenda, surgida da fusão de DEM e PSL e aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2022, deverá ter novo comando a partir de maio. Atual vice-presidente, Antônio Rueda assumirá a presidência, no lugar do deputado federal Luciano Bivar (PE).

O partido espera filiar diversos prefeitos antes da eleição. Para isso, no entanto, enfrenta a concorrência de outros partidos de centro, como MDB e PSD.

Fábio Zanini/Folhapress
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Grupo chinês promete investir um PIB do Brasil na Paraíba, levanta suspeita e é investigado

Um grupo chinês escolhe Mataraca, cidade de menos de 10 mil habitantes no norte da Paraíba, para um megainvestimento: a construção de um porto de águas profundas e de uma cidade de fazer inveja em Dubai.

Em cerimônia no dia 11 de dezembro com prefeitos da região, secretários estaduais, representante do governo federal, padre e vereadores, os envolvidos assinaram um protocolo de intenções. No evento, hinos da China e do Brasil e uma oração para abençoar o novo empreendimento.

“Mataraca pode vir a ser no futuro a cidade mais moderna do Brasil e do continente americano, vivenciando um desenvolvimento jamais materializado em todo o país”, disse o mestre de cerimônias sobre a cidade anunciada para abrigar 3 milhões de pessoas —mais de três vezes a população de João Pessoa.

Os prazos: três anos para o porto e cinco anos para a cidade. O investimento: R$ 9 trilhões —quase o PIB do Brasil em 2022.

É o que promete a Brasil CRT Construção de Nova Cidade Ltda., empresa sem site, telefone ou experiência prévia comprovada. No cadastro do CNPJ, a companhia diz que tem um capital social de R$ 800 bilhões —quatro vezes o capital social informado no CNPJ da Petrobras, maior empresa do Brasil.

A companhia, com sede em Belo Horizonte, é comandada pelos chineses Jianing Chen e seu filho Ruotian Chen. Em conversa com a Folha, sustentam que os valores estão corretos e que têm capacidade para construir o empreendimento monumental no prazo tão curto.

Mas o restante dos envolvidos não tem tanta certeza disso.

O que deveria ser o lançamento da pedra fundamental do projeto que transformaria para sempre a região —e, com esses montantes, até o Brasil— mostrou-se muito mais complicado que isso.

Logo após a cerimônia, o Jornal da Paraíba revelou que o vídeo apresentado na cerimônia em Mataraca no dia 11, que deixaria qualquer metrópole dos “Jetsons” no chinelo, era na verdade o projeto de um escritório dinamarquês para um distrito futurista em Shenzhen, no sul da China —onde estão as maiores empresas de tecnologia do país.

À Folha Jianing Chen afirmou que havia dois vídeos para serem exibidos na cerimônia. “Mas o primeiro foi deixado acidentalmente em um laptop em um hotel, então só pudemos mostrar o segundo vídeo na reunião. Gostamos de algumas das novas ideias de design e estilos deles, e planejamos incorporar esses novos elementos em nosso design real de construção”, disse.

Na cerimônia, o diretor de relações públicas da empresa, Gianninni Farias, afirmou: “Isso é um projeto real e iremos construir em Mataraca”.

Após a revelação do projeto copiado, o consulado da China no Recife, que atende a região, afirmou à imprensa local que desconhece a empresa e ter “motivo para acreditar que é uma fraude”.

O vice-cônsul da China no Recife, He Yongwei, não falou em fraude em conversa com a reportagem, mas reiterou que “não possui informações a respeito dessa empresa nem do projeto supracitado, e não tem nenhum contato com a empresa.”

No evento em Mataraca, Ruotian Chen afirma que o projeto “segue firmemente o plano de desenvolvimento da iniciativa Belt e Estrada da China”, referindo-se à Nova Rota da Seda, ou “Belt and Road Initiative” em inglês, em que Pequim financia projetos de infraestrutura em todo o mundo em um projeto de expansão de influência. O Brasil não aderiu oficialmente ao projeto.

O CEO da empresa disse à Folha que nunca afirmaram ser parte da iniciativa do governo, mas que apenas que o apoiavam.

Com tudo isso, a promotora de Justiça de Mamanguape, Ellen Veras, resolveu instaurar “procedimento extrajudicial” para investigar o caso, disse o Ministério Público da Paraíba à reportagem.

Após a revelação das suspeitas, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), desmarcou uma reunião que teria com o grupo no dia seguinte à cerimônia.

Nonato Bandeira, secretário de Comunicação do estado, afirmou à reportagem que “o governo não teve nenhum contato” com os empresários.

“Tentaram uma audiência por meio de um auxiliar do governo, mas, quando entramos em contato com a Embaixada da China para saber se representavam ou tinham aval do governo chinês, como alardeavam por aqui, recebemos a informação de que esse perímetro era de total desconhecimento do governo lá na China. Sem falar dos valores absurdos fora de qualquer realidade”, disse.

Mas ao menos dois representantes do governo paraibano estiveram na cerimônia de assinatura do contrato em Mataraca, no dia 11. Robson Barbosa, secretário-executivo de Energia da Secretaria de Infraestrutura, discursou no palco do evento e tirou foto com os empresários.

“Da parte do governo do Estado, nós viemos para apoiar, viemos para apoiar”, disse. “Em se concretizando, isso é um projeto que elevará a região e a Paraíba a outro patamar. Vamos unidos dar as mãos para concretizar esse projeto”, afirmou.

Mas como esse grupo de chineses foi parar na pequena Mataraca com a proposta de uma ‘cidade do futuro’?

Bianca Bezerra, secretária de Cultura da cidade, conta que a região “perdeu de forma bruta e extrema a arrecadação” desde que uma mineradora encerrou as operações no local há três anos. A partir daí, governantes da região tentaram retomar um projeto antigo de construção de um porto.

“Nos últimos dois anos, a prefeitura vem pedindo junto ao governo do estado a oportunidade de abrir as portas para investidores colocarem o porto aqui, para aumentar o emprego e a renda. E então surgiu esse projeto”, conta.

Quem apresentou os chineses aos políticos da região foi José Orlando, presidente da consultoria BNBR Brasil.

Em maio de 2021, conta Orlando à Folha, os chineses o procuraram em busca de terras na região para desenvolver um projeto de cidade. Primeiro, conheceu pessoalmente Gianninni Freitas, diretor de relações públicas, e o apresentou aos secretários estaduais Deusdete Queiroga Filho (Infraestrutura e dos Recursos Hídricos) e Gilmar Martins Santiago (Planejamento, Orçamento e Gestão).

Segundo ele, os chineses estavam interessados em 11 mil hectares na região. Eles não chegaram a fechar a compra de nenhuma terra, conta, mas negociaram em regime de permuta as áreas em troca de unidades habitacionais na suposta nova cidade.

Orlando afirma que foi surpreendido pelo valor anunciado de R$ 9 trilhões, porque durante as negociações a empresa falava em R$ 150 bilhões. Além disso, a nova cidade seria para 250 mil habitantes, não para 3 milhões.

Apesar da mudança expressiva, ele não endossa as suspeitas de fraude.

“Uma empresa não vai passar 36 meses buscando oportunidades de negócios, investindo milhares de reais com foco num determinado negócio para jogar tudo pela janela”, diz.

“A CRT Brasil não é administrada por aventureiros, e sim por empresários com expertise e que sabem aonde querem chegar”, afirmou.

A ideia do porto de águas profundas em Mataraca não é nova. Giovanni Giuseppe Marinho, superintendente do Patrimônio da União que esteve na cerimônia no dia 11, conta que há projeto para a criação do porto desde 2009.

A ideia chegou a ser apresentada no Senado em 2010 pelo então senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB). “O porto é um projeto sério, é um projeto público”, diz Marinho. Segundo ele, na ocasião falava-se em investimento de R$ 4 bilhões.

“Há cerca de 20 dias o prefeito [de Mataraca, Egberto Madruga (PSB)] me convidou para esse evento. Até então, eu pensava se tratar do porto. Mas cheguei lá o projeto do porto ficou minúsculo perto do que se apresentou.”

E o porto deve ficar ainda menor perto da cidade. Quando a Folha questionou a empresa como atrairia 3 milhões de pessoas para a região, o CEO Jianing Chen pediu que a reportagem “amplie sua visão de mundo”.

Com desenvolvimento de indústria de alta tecnologia, diz, com direito a “pesquisa em fusão nuclear” e “desenvolvimento da indústria aeroespacial”, o “objetivo é que a nova cidade possa acomodar 35 milhões de pessoas” e “crie direta e indiretamente 20 milhões de empregos”.

Questionado de onde a empresa tiraria R$ 9 trilhões, Chen afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos”, antes de emendar com um provérbio: “Grilos de verão não podem falar sobre o gelo, e sapos de poço não podem falar sobre o mar.”

E quantos funcionários trabalham na Brasil CRT hoje? “Venha ver quantos trabalhadores estarão em nosso canteiro de obras no próximo ano. Certamente isso irá satisfazê-lo”, foi a resposta dos chineses.

Que experiência em construção a empresa tem? “Os consórcios estão envolvidos em milhares de grandes projetos de construção internacionais. Quando você olha para baixo de um voo internacional, muitos dos grandes edifícios podem ter a presença do consórcio.”

Mas, com todo o rebuliço, o grandioso projeto dos Chen para a Paraíba ficou ameaçado.

Diante das suspeitas, os supostos investidores internacionais notificaram a Brasil CRT, diz Chen, para cancelar o empreendimento. “Iremos realizar outro projeto de investimento maior em outro estado do Brasil”, disse ele à reportagem.

Thiago Amâncio/Folhapress

Rui Costa está entre os ministros que mais tiveram reuniões com Lula em 2023

Os ministros mais próximos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao longo de 2023 foram aqueles que trabalham diretamente com ele no Palácio do Planalto, seguidos pelos da Defesa, Justiça e área econômica. Considerando tanto reuniões individuais quanto coletivas, incluindo as reuniões ministeriais, Lula realizou mais de 800 compromissos com seu alto escalão ao longo de 2023, o primeiro ano de seu terceiro mandato.

Enquanto alguns ministros, como Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e Rui Costa, da Casa Civil, estiveram presentes em mais de 100 encontros com o presidente durante o ano, outros, como Celso Sabino (Turismo), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Juscelino Filho (Comunicações), André de Paula (Pesca) e Anielle Franco (Igualdade Racial), não tiveram nem cinco oportunidades de se reunir diretamente com seu chefe ao longo de 2023.

Os dados sobre as interações de Lula com seus ministros foram levantados pela agência Fiquem Sabendo (FS) por meio da ferramenta Agenda Transparente, a pedido do site Metrópoles. Essas informações são baseadas nas agendas oficiais dos participantes dos eventos.

Vestido de Papai Noel o vereador Ivonilton distribuiu presentes no Bairro Novo

Mais uma vez o vereador Ivonilton Conceição aproveitou o período natalino para se vestir de Papai Noel e presentear crianças da periferia da cidade, notadamente do Bairro Novo, onde reside, com brinquedos e mensagens de afeto. 
Já são 10 anos consecutivos que ele realiza esse ato de fraternidade. Este ano os presentes foram entregues na véspera de Natal , 24. Foram presenteadas mais de 250 crianças residentes nas ruas Dezenove de Abril, Nara Nery  e Eugenia Costa, além de outras do bairro. Cada uma delas demonstrou grande felicidade ao receber o mimo.

 “É sempre uma grande  satisfação fazer esses crianças felizes  e receber delas, juntamente com seus pais,  um sorriso de gratidão “, disse o vereador. 

( José Américo castro/ASCOM-Câmara Municipal de Ipiaú).

Comandantes das Forças Armadas querem militares distantes da política nas eleições de 2024

O ano começou com a política acampada nos quartéis e termina com o desejo expresso pelo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, em sua mensagem de Natal à tropa de que, em 2024, cada soldado esteja “preocupado com as coisas de soldados”. Tomás não está só. Os comandantes da Forças Armadas querem seus subordinados distantes da polarização da política partidária, que deve aumentar, quando os candidatos a prefeito e a vereador tomarem as ruas das mais de 5 mil cidades brasileiras.

O general teve de se esforçar para lidar com o que se esgarçara em razão da má-vontade de muitos na caserna com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Tomás se preparava para ir para a reserva quando seus planos foram atropelados. Primeiro, quando a multidão bolsonarista invadiu as sedes dos três Poderes, em Brasília, esperando que as Forças Armadas se levantassem em seu socorro e apeasse o petista do poder. Semanas depois, foi a indisposição do general Julio Cesar Arruda em remover o tenente-coronel Mauro Cid do comando de um batalhão que levou Tomás de surpresa ao comando da Força Terrestre.

O desejo de conciliação fizera Lula nomear Arruda como comandante por ser o oficial mais antigo na ativa. O 8 de janeiro mudou tudo – só Arruda não viu. Dentro de 15 dias, a intentona voltará a mobilizar Brasília. Desta vez, os chefes dos Poderes da República vão se reunir para afirmar o desejo de que “nunca mais” a democracia seja ameaçada neste País por quem nega a alternância de poder e pensa a eleição como um tudo ou nada. Essa escatologia semeia apocalipses para esconder o pânico da perda de sinecuras, cargos e privilégios.

Os militares estarão de novo no centro das atenções. Ainda assim acreditam que 2023 ficou para trás. A intentona, a prisão e a delação do coronel Cid e as investigações das CPI do 8 de Janeiro e da Polícia Federal ao lado das denúncias envolvendo Jair Bolsonaro deixaram as Forças Armadas na berlinda. As pesquisas mostram que a imagem pública foi afetada, mas não estraçalhada. Prova disso seria o fato de que o concurso de 2023 para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército contou com 40 mil inscritos para 440 vagas.

Ao longo do ano, a coluna ouviu de diversos militares o desejo de que os fatos de 2021 a 2023 nunca mais se repitam, como as extravagâncias do almirante Almir Garnier, que fez desfilar tanques pela Esplanada no dia em que o Congresso analisava a PEC do Voto Impresso e, depois, recusou-se a passar o cargo ao seu sucessor, o almirante Marcos Olsen. Tampouco querem testemunhar novos oficiais generais envolvidos em acusações de desvio de joias ou general ser chamado de maluco por tentar desalojar os extremistas em frente ao QG.

Uma das apostas da caserna para que as vivandeiras de sempre não encantem os granadeiros é a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional relatada pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que pretende instituir a passagem automática para a reserva do militar que se candidatar, mesmo que não seja eleito. Atualmente, isso só é obrigatório para quem vence as eleições, o que cria situações constrangedoras, como a do militar que no palanque critica os chefes e, depois, derrotado, volta à caserna como se nada tivesse sido dito ou ouvido.

A disposição de cuidar das coisas de soldado pode ser medida pelos planos do Departamento de Educação e Cultura do Exército (Decex). Seu comandante, o general Richard Nunes prepara o aprofundamento das disciplinas de caráter científico e tecnológico em todo o percurso de formação dos oficiais e dos praças, de acordo com o nível que cada um vai atuar. Se antes se estudava topografia na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), agora os cadetes terão aula de geoinformação. “Eles têm de conhecer as coisas relacionadas à atividade fim”, afirmou.

Em 2024, as mulheres cadetes vão poder pela primeira vez escolher na Aman uma Arma combatente, a de Comunicações. Cavalaria, Infantaria, Artilharia e Engenharia ainda serão reservadas aos homens – na Marinha, elas já estão até o Corpo de Fuzileiros Navais. Outra mudança no Exército deve atingir o ensino das disciplinas tradicionais, como História e Ética, que sempre foram tratadas do ponto de vista do pertencimento do aluno à instituição. “Tem de haver pesquisa acadêmica nessas áreas”, disse Nunes. O militar atual deve se questionar sobre a ética no mundo digital, ainda mais quando a realidade da guerra entre povos e nações está à distância de um clique.

Por fim, a preocupação com “as coisas de soldados” deve ainda se manifestar na tentativa de convencer o Congresso a votar outra PEC: a do senador Carlos Portinho (PL-RJ), que destina o equivalente a 2% do PIB para os gastos da Defesa. A necessidade de recursos para os projetos estratégicos da área encontra apoio de setores do PT que veem a Base Industrial de Defesa como uma oportunidade de se buscar o desenvolvimento científico e tecnológico. Se cada vez mais os acordos comerciais cercam outros instrumentos de política industrial, isso não acontece com os da Defesa, pois a área está fora da Organização Mundial do Comércio.

A democracia, no entanto, não se consolida apenas com os militares cuidando das coisas de soldado. Em Como Salvar a Democracia a Democracia, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt dizem que ela cria raízes quando os partidos políticos aprendem a perder eleições. A consciência de que é necessário aceitar o resultado das urnas e rejeitar o uso da violência na política derrotou os vândalos que assaltaram Brasília no dia 8 de janeiro.

Levitsky e Ziblat afirmam ser preciso ainda que os políticos demonstrem lealdade com a democracia. Em primeiro lugar, expulsando os extremistas de suas fileiras, mesmo que seja necessário contrariar as bases partidárias. “Nos anos 1930, o maior partido conservador da Suécia expulsou os 40 mil membros de sua ala jovem, a Organização Nacional da Juventude Sueca, que haviam abraçado o fascismo e Hitler”. Democratas desleais costumam diminuir a importância dos atos violentos cometidos por seus aliados e não se aliam aos seus rivais mesmo quando o objetivo é isolar e derrotar os extremistas.

A lealdade com a democracia exige ainda a ruptura de todos os laços – públicos e privados – com grupos aliados que se envolvem em comportamentos antidemocráticos. Não se deve, segundo os autores, só evitar alianças com eles, mas também evitar seu endosso. Foi o que levou Emmanuel Macron a afirmar que rejeitaria a recente lei de imigração aprovada pela Assembleia Nacional se os votos decisivos viessem do Rassemblement National, o partido da extrema direita francesa. Essa disposição fez Angela Merkel impedir em 2020 a aliança que seu partido queria fazer com os extremistas do Alternativa para a Alemanha (AfD) para governar a Turíngia. Eis aqui dois exemplos de um desafio que permanece aberto no Brasil.

Marcelo Godoy/Estadão Conteúdo

Miliciano Zinho se entrega à polícia do Rio de Janeiro

O miliciano mais procurado do Rio de Janeiro, Luis Antonio da Silva Braga, conhecido como Zinho, se entregou na noite deste domingo (24), véspera de Natal, na Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Foragido desde 2018, Zinho comandou as recentes ações criminosas que pararam a zona oeste da Capital com mais de 30 ônibus queimados.

A prisão do criminoso foi negociada entre os advogados de Zinho, a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. O miliciano tem, pelo menos, 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça.

Da Polícia Federal, Zinho foi conduzido ao Instituto Médico Legal (IML) para exames de corpo de delito e seguiu para o Presídio José Frederico Marques, em Benfica.

“Essa é mais que uma vitória das polícias e do plano de segurança, mas da sociedade. A desarticulação desses grupos criminosos com prisões, apreensões e bloqueio financeiro e a detenção desse mafioso provam que estamos no caminho certo”, disse, em nota, o governador Cláudio Castro.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, comentou a prisão de Zinho. “Registro mais um importante resultado do trabalho sério e planejado que está sendo executado no Rio de Janeiro e em outros estados no combate às facções criminosas. No fim da tarde deste domingo, 24/12, a Polícia Federal, com apoio da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, efetuou a prisão do miliciano mais procurado do estado do Rio de Janeiro. O preso – que estava foragido desde 2018 – é considerado o líder da milícia que atua na zona oeste da cidade. O preso se apresentou aos policiais federais da Delegacia de Repressão a Drogas (DRE/PF/RJ) e do Grupo de Investigações Sensíveis e Facções Criminosas da Polícia Federal (GISE/PF)”, escreveu Dino no X (antigo Twitter).

O secretário-executivo da pasta, Ricardo Cappelli, também se manifestou sobre a prisão. “Prisões importantes sem nenhum tiro. As ações recentes da PF no Rio de Janeiro demonstram que estamos no caminho certo. Trabalho de inteligência e integração com a PRF, a Força Nacional e as Forças Armadas fechando o cerco sobre organizações criminosas. Outros resultados virão”, disse Cappelli no X.
Ana Cristina Campos/Agência Brasil

Governo compra tapete de R$ 114 mil, sofá de R$ 65 mil e piso de R$ 156 mil para Lula e Janja

A primeira-dama Janja

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, resolveram fazer reformas e trocar os móveis dos palácios presidenciais neste ano. Só com um tapete novo, o governo gastou R$ 114 mil para dar mais “brasilidade” ao Palácio do Planalto. Um sofá escolhido por Janja para o Alvorada, residência oficial da Presidência, foi comprado por R$ 65 mil. A colocação de um piso “mais macio e confortável” na Granja do Torto, casa de campo do casal, custou R$ 156 mil para os cofres públicos.

Levantamento do Estadão mostra que o governo gastou R$ 26,8 milhões com reformas, compra de novos móveis, materiais e utensílios domésticos para o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, a Residência Oficial do Torto e o Palácio do Jaburu em 2023. Em comparação com anos anteriores, é o maior gasto com esse tipo de despesa, que não considera a manutenção do dia a dia das residências oficiais e o pagamento de funcionários. Os números são do Portal da Transparência e do Siga Brasil.

Procurada, a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República informou que as peças adquiridas respeitam os padrões e referências dos Palácios oficiais. “Além disso, todas as peças passam a integrar o patrimônio da União e serão utilizadas pelos futuros chefes de Estado que lá residirem.”

A aquisição de novos mobiliários faz parte de um projeto de “modernização” dos Palácios Presidenciais, segundo consta num dos processos de compra da Presidência. No início deste ano, Janja afirmou em entrevista à GloboNews que o Palácio da Alvorada foi danificado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A primeira-dama chegou a mostrar estofados rasgados, pisos estragados e uma mesa quebrada na residência. Com essa justificativa, o casal morou por mais de um mês em um hotel em Brasília. “É bastante trabalho, mas já estamos com a mão na massa para deixar tudo lindo, e reabrir o Alvorada para visitas o quanto antes”, escreveu ela numa rede social. Onze meses depois dessa fala, a visitação ao Palácio da Alvorada, no entanto, segue suspensa.

As compras dos mobiliários foram feitas ao longo de todo o ano e seguem. No último dia 29 de novembro a Presidência da República publicou um edital para a aquisição de 13 tapetes de nylon e de sisal de fibra, sendo três para o Alvorada e 10 para o Planalto. O valor total estimado é de R$ 374.452,71. Os preços de cada tapete variam de R$ 736 a R$ 113.888,82. Os mais caros trata-se de itens inspirados em desenhos modernistas do arquiteto Burle Marx, com formato orgânico pensado a partir das linhas do espelho d’água do Palácio do Planalto e dimensões de 6,8 x 10,3 metros. Essas peças ficarão em áreas onde ocorrem eventos e cerimônias no Planalto.

Para justificar essas aquisições, o órgão alega que os tapetes orientais, que atualmente ambientam as salas e gabinetes dos Palácios Presidenciais, não trazem aos seus espaços a “brasilidade” necessária. Dessa maneira, diz o estudo técnico preliminar, “realizou-se uma pesquisa sobre as tipologias de materiais utilizados na produção de tapetes brasileiros, bem como sobre os locais e meios originários de fabricação das peças de tapeçaria no país objetivando uma maior integração visual entre os espaços do prédio”. O processo de compra ainda está na fase de captação das propostas.

Um decreto publicado em 27 de setembro de 2021 proíbe a aquisição de bens de luxo pelo governo federal, o que inclui a própria Presidência da República. O texto considera bens de luxo aqueles que apresentam ostentação, opulência, forte apelo estético ou requinte. Há, no entanto, duas exceções em que é possível efetuar a compra desses artigos de luxo: primeiro, se for adquirido a preço igual ou inferior ao bem comum; segundo, se tiver características superiores justificadas pelo órgão.

Apesar do alto valor do tapete, a Presidência diz não se tratar de item luxuoso. Procurada, a Secom esclareceu que o item possui as características superiores justificadas em face da estrita atividade do órgão ou da entidade.

A Presidência da República também vai gastar R$ 156.154,77 para trocar os pisos da Granja do Torto, a casa de campo oficial dos presidentes, que conta com lago artificial, piscina, campo de futebol, quadra e churrasqueira. O objetivo da troca de chão é “padronizar” o ambiente com materiais que tenham “maior durabilidade e que exijam uma baixa manutenção”. O novo piso será de vinílico e tem como característica o fato de ser “mais macio e confortável”, conforme destacado pela Presidência durante a compra.

Também estão sendo gastos R$ 130.695,36 num enxoval de lençóis e roupas de cama e de banho. Parte desse valor (R$ 41.750) foi gasto sem licitação, em setembro deste ano. A outra parte (R$ 88.945,36) se refere a um pregão aberto no último dia 4 de dezembro para a aquisição de itens como mantas, fronhas e roupões de banho.

“A aquisição justifica-se para renovar as roupas de cama e banho da família presidencial e de hóspedes nas Residências Oficiais do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto”, diz o estudo que fundamenta a abertura do edital. As colchas vão ornar a nova cama de R$ 42.230 do Alvorada. O item tem revestimento em couro grão natural e pés em metal, e foi adquirido em fevereiro por Janja junto a sofás reclináveis de até R$ 65.140 e poltronas ergonômicas de R$ 29.450.

No fim do ano, a Presidência abriu processos para comprar R$ 182.810 em persianas motorizadas e cortinas e R$ 358.400 em árvores de Natal e arranjos de flores nobres, tropicais e de campo para recepcionar autoridades, políticos e artistas.

Daniel Weterman e Tácio Lorran/Estadão Conteúdo

União Brasil, com três ministérios, resiste a apoiar Lula em 2026

Ronaldo Caiado

Embora comande três ministérios no governo (Comunicações, Integração Nacional e Turismo), o União Brasil tem outros planos para 2026 e não pretende apoiar a provável candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para a disputa presidencial, dois nomes circulam com força nos bastidores do partido: os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União-Goiás).

Em conversas reservadas, dirigentes do União afirmam que preferem um nome da oposição em 2026. Caso Lula saia candidato e seja reeleito, dizem, bastaria negociar o apoio ao novo governo por meio de entrega de votos no Congresso — exatamente como aconteceu no início deste ano.

Se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disputar o Palácio do Planalto, líderes de peso do União Brasil vão defender uma aliança. O ex-ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro, porém, costuma dizer a aliados que prefere tentar a reeleição.

Ao mesmo tempo, a possibilidade de lançar à Presidência o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, um filiado, tem crescido nos bastidores do União Brasil. Seria forma de impulsionar a legenda e evitar fissuras internas já no primeiro turno. Em 2022, o União Brasil teve candidatura própria a presidente, a senador Soraya Thronicke (MS), que hoje está no Podemos. Uma pesquisa interna que aponta para a boa avaliação de Caiado em Goiás deu ânimo à ideia.

Em segundo mandato, Caiado não pode disputar a reeleição e tem um sonho antigo de ser presidente — ele foi candidato em 1989. O governador de Goiás tem sido um opositor de primeira hora à política econômica do governo Lula, com fortes críticas à reforma tributária e à mudança na tributação de benefícios fiscais, como revelou a Coluna.

Eduardo Gayer/Estadão Conteúdo

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