STF ‘estica a corda’, e Congresso vai reagir contra ele, afirma líder da bancada do agro

Presidente da maior bancada do Congresso, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) afirmou que, quanto mais o Supremo Tribunal Federal (STF) “estica a corda”, mais avança a tese propagada no Legislativo para conter o poder dos ministros da Corte. “Ao que me parece eles estão dobrando a aposta”, disse o parlamentar, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de São Paulo.

Lupion afirmou que o início deste ano já tem sido “atribulado” com as recentes decisões do STF. Ele cita, como exemplo, a autorização de busca e apreensão no gabinete do líder da oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), e nos endereços ligados ao ex-diretor da Abin, deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

“Vai haver provavelmente, imagino que deve haver algum posicionamento ou alguma reação do presidente (do Senado, Rodrigo) Pacheco e do presidente (da Câmara) Arthur Lira em relação a isso, mas obviamente que isso acirra os ânimos e incentiva avançar (no Congresso) com essas pautas de limitação aí dessas atitudes”, avaliou o deputado.

O parlamentar disse que, até o ano passado, não via disposição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em apoiar propostas que confrontassem o poder dos ministros da Corte. “Pode ser que com essas atitudes do Supremo (este ano), isso tenha mudado”, ponderou. Lupion avalia que, diante da relação ruim entre os Poderes, em algum momento Lira terá que se posicionar sobre o assunto. Sem o apoio do alagoano, dificilmente a agenda avança na Casa, disse.

No ano passado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), defendeu o avanço da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), aprovada na Casa, que limita decisões monocráticas de ministros do STF. O movimento foi visto com um aceno à oposição, orquestrado com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que trabalha para sucedê-lo no comando da Casa. Segundo Lupion, essa agenda também pode ser determinante na disputa pela sucessão de Lira.

Abaixo, leia os principais trechos da entrevista:

Vimos no ano passado, especialmente no Senado, o avanço na discussão sobre contenção de poder do STF, com a aprovação da PEC que limita decisões individuais de ministros. Também existe a discussão em torno da PEC que estabelece mandatos aos magistrados. Essa agenda pode avançar este ano na Câmara?

Eu acho que quanto mais eles esticam a corda, mais essa tese avança. Nós estamos tendo um começo de ano bem atribulado. Teve operação contra o deputado (Carlos) Jordy, hoje (quinta-feira, 25) operação contra o (Alexandre) Ramagem. Ao que me parece eles estão dobrando a aposta. Vai haver provavelmente, imagino que deve haver algum posicionamento ou alguma reação do presidente (do Senado, Rodrigo) Pacheco e do presidente (da Câmara) Arthur Lira em relação a isso, mas obviamente que isso acirra os ânimos e incentiva avançar com essas pautas de limitação aí dessas atitudes.

E como a FPA vai se posicionar?

A gente tem sempre defendido que essa interferência excessiva do Judiciário no Legislativo é muito negativa e a gente vai continuar com essa tese, dizendo que a gente precisa defender o artigo 49 da Constituição que fala que cabe ao Congresso Nacional zelar por suas atribuições. E é isso que a gente tem feito. Chegamos ao ponto no ano passado que eram tantos os ataques ao Poder Legislativo e a interferência no Poder Legislativo que acabamos convergindo diversas frentes em atuar unidas em relação a isso. E esse grupo está unido. São mais de 20 tantas frentes parlamentares prezando pelo Poder Legislativo e vamos continuar nisso.

Vocês vão defender alguma proposta em específico?

Eu, particularmente, como deputado e não como FPA, sou favorável à PEC 8 (aprovada no Senado, que limita decisões monocráticas), eu sou favorável à limitação de Poderes, sou favorável a impedir decisões monocráticas. Óbvio que eu não posso ser irresponsável em falar por toda a bancada. Mas existem situações como essa decisão monocrática do Fachin em relação às demarcações (em Guaíra, no Paraná) que se a gente tivesse já avançado com esse projeto não teria acontecido. Então tem pontos convergentes que a gente pode acabar trabalhando.

O senhor vê disposição do Lira em avançar nesta agenda que confronta o STF?

Eu não via até esse começo de ano pesado como está tendo. Pode ser que com essas atitudes do Supremo, isso tenha mudado.

O senhor já viu alguma sinalização de mudança?

Não, não falei com ele. O presidente Arthur tem sido bastante parceiro nas pautas do agro, ele sempre tem pautado nossos temas, cumprido o que combina conosco em relação ao calendário de votações. Agora existem pautas que aí é o presidente da Câmara, relação com outro Poder, coisa que não é especificamente sobre a temática do agro que a gente às vezes pode discordar, mas sempre com muito diálogo, com muita transparência. Então acho que ele tem essa capacidade. Eu chamo ele de primeiro-ministro, porque acho que ele está definindo as pautas do Brasil. Então a gente consegue ter essa capacidade de diálogo com ele para avançar nessas pautas importantes.

Haveria espaço na Casa para a proposta contra o STF avançar, mesmo sem o apoio do Lira?

Não. Ele tem que estar junto.

No Senado, nós vimos o Pacheco colaborando no avanço dessas pautas até como fortalecimento junto à oposição de olho na sucessão do seu cargo pelo comando da Casa. Isso pode acontecer na Câmara? Essa pauta pode ser determinante na disputa pela sucessão do Lira?

Pode, claro que pode.

Então Lira vai ter atuar mais firmemente?

Eu acho que sim. Em algum momento ele vai ter que falar. Eu tenho às vezes conversado com ele sobre isso, sobre essa questão do Jordy, nós conversamos um pouco, hoje (ontem) sobre o Ramagem não falei com ele, mas realmente hoje está uma relação muito ruim dos Poderes, ele vai ter que, em dado momento, se posicionar.

O que ele falou sobre o caso Jordy?

Ele falou que estava analisando o que tinha ocorrido, que precisa ter acesso aos autos, mas que iria se posicionar.

O presidente Lula disse nesta semana que vetou parcialmente o projeto do marco temporal das terras indígenas por uma “questão política” e que, com a derrubada do veto pelo Congresso Nacional, restará a decisão do STF sobre o tema. Foi um veto puramente para não desagradar a base, sem cálculo político?

Esse veto foi feito estritamente para jogar para a bolha deles, para torcida deles, para o grupo deles, para fazer com que efetivamente eles estivessem avaliação positiva com a bolha que apoia o governo. Então surpresa zero. É justamente o que a gente sempre dizia que ele tinha feito.

Na entrevista, Lula também disse que pediu ao ministro Paulo Teixeira uma “prateleira de propriedades improdutivas no País” para que não seja necessário discutir mais ocupações ou invasões de terra. É uma saída?

Eu vi essa fala, não entendi o objetivo. A gente entende que se quiser fazer reforma agrária, tem mais de 120 milhões de hectares que estão nas mãos do governo, e poderia fazer demarcação agrária com isso. O que a gente precisa é ter claro que sejam terras que sejam da União e não haja desapropriações.

Agora a grande dúvida é sobre qual tese passa a valer, já que de um lado temos a decisão do STF e do outro a derrubada do veto do marco temporal pelo Congresso. Podem avançar em alguma PEC que trata do tema?

Nós aprovamos a lei, a lei foi promulgada dia 3 de janeiro pelo (presidente do Senado) Rodrigo Pacheco, ela está vigente sem os vetos. A lei está valendo. Enquanto não houver um julgamento em relação ao cancelamento da lei no STF, ela continua vigente. O STF chegou a uma maioria de votos na tese do (ministro Dias) Toffoli sobre a indenização, mas ainda não publicou este acórdão. Então o que está valendo é o que está na lei. Nós vamos trabalhar nas PECs (Propostas de Emenda à Constituição) que já estamos trabalhando. O que não pode, o que nos causou muita estranheza foi a decisão do ministro (Edson) Fachin, monocrática, num período que ele assumiu interinamente a presidência, mandar, no caso de Guaíra, no Paraná, suspender as liminares vigentes lá que impediam a demarcação e mandar dar seguimento à demarcação sendo que o próprio entendimento do Supremo Tribunal Federal é da indenização prévia e a lei que nós aprovamos está vigente. Então realmente foi um excesso, um equívoco e sem dúvida, a gente tem que contestar isso. (Estamos) esperando voltar o recesso do Judiciário para poder contestar. (É) total uma insegurança jurídica e gera uma insegurança no campo muito grande. Isso motiva invasores, incentiva invasões, nosso povo está todo nervoso, está vendo suas terras serem invadidas e infelizmente o STF não contribui para a paz social no campo, pelo contrário.

E como o senhor avalia a estratégia do governo de obter decisões favoráveis via STF?

O governo (Lula) desde o começo decidiu governar com o STF e não com o Congresso. A partir do momento que o governo fica buscando através do Supremo inviabilizar leis e projetos aprovados no Congresso, veta pautas importantes, inclusive pautas de acordo de votação que os próprios parlamentares do PT participaram também, isso tudo buscando suplantar o Poder Legislativo. Infelizmente é aquela briga que nós tivemos já desde o ano passado de cada um estar no seu quadrado, cada um ter a sua função. Essas pautas todas que se referem ao comportamento da sociedade, a participação das pessoas, isso cabe aos que são diretamente eleitos pela população para representá-los, não é o STF que tem que tomar essas decisões. Então é extremamente lamentável e o governo obviamente que se aproveita disso.

A bancada ruralista conseguiu influenciar em vários projetos no ano passado, como na reforma tributária. O que esperar da agenda da FPA neste ano?

Nós temos as pautas prioritárias que a gente precisa avançar, dentro dessas pautas está uma grande preocupação nossa com os projetos de lei complementar em relação à reforma tributária, principalmente essa questão dos produtos da cesta básica, essa questão do imposto seletivo, tributação de produção, isso tudo que a gente vai ter que se organizar muito bem para não deixar prejudicar o nosso setor. Pesticidas nós tivemos uma vitória importante no Congresso e houve o veto, vamos ter que derrubar esses vetos. A questão do licenciamento ambiental está avançando, tem o (projeto de lei) do Combustível do Futuro. Lembrando que esse ano é ano complicado, porque tem eleições (municipais).

Há alguma pauta no radar da FPA este ano que possa trazer dificuldades e constrangimentos ao governo?

Existem projetos que nós estamos tramitando que tem às vezes posicionamento favorável, às vezes posicionamento contrário, mas a gente defende por exemplo que haja a reforma administrativa que o governo não está querendo. Tem que haver um controle de gastos, não é possível R$ 250 bilhões de déficit nas contas públicas, a gente precisa se posicionar também em relação a isso. E eu acho que essa questão agrária, fundiária, vai gerar bastante debate, essa questão de direito de propriedade que está muito tenso.

Na LDO, as bancadas ruralista, evangélica e da bala se uniram para aprovar um destaque que proibia o financiamento de ações da pauta de costumes defendida pela esquerda. Pela força e tamanho que cada bancada tem, é representativa essa junção em algumas pautas. Há convergência de agenda entre essas bancadas que poderá se opor a decisões do governo, por exemplo?

A gente quando tem convergência nas ideias e no objetivo final a gente não tem problema nenhum de se juntar, óbvio que tem que pensar que a grande maioria dos membros, eu por exemplo sou das três bancadas, então a maioria dos membros se confunde entre uma e outra. Onde a gente puder se juntar a gente vai se juntar. Não é uma questão de oposição, é uma questão de pauta temática que a gente precisa se organizar. A pauta do STF é uma pauta que nos une e dá bastante força.

Lula vetou o trecho da LDO que blindava os recursos destinados ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) de contingenciamentos. Como está a articulação da FPA?

Nós vamos trabalhar para derrubar o veto. Mas a gente está falando de um ano que a gente não teve seguro rural praticamente, foram só R$ 500 milhões, ainda tiveram mais alguns milhões para outros fins. O que nos foi prometido de mais R$ 1 bilhão não aconteceu. Vamos ter que arrumar esse dinheiro. Lembrando que nós estamos com uma previsão de safra horrível. Vamos ter uma quebra de safra grande, Mato Grosso está falando já em 40%. Isso nos preocupa bastante. Então a gente precisa ter acesso ao seguro, senão a coisa não vai funcionar. Mas ainda não houve diálogo com o governo. Voltando a Brasília nós vamos conversar sobre isso.


Giordanna Neves/Estadão

Minas Gerais tem explosão de casos de dengue no início do ano e vai decretar emergência

Foto: Divulgação
O governo de Minas Gerais vai decretar emergência de saúde após explosão no número de casos de dengue no início deste ano.

Boletim publicado pela secretaria estadual da saúde aponta 11.490 casos da doença até 22 de janeiro. Em 2023, foram 1.523 casos registrados nos primeiros 23 dias do ano, segundo documento divulgado pela pasta.

Uma pessoa morreu em decorrência da doença neste ano e outros 14 óbitos estão sob investigação. Segundo o secretário de estado de saúde, Fábio Baccheretti, o decreto de emergência será publicado neste sábado (27) no diário oficial.

Nesta quinta (25), o Ministério da Saúde anunciou que 22 municípios do estado estão entre os escolhidos para receber doses da vacina contra dengue. De acordo com a pasta, as regiões selecionadas atendem a critérios como ter ao menos um município com mais de 100 mil habitantes, alta transmissão da doença e circulação do sorotipo 2.

As cidades ficam nas regiões de saúde de Belo Horizonte e Coronel Fabriciano. Regiões de saúde são conjuntos de cidades próximas que partilham características semelhantes. É uma medida usada para melhor organizar o planejamento e a execução de ações e serviços na área.

Os municípios de Minas que vão receber as doses são Belo Horizonte, Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia, Nova Lima, Caeté, Rio Acima, Jaboticatubas, Raposos, Belo Vale, Moeda, Nova União, Taquaraçu de Minas, Coronel Fabriciano, Timóteo, Pingo d’Água, Antônio Dias, Marliéria, Santa Maria de Itabira, Jaguaraçu Dionísio e Córrego Novo.

O imunizante será destinado a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que responde pela maior parte das internações pela doença no país. A expectativa é de que a campanha de vacinação seja iniciada em fevereiro.

O primeiro lote com 750 mil doses de vacina a serem oferecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) chegou ao Brasil no sábado (20). A entrega faz parte de um total de 1,32 milhão de doses da vacina que foram fornecidas sem custos ao governo brasileiro pela farmacêutica Takeda. O Ministério da Saúde informou que adquiriu todas as 5,2 milhões de doses do imunizante —chamado Qdenga— disponíveis pelo fabricante para este ano. Elas serão entregues por etapas até o mês de novembro.

A chegada das primeiras doses ocorre em meio a uma escalada de dengue no país.

O secretário Baccheretti avalia que dois motivos foram responsáveis pela alta nos casos de dengue em 2024: as altas temperaturas registradas no estado, o que ajuda na reprodução do Aedes aegypti, e o relaxamento da população em relação aos cuidados para evitar a proliferação do mosquito, deixando, por exemplo, pratos e vasos de plantas com água.

“Por algum motivo houve relaxamento nos cuidados. Se tem dengue é porque tem mosquito. Se tem mosquito, tem criadouro. E 90% dos criadouros estão dentro das residências”, diz o secretário.

Baccheretti afirma que, com o decreto de emergência, será possível facilitar procedimentos para compra de medicamentos e equipamentos para estabelecimentos públicos de saúde do estado. Ele projeta o pico nos casos de dengue em Minas para o final de fevereiro.

“O decreto é fundamental para o tempo de resposta para a doença”, argumenta o secretário. “Será possível comprar insumos como soro de reidratação e equipamentos para atendimento em postos de saúde e hospitais”, diz.

Leonardo Augusto/Folhapress

Corte de Haia não determina cessar-fogo imediato a Israel e frustra palestinos MUNDO

Foto: Divulgação/ONU
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), mais conhecida como Corte de Haia, ordenou nesta sexta-feira (26) que Israel tome medidas para evitar atos de genocídio na guerra contra o Hamas, mas não determinou um cessar-fogo imediato, o que frustrou os palestinos.

“O Estado de Israel deverá (…) tomar todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos no âmbito do artigo 2 da Convenção do Genocídio”, declarou o tribunal.

A corte foi provocada pela África do Sul, que, no início de janeiro, pediu medidas de emergência contra Israel em um caso em que acusa o Estado judeu de motivação genocida —alegação sobre a qual os juízes não se manifestaram nesta sexta (26) e que pode levar anos para ser julgada.

A CIJ —que, ao contrário do TPI (Tribunal Penal Internacional), julga Estados, não indivíduos— ouviu as alegações iniciais de ambos os lados no início de janeiro. As decisões do principal órgão judicial da ONU têm caráter vinculante, mas o tribunal tem poucos meios de fazê-las valer na prática.

A corte determinou ainda que, em um primeiro momento, tem jurisdição para julgar Israel, o que desagradou Tel Aviv —o Estado judeu havia classificado as alegações da África do Sul de falsas e “gravemente distorcidas”, e pedira que Haia rejeitasse totalmente o caso, dizendo que respeita o direito internacional e tem o direito de se defender. O país deverá informar sobre as medidas que está tomando dentro de um mês, segundo a corte.

A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, promulgada em 1948 após o assassinato em massa de judeus no Holocausto nazista, define o crime como “atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.

Na decisão, 15 dos 17 juízes da corte votaram a favor de medidas urgentes que contemplaram a maior parte do que a África do Sul pediu, com exceção da ordem para Tel Aviv suspender as operações militares em Gaza, em um cessar-fogo. A possibilidade de uma trégua era aguardada com grandes expectativas pelos palestinos.

Apesar disso, o país africano saudou o que considerou uma “vitória decisiva” para o direito internacional. Na saída do tribunal, a ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, disse que Israel precisará fazer uma trégua para cumprir as medidas. “Para acatar a decisão, teria que haver um cessar-fogo”, disse ela. “Sem isso, o pedido realmente não funciona”.

Sami Abu Zuhri, alto funcionário do Hamas, disse que a decisão contribui para isolar Israel. “Pedimos que a ocupação seja forçada a implementar as decisões do tribunal”, afirmou ele à agência de notícias Reuters.

Após o veredito, que não é passível de recursos, o vice-presidente da África do Sul, Paul Mashatile, e o ministro da Justiça, Ronald Lamola, foram vistos dando aplausos numa reunião do CNA (Congresso Nacional Africano), partido governista ao qual Nelson Mandela (1918-2013) era filiado.

Países como Estados Unidos, Qatar e Arábia Saudita, além da União Europeia, também receberam positivamente a decisão.

Em comunicado, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que a acusação de genocídio era “ultrajante” e que faria tudo o que fosse necessário para se defender. “A tentativa vil de negar a Israel este direito fundamental é uma discriminação flagrante contra o Estado judeu”, afirmou.

O tribunal declarou estar “gravemente preocupado” com o destino dos reféns em Gaza e apelou ao Hamas e a outros grupos armados para os libertarem imediatamente e sem condicionantes. Calcula-se que cerca de 130 pessoas permanecem sob poder do grupo terrorista desde o dia 7 de outubro, quando membros do Hamas atacaram o sul de Israel.

Somavam mais de 200 os sequestrados quando a guerra começou, mas o número diminuiu no fim de novembro, quando um acordo intermediado por EUA, Qatar e Egito libertou mais de 100 reféns em troca de palestinos que estavam nas prisões israelenses.

Os palestinos esperavam ansiosos a decisão do CIJ nesta sexta. “O que acontece se depois do julgamento Israel continuar seus massacres? O mundo parecerá uma piada”, disse à agência de notícias Reuters Tamer, 55, empresário e pai de quatro filhos, antes da audiência. O palestino estava deslocado em Rafah, onde mais da metade da população do território está agora aglomerada, a maioria em tendas improvisadas ou prédios públicos.

“Estamos cansados, nossos filhos estão exaustos, eles estão privados de sono e comida”, disse ele, em referência à restrição de ajuda humanitária que Israel impôs após o início do conflito. “Todos aguardam sua vez de morrer por bombas israelenses se isso não acabar”.

Milhares de pessoas chegaram nos últimos dias à cidade no extremo sul de Gaza, que faz fronteira com o Egito. O fluxo agravou a busca por mantimentos e por um lugar para acampar no frio chuvoso do inverno.

A comida é escassa na região, e a situação é ainda pior no norte e no centro de Gaza, onde as agências de ajuda dizem que milhares de pessoas passam fome, especialmente crianças pequenas, que são mais vulneráveis à desnutrição. “Todo mundo com quem conversamos implora por comida”, diz Sean Casey, representante da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Gaza.

Os adultos podem lidar com a fome, “mas nossas crianças não podem”, afirma Abu Abdallah Humeid, um morador de Jabalia, no norte de Gaza. Sem farinha, as pessoas têm moído milho e cevada para fazer pão seco.

Enquanto a audiência ocorria em Haia, na Holanda, as forças israelenses continuavam a bombardear a principal cidade do sul de Gaza, Khan Yunis, que abriga centenas de milhares de civis deslocados. Os palestinos dizem que Israel bloqueou hospitais, tornando impossível para os socorristas alcançarem os mortos e feridos. O número de vítimas na Faixa de Gaza chegou a 26.083 nesta sexta (26), de acordo com a facção terrorista.

Tel Aviv nega as alegações, mas diz que a ação militar próxima a centros de saúde é necessária porque os combatentes do Hamas operam de lá, o que trabalhadores médicos negam.

O conflito deve continuar, apesar da manifestação da Corte de Haia. A limitação do órgão também ficou evidente em março de 2022, um mês depois da invasão da Ucrânia pela Rússia. Na ocasião, a corte exigiu que as tropas de Vladimir Putin deixassem o território ucraniano imediatamente. A decisão foi contestada pela Rússia e por sua aliada China, que argumentaram que a entidade não tinha jurisdição sobre o caso —e nada foi feito acerca do conflito, que no próximo mês completará dois anos.

Ação de milícias leva TRE a transferir 50 seções eleitorais na zona oeste do Rio de Janeiro

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Pelo menos 50 locais de votação em regiões controladas pela milícia na zona oeste do Rio vão ser alterados pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral). A mudança é uma tentativa de garantir que as eleições municipais deste ano aconteçam sem a influência de milicianos. A informação foi confirmada à reportagem nesta sexta-feira (26).

Os novos locais ainda não foram divulgados. Mas, segundo o TRE, as regras para alocar os eleitores vão seguir as mesmas, como, por exemplo, a proximidade da área de abrangência onde o eleitor está inscrito.

As alterações são baseadas em dados de inteligência das polícias federal, rodoviária, civil e militar, além da Guarda Municipal e dos Ministérios Públicos federal e estadual.

Um grupo criado pelo TRE na eleição de 2022 fez um levantamento preliminar que mapeou 50 pontos onde há interferência de milicianos que agem no sentido de coagir eleitores a votarem em candidatos pré-definidos. Identificaram ainda que, em alguns casos, criminosos chegaram a agir pessoalmente nas sessões em pleitos passados. O gabinete de inteligência foi reativado e, agora, estuda mais regiões.

Para evitar este tipo de atuação criminosa, juízes de diversas áreas também vão atuar pessoalmente nas zonas eleitorais, numa tentativa de organizar e garantir a segurança do processo eleitoral.

Além disso, o grupo de inteligência do TRE também analisa medidas contra fake news e trabalha no monitoramento de candidatos com ficha suja.

Um estudo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) divulgado em novembro apontou a forte influência das milícias nas eleições de 2022 no Rio. Segundo o levantamento, 14,8% dos eleitores estavam cadastrados para votar em locais de votação situados em territórios controlados por milicianos.

O estudo indica um “efeito milícia” sobre os resultados eleitorais, o que mostra que as áreas controladas por esses grupos apresentaram certas tendências políticas diferenciando do restante da região metropolitana do Rio.

Há mais de um ano, comunidades da zona oeste da capital fluminense vivem cenários de guerra por conta da disputa pelo controle da região. Os confrontos se intensificaram depois que o miliciano Luis Antonio da Silva Braga, conhecido como Zinho, se entregou à Polícia Federal em dezembro passado.

Segundo informações da polícia, a região tem sofrido invasões do Comando Vermelho, que pretendem expandir pontos de venda de drogas pela cidade. Recentemente, integrantes do Terceiro Comando Puro se juntaram com os milicianos para expulsar bandidos da outra facção, que conseguiram invadir partes desses locais.

Aléxia Sousa/Folhapress

OMS alerta para aumento de casos de sarampo e reforça vacinação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou para o aumento de casos de sarampo no mundo e reforçou a importância da vacinação para prevenir a disseminação da doença.

“Os casos de sarampo estão aumentando. É uma das doenças mais transmissíveis. Se uma pessoa se contamina, quase todos ao seu redor vão pegar o vírus, se não estiverem vacinados. Para proteger sua criança, garanta que as vacinas estejam em dia.”

Nas últimas semanas, países como México, Estados Unidos, Reino Unido e Portugal emitiram alertas após a confirmação de casos, com o óbito de uma criança de 19 meses na província de Salta, na Argentina.

No Brasil, o Centro de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul emitiu um alerta após confirmar um caso importado de sarampo no estado. O paciente é um menino de 3 anos que chegou ao município de Rio Grande no dia 27 de dezembro, procedente do Paquistão, país com circulação endêmica da doença.

Diante da confirmação, a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul reforçou, em nota, a recomendação de aplicação da vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba), oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças a partir de 1 ano e até os 59 anos, conforme calendário nacional de vacinação.

“Com a suspeita, foi realizado bloqueio vacinal seletivo nos familiares, vizinhos e profissionais da saúde. A criança está bem e seus familiares não apresentaram sintomas. O município segue monitorando atendimentos por febre, exantema e tosse ou coriza ou conjuntivite, sem nenhuma identificação de caso suspeito.”

O esquema vacinal completo do sarampo consiste em duas doses até os 29 anos, ou uma dose para adultos de 30 a 59 anos. Em crianças, a vacinação deve ocorrer aos 12 e aos 15 meses. Profissionais de saúde devem receber duas doses, independentemente da idade. Em situações de bloqueio vacinal, a imunização seletiva é recomendada para todos com idade acima de 6 meses.

A doença

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, viral, especialmente grave em menores de 5 anos, imunodeprimidos e desnutridos e extremamente contagiosa, que infecta nove a cada 10 pessoas suscetíveis após exposição ao vírus.

A doença é transmitida de forma direta, por meio de secreções, ao tossir, espirrar ou falar. Casos suspeitos devem ficar em isolamento respiratório e fazer uso de máscara cirúrgica desde o momento da triagem nos serviços de saúde.

Eliminação

À Agência Brasil, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, lembrou que o sarampo era uma doença controlada no Brasil até 2016, quando o país recebeu a certificação de eliminação do vírus em território nacional. Após um grande surto da doença em 2017 e em 2018, com mais de 40 mil casos registrados, o Brasil perdeu a certificação e voltou a ser um país endêmico, onde o sarampo circula livremente.

“Estamos sem registro de casos desde junho de 2022, em busca da recertificação dessa eliminação. Ainda falta melhorar nossas coberturas vacinais, alguns indicadores de vigilância. Já recebemos um status não de país endêmico, mas de país com pendência de recertifcação pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em novembro de 2023.”

Segundo Kfouri, o que causa preocupação é o aumento recente no número de casos da doença em diversos países. Ao comentar o caso da criança proveniente do Paquistão, o especialista avaliou que o alerta do governo gaúcho é válido.

“É um caso importado, obviamente, não adquirido aqui no nosso território, mas que nos traz esse alerta. Primeiro, da importância da vigilância, de estarmos atentos a qualquer caso suspeito, importado, para que a entrada de um caso aqui não se multiplique e não se torne outros casos secundários, uma cadeia de transmissão e um novo surto.”

Kfouri destacou que são importantes a vigilância de casos suspeitos e a investigação oportuna. “E, claro, vacinação dos contactantes desses indivíduos suspeitos e nossas coberturas vacinais elevadas para que, mesmo com essa frequente e possível entrada de pessoas com sarampo no país, isso não se traduza em novos surtos aqui entre nós.”

Agência Brasil


Residencial do Minha Casa Minha Vida é entregue para 150 famílias em Ibotirama

O território do Velho Chico recebeu investimentos na habitação, infraestrutura e educação, através do Governo do Estado, nesta sexta-feira (26). O governador Jerônimo Rodrigues esteve na cidade de Ibotirama, no oeste baiano, onde realizou a entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, obras de saneamento e abastecimento de água e autorizou o início da construção de uma escola. A agenda foi acompanhada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, e pelo senador Jaques Wagner.

Ao todo, foram 150 residências entregues pelo programa do Governo Federal, que contempla famílias do Alto do Fundão, na sede de Ibotirama. O Estado também investiu na infraestrutura e abastecimento de água do residencial do Minha Casa, Minha Vida. O investimento para a finalização da obra foi de cerca de R$ 700 mil.

Conforme Jerônimo, a entrega do Residencial Jardim Novo Tempo é parte de um conjunto de ações integradas entre o Governo do Estado, Federal e a Prefeitura de Ibotirama. “São 150 novos lares, novas casas, onde as pessoas vão poder criar e educar seus filhos, ter um ambiente de qualidade com suas famílias. Este condomínio, o Novo Tempo, estava praticamente pronto, mas ficou três anos com as obras paradas, então o Governo do Estado assumiu a conclusão da obra”.

“Assim que o presidente Lula assumiu, ele determinou o retorno do programa [Minha Casa, Minha Vida] e a conclusão das 180 mil casas que estavam paralisadas. Essas unidades entregues hoje fazem parte desse contingente. Na Bahia, tivemos o apoio do Governo do Estado para ajudar a concluir diversas obras. E no dia 6 de fevereiro, estaremos em Euclides da Cunha, entregando mais unidades habitacionais”, detalhou Rui Costa.

Abastecimento e saneamento

O governo estadual entregou no bairro Alto do Cruzeiro a ampliação de um sistema de esgotamento sanitário, com aproximadamente R$ 2,3 milhões destinados pela Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS). A obra, que beneficia 1.620 habitantes, teve aumento da rede coletora e passa a ter quase 12 mil metros de extensão.

A pasta também esteve à frente da obra do sistema simplificado de abastecimento de água, entregue nesta sexta-feira para a localidade de Santa Cruz, que está situada a 26 quilômetros da zona urbana da cidade, e onde vivem 116 habitantes.

Educação

Também na zona rural, onde vivem indígenas da etnia Tuxá, será ampliado e modernizado o Colégio Estadual Indígena Marechal Rondon. Segundo a ordem de serviço assinada pelo governador, serão aplicados R$ 4,3 milhões para implantação de salas, vestiário, restaurante estudantil com 92 lugares, quadra poliesportiva coberta, reservatório d’água, subestação, reforma e requalificação da unidade escolar.

Jerônimo também assinou ordem de serviço para início imediato da requalificação da Praça Ives de Oliveira, que contará com R$ 1,4 milhão da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), autarquia vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano, para as melhorias.

Feira Saúde Mais Perto

Em ida à Ibotirama para cumprimento das agendas do executivo, Jerônimo Rodrigues decidiu por adiar o primeiro dia da Feira Saúde Mais Perto, promovida pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), prevista para esta sexta-feira (26) e sábado (27), na Praça Ives de Oliveira, devido a forte chuva na cidade.

A secretária da Saúde, Roberta Santana, explicou que as pessoas que pegaram suas pulseiras, serão atendidas no domingo (28) ou em outro dia de feira, caso seja preciso alterar a data evento. Ela ainda orientou que pessoas idosas e com deficiência ou baixa mobilidade ficassem em casa e aguardassem divulgação das novas datas que serão divulgadas pela Sesab.

“Mesmo com a chuva, muitas pessoas estão se deslocando, então a gente pede que elas fiquem em casa, a feira está assegurada, vamos estender os serviços. Domingo, segunda ou terça-feira, quantos dias forem necessários, essa foi a determinação do governador Jerônimo”, detalhou a titular da saúde.

Bolsa do ensino médio será de R$ 200 por mês, com bônus de R$ 200 para Enem

Apresentação e coletiva de imprensa "Brasil Unido pela Educação", com o Ministro da Educação, Camilo Santana
O governo Lula (PT) definiu, em decreto assinado nesta sexta-feira (26), as regras do programa federal que vai pagar bolsas e uma poupança para manter alunos pobres no ensino médio. O projeto foi batizado de Pé de Meia.

Alunos de famílias beneficiárias do Bolsa Família vão receber uma bolsa mensal de R$ 200 para não sair da escola. O programa ainda prevê uma poupança com depósitos anuais, de R$ 1.000, cujo valor total só poderá ser sacado ao fim do ensino médio.

A estimativa é que o programa possa beneficiar 2,5 milhões de estudantes em todo país.

Serão dez parcelas de R$ 200 por ano (a primeira, no momento da matrícula). A previsão é que neste ano os pagamentos comecem em março, mas ainda há detalhes burocráticos a serem resolvidos, segundo o governo.

Caso o aluno participe do Enem, há previsão de mais um pagamento, de R$ 200,00. O objetivo do governo é, além de manter os jovens na escola, incentivar que participem do exame, principal porta de entrada para o ensino superior.

O Pé de Meia é uma das principais apostas do MEC para reduzir a evasão escolar. Segundo dados da pasta, 8,8% dos alunos deixam a escola já no 1º ano do ensino médio.

A iniciativa também é vista como uma das principais agendas políticas do governo. Dentro do governo, há uma aposta com a medida também no embate eleitoral.

Para a assinatura do decreto, o governo organizou um evento no Palácio do Planalto nesta sexta-feira com vários convidados, entre educadores e políticos. Os ministros da Educação, Camilo Santana, e da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, participaram do ato.

O ato chamado de “Brasil Unido pela Educação” serviu para que o ministro Santana apresentasse um balanço das ações de educação do governo neste primeiro ano.

“Queremos envolver numa cumplicidade educadora a sociedade brasileira”, disse o presidente Lula

O ministro da Educação afirmou que o programa representa uma decisão acertada do governo. “Garantir o auxílio financeiro para que esses jovens permaneçam na escola e não tenha que optar por um prato de comida ou estudar”, disse Santana.

Inicialmente, o Lula havia editado uma MP (medida provisória) para criar o programa, com a previsão de um fundo privado de até R$ 20 bilhões, como a Folha revelou na ocasião

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no entanto, definiu que os parlamentares deixariam o texto caducar e que a Casa tocaria o tema enquanto projeto de lei. A decisão causou desconforto no governo por conta do protagonismo que se busca com a iniciativa.

Foi escolhido um PL de autoria da deputada Tabata Amaral (PSB-SP), que teve relatoria do deputado Pedro Uczai (PT). O governo federal correu para aprovar tudo no ano passado e garantir os pagamentos com o início do ano letivo de 2024.

O projeto aprovado manteve o plano do governo, incluído na MP, que prevê a criação do fundo privado —em que a União poderá aportar até R$ 20 bilhões—, além de definir que os beneficiários serão alunos inscritos no CadÚnico, o cadastro adotado para programas sociais como o Bolsa Família, e os estudantes de baixa renda regularmente matriculados no ensino médio.

Com esse desenho, o custo calculado para 2024 é de R$ 7 bilhões, o que está de acordo com o R$ 1 bilhão já previsto nas peças orçamentárias do ano que vem e os R$ 6 bilhões aprovados pelo Congresso no fim de 2023 para essa política.

O governo liberou ainda no passado R$ 6,1 bilhões para o programa. Os aportes de 2025 e 2026, que seriam também na casa dos R$ 7 bilhões a cada ano, devem constar nos respectivos Orçamentos, de acordo com interlocutores do governo.

Para receber o benefício, os estudantes também terão de obedecer a algumas condicionalidades. Entre elas, estão a frequência escolar mínima de 80%, ser aprovado ao fim de cada ano e participar de avaliações, como Saeb (avaliação federal da educação básica) e o Enem, para os estudantes do 3º ano.

Paulo Saldaña e Marianna Holanda/Folhapress

Exército amplia aval para armas restritas em acervos pessoais de PMs e libera até 5 fuzis em casa

O Exército emitiu autorização para que policiais e bombeiros militares tenham em casa até seis armas de fogo, sendo até cinco de uso restrito. Entre elas, estão liberados alguns tipos de fuzis – equipamentos não recomendados para defesa pessoal. A medida trata de equipamentos que podem ser adquiridos para acervos particulares, sem relação com as armas institucionais usadas para o trabalho.

O País tem cerca de 406,3 mil policiais militares e 55 mil bombeiros militares na ativa, segundo os dados mais recentes. A nova regra, apresentada em portaria publicada na terça-feira, 23, também abrange os servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.

A nova regra para armas de uso restrito em acervos pessoais de policiais representa um afrouxamento das normas que vigoraram antes e durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Até então, os militares estaduais podiam comprar duas armas de uso restrito para ter em casa. Agora poderão ter até cinco.

Uma arma de uso restrito é aquela que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas, por alguns órgãos de segurança e por pessoas habilitadas, como atletas.

Desde janeiro de 2023, os integrantes dessas forças de segurança não tinham limite diferenciado para compra de armas. Decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro dia de governo suspendeu medidas do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em seguida, outro decreto do petista definiu que novas regras seriam editadas pelo Exército e pela Polícia Federal.

Procurado para comentar os critérios utilizados, o Exército não se manifestou até esta publicação. A pedido da reportagem, o gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, especialista em regulamentos sobre o armamento civil, levantou as normas que vigoravam anteriormente e apontou os impactos da nova portaria.

Até 2018, os policiais militares podiam ter até duas armas de uso restrito, mas de calibres específicos. Os de fuzil não estavam entre eles. A partir de 2019, a especificação de calibres caiu e eles podiam comprar até dois fuzis, à exceção dos armamentos automáticos, que disparam rajadas com um acionamento de gatilho.

Agora, o número de armas restritas subiu para cinco. As automáticas continuam proibidas, mas alguns tipos de fuzis, como o T4, da Taurus, seguem liberados porque só foram proibidas armas que geram, em testes específicos, mais de 1.750 joules, uma medida de energia cinética. O equipamento da Taurus emite 1.748,63.

“À primeira vista, a portaria de armas particulares de policiais parece tentar reproduzir o regulamento pré-Bolsonaro, mas há claramente um afrouxamento, com aumento de número de armas restritas de duas para cinco e um critério de joules (medida de energia) que parece ter sido feito sob medida para contemplar o fuzil brasileiro mais vendido na era Bolsonaro”, afirmou Langeani.

Para especialistas e pesquisadores, o desvio de armas compradas legalmente é um dos principais fatores que contribuem para formação de arsenais no crime organizado.

Na última segunda-feira, 22, em Brasília, um subtenente da Polícia Militar do Distrito Federal registrou boletim de ocorrência depois de chegar de uma viagem e notar que armas que mantinha em casa haviam sido roubadas. Entre os itens levados, dois fuzis e uma pistola. As informações são do portal Metrópoles.

Entre 2019 e agosto de 2023, bandidos roubaram ou furtaram pelo menos 295 armas de policiais civis e militares no Estado de São Paulo, segundo reportagem do Metrópoles.

Entenda como as regras de armas em acervos de PMs foram alteradas
Até 2018, antes de Bolsonaro, os policiais militares podiam ter até oito armas em casa, em uma divisão específica:

6 armas de uso permitido, sendo até duas de cada tipo (2 de porte, 2 rifles e 2 carabinas, por exemplo)
2 armas de uso restrito, sendo elas de calibres específicos (357, 40 SW, .45ACP, 9mm). Fuzis não estavam contemplados.
A partir de 2019, as seis armas de uso permitido passaram a poder ser de qualquer tipo.

6 armas de uso permitido, sem limitação de cada tipo.
2 armas de uso restrito, de qualquer tipo, à exceção das automáticas – que disparam tiros em sequência com um acionamento de gatilho. Portanto, os policiais podiam comprar até 2 fuzis semiautomáticos.
Em janeiro de 2024, foram publicadas as novas regras, pelo governo Lula.
6 armas de uso permitido, sem limitação de tipo.
Até 5 das 6 podem ser restritas, desde que tenham poder de gerar determinada energia nos disparos. A lista atual de armas e calibres restritos foi publicada em portaria conjunta do Exército e da Polícia Federal em novembro. As restritas que podem ser compradas são aquelas que não geram, em testes específicos, energia cinética superior a 1.750 joules – uma unidade de medida de energia. Os fuzis com calibre 5,56 mm, como o do AR-15, da Colt, e do T4, da Taurus, emitem 1.748,63 joules, segundo a portaria conjunta.
Os policiais podem comprar até 600 munições por arma, por ano.
As novas normas para policiais militares são semelhantes às definidas pelo Exército para os acervos pessoais dos seus próprios homens, conforme uma portaria de dezembro. Os militares da Força também podem comprar seis armas, sendo cinco de uso restrito, como os fuzis.

A regra estipulada para os homens do Exército representou uma restrição a uma portaria de 2019, publicada no governo Bolsonaro, mas não resgatou o modelo que vigorava anteriormente. Antes de Bolsonaro eram permitidas seis armas de uso permitido, além de duas de uso restrito. Mas os tipos restritos deveriam ser de calibres limitados, e os de fuzil, como o 5,56 mm, não estavam contemplados.

A relação das PMs com o governos federal
Em 2018, as polícias militares foram uma importante base de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro. Uma pesquisa de 2021 mostrou que a adesão ao “bolsonarismo radical” cresceu no meio militar estadual. Com vistas à reeleição, o então presidente editou medidas que beneficiavam a classe, mas foi criticado por falta de ações mais concretas.

A relação com as polícias, como por exemplo na definição de regras para uso de câmeras corporais, é um dos principais desafios do Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Lula.

Exército voltou a liberar novos CACs
O decreto de janeiro de 2023 paralisou a emissão de novas autorizações para CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores de armas). Ainda em julho de 2023, um novo decreto de Lula sinalizou que elas seriam retomadas a partir de uma deliberação do Exército, o que voltou a ocorrer neste mês.

O decreto de julho também determinou que caberia ao Exército definir novas regras para compras de armas para as forças de segurança. Esses equipamentos devem ser registrados no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma).

Vinícius Valfré/Estadão Conteúdo
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Segunda etapa da Operação Relâmpago localiza sexto fuzil em 2024 na Bahia

Trabalho conjunto da PM e PC visa a desarticulação de uma facção com atuação na cidade de Ilhéus.

Equipes das Polícias Militar e Civil localizaram nesta quinta-feira (25), na segunda etapa da Operação Relâmpago, um fuzil, na cidade de Ilhéus. Em 2024, as Forças de Segurança apreenderam seis fuzis durante ações de inteligência na Bahia.

O trabalho conjunto da PM e PC visa a desarticulação de uma facção envolvida com tráfico de drogas, homicídios, roubos, porte ilegal de arma de fogo, entre outras práticas criminosas na região de Ilhéus.

Em um imóvel usado pelo bando, os policiais encontraram um fuzil calibre 5,56, uma pistola calibre 9mm, carregadores e munições. Nenhum criminoso foi localizado.

Na quarta-feira (24), durante a primeira fase da Operação Relâmpago, três pessoas foram presas. Com elas as equipes apreenderam pistolas, colete balístico, carregadores, munições e drogas.

Texto: Alberto Maraux

CDL de Ipiaú promove encontro com a Polícia Militar para apresentação da Ronda Comercial Comunitária

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Ipiaú promoveu um encontro entre Polícia Militar e Comerciantes de Ipiaú para apresentação da Ronda Comercial Comunitária, na noite desta quinta-feira (25), no auditório da CDL.

O projeto anunciado pelo presidente da CDL, Odeilton Bastos propõe uma gestão compartilhada de segurança pública, através do fortalecimento da parceria entre PM e comércio local, tendo como objetivo a prevenção contra ocorrências de furtos e assaltos.

Durante suas explanações, o subcomandante Kalil Santos e o tenente Eliel Caldas fizeram um demonstrativo de como vai funcionar a Ronda.

Moderno, o sistema vai contar com uma rotina de visitação e um QR Code será utilizado para cadastro e ferramenta de pesquisa. “Esse conteúdo de controle interno vai alimentar as informações balizadoras de estratégias que serão utilizadas no setor de inteligência da PM”, explicam.

Os dois oficiais também informaram que um estudo de ponto base para viaturas já foi elaborado para reforçar a segurança local, assim como o novo modelo de gestão possibilita ao lojista compartilhar os registros das câmeras de seu estabelecimento com a PM.

Gentileza de Jocevã – Apoio da Prefeitura
A curiosidade é que a Ronda Comercial em Ipiaú foi implantada por uma gentileza. O tenente-coronel Jocevã Oliveira, então comandante da 55ª CIPM, cedeu um veículo que tinha a sua disposição - para viagens - ao comércio local.
Deu certo e o projeto está sendo aprimorado. Agora, na gestão do Major Dalmo Porto, atual comandante da 55ª CIMP, a Ronda passou a contar com um veículo blindado, específico para a ação.

O projeto conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Ipiaú, mas para ter efetividade, adverte os oficiais, precisa da parceria do comércio local, tanto no fornecimento de informações que possam colaborar com ações policiais, quanto na participação efetiva nos encontros de construção e aprimoramento.

A PM  ainda lembra que, a partir desta segunda-feira (29/01), a Polícia Militar iniciará a rotina de visitas nos estabelecimentos comerciais. Por isso, solicita que cada comerciante escolha um representante para receber os policiais e a ronda possa ser desenvolvida para o fortalecimento da segurança nas áreas comerciais da cidade.

49ª CIPM apreende submetralhadora, pistola e drogas com traficante

Quatro criminosos utilizavam um carro roubado, quando foram flagrados pelos policiais militares.
Guarnições da 49ª CIPM (São Cristóvão) apreenderam na madrugada desta quinta-feira (25), submetralhadora, pistola e drogas. Quatro criminosos utilizavam um carro roubado, quando foram flagrados pelos policiais militares.

Os militares realizavam patrulhamento de rotina no bairro de São Cristóvão, quando visualizaram quatro homens, em um carro modelo Tcross. Na tentativa de abordagem, os criminosos atiraram e atingiram a viatura.

Houve confronto e os ocupantes do carro, que possuía restrição de roubo, acabaram colidindo com um automóvel modelo Gol. Na segunda tentativa de prisão, ocorreu novo confronto. Dois criminosos acabaram feridos, chegaram a ser socorridos, mas não resistiram. Os outros dois fugiram e estão sendo procurados.

No local os PMs apreenderam uma submtetralhadora calibre 9mm, uma pistola calibre 40, carregadores, munições e porções de maconha.

Texto: Alberto Maraux

PC e PM apreendem pistolas, colete balistico e drogas com integrantes de facção em Ilhéus

Três homens foram flagrados com os materiais, na quinta-feira (24). Veículo e munições também foram encontrados.

A operação conjunta ‘Relâmpago’ das Polícias Civil e Militar, na cidade de Ilhéus, terminou com pistolas, colete balístico e drogas apreendidos. Três homens foram flagrados com os materiais, na quinta-feira (24). Veículo e munições também foram encontrados.

A ação foi desencadeada com o objetivo de aprofundar a investigação do desaparecimento de Ueslei Alves Santos, ocorrido em dezembro do ano passado. A apuração indicou o possível envolvimento de uma facção com o caso

As diligências realizadas pela Operação Relâmpago resultaram em três suspeitos conduzidos. Com eles foram apreendidos duas pistolas calibres 40 e 9mm, um adaptador que transforma a pistola em submetralhadora, colete balístico, munições, cerca de 1 kg de drogas, uma motocicleta, balanças, entre outros itens.

Texto: Alberto MarauxFoto: Divulgação SSP

Petrobras e Vale lideram lista de R$ 215 bi em benefícios fiscais

A Petrobras e a Vale lideram a lista de empresas beneficiadas com renúncias fiscais que somam R$ 215 bilhões.

Os dados foram liberados nesta quinta-feira (25) para consulta no Portal da Transparência do governo federal. As duas empresas somam, respectivamente, R$ 29,5 bilhões e R$ 19,2 bilhões em renúncias.

Na sequência, estão GE Celma (R$ 5,2 bilhões), Fiat (R$ 4,6 bilhões) e TAM Linhas Aéreas (que atualmente opera sob a marca Latam, com R$ 3,8 bilhões).

As informações referem-se a valores que deixaram de ser arrecadados em tributos federais e de incentivos relacionados a programas governamentais em 2021.

A Receita Federal passou a divulgar as mesmas informações em maio 2023, mas separadas em diversas planilhas. A CGU (Controladoria-Geral da União) organizou os valores no portal que já apresenta, entre outros dados, as despesas do governo, pagamentos de servidores e valores de emendas parlamentares.

Além da Petrobras e da Vale, fabricantes de automóveis e empresas ligadas ao agronegócio, como produtoras de adubos e fertilizantes, estão entre as maiores beneficiadas com as renúncias fiscais.

Em nota, a Vale disse que são públicas suas informações sobre isenção fiscal e investimentos relacionados aos incentivos tributários. “Em 2022, segundo o último Relatório de Transparência Fiscal, publicado em julho de 2023, o valor total dos incentivos disponíveis para a Vale no Brasil foi de aproximadamente US$ 1,4 bilhão”, afirmou.

“Estes incentivos fiscais fazem parte de políticas de desenvolvimento regional e são mantidos a partir de uma série de contrapartidas e do cumprimento contínuo da legislação e das normas de proteção e controle do meio ambiente”, disse a mineradora.

A GE Celma afirmou que opera em consonância com a legislação vigente, “estando regular com relação ao caráter fiscal”, e que o principal programa usado por ela é o Recof (voltado a empresas exportadoras).

Procuradas, as demais empresas que lideram o ranking divulgado nesta quinta não se manifestaram até a conclusão deste texto.

O portal também mostra a lista de cerca de 260 mil empresas consideradas imunes ou isentas de tributos, como entidades religiosas e sem fins lucrativos. Também disponibiliza a relação de cerca de 20 mil empresas habilitadas a receber benefícios fiscais, inscritas em regimes especiais de tributação, sendo que nem todas já foram beneficiadas.

Além de apontar o valor de renúncia por tributo, como Imposto de Importação, PIS/Cofins-Importação e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o portal mostra o tipo incentivo governamental relacionado ao benefício.

As renúncias ligadas ao PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), em que empresas subsidiam a refeição do funcionário, somam R$ 2,5 bilhões. A Vale foi beneficiada em R$ 400 milhões neste programa, segundo os dados do Portal da Transparência.

Já os incentivos às universidades inscritas no Prouni alcançaram cerca de R$ 1,5 bilhão em 2021.

O portal também permite filtrar o município em que as empresas estão registradas. Neste caso, as maiores renúncias, de R$ 68,2 bilhões, foram direcionadas a pessoas jurídicas cadastradas no Rio de Janeiro, impulsionadas pela presença de Petrobras e Vale.

Primeira cidade na lista entre as que não são capitais, São Bernardo do Campo (ABC paulista) abriga empresas que receberam R$ 5,8 bilhões em benefícios tributários, principalmente montadoras de automóveis.

O Ministério da Saúde é a sétima pessoa jurídica com maior volume de renúncias, R$ 2,9 bilhões. A pasta recebe isenções para compras de medicamentos, por exemplo.

A Receita editou no começo de 2023 a portaria que regulamenta a divulgação de dados de incentivos, renúncia, benefício ou imunidade tributária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a defender expor a “caixa-preta” de benefícios fiscais.

Mateus Vargas/Folhapress

Entidade vê alta em ações judiciais contra a imprensa e jornalistas no ano de 2023

Profissionais da imprensa cobrindo evento político em Brasília 
Levantamento da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) aponta que houve 25 casos de restrições à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais no Brasil em 2023. No ano anterior, o relatório da entidade indicou 13 casos desse tipo, uma alta de 92% nos episódios monitorados.

Entre os casos relatados está o do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que ingressou com ações na Justiça para derrubar reportagens na qual sua ex-esposa o acusa de violência sexual, além de outros processos movidos por políticos.

Os dados fazem parte do relatório anual de “Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil”, divulgado pela Fenaj nesta quinta-feira (25).

Levantamento da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) aponta que houve 25 casos de restrições à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais no Brasil em 2023. No ano anterior, o relatório da entidade indicou 13 casos desse tipo, uma alta de 92% nos episódios monitorados.

Entre os casos relatados está o do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que ingressou com ações na Justiça para derrubar reportagens na qual sua ex-esposa o acusa de violência sexual, além de outros processos movidos por políticos.

Os dados fazem parte do relatório anual de “Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil”, divulgado pela Fenaj nesta quinta-feira (25).

Aléxia Sousa/Folhapress
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Investigação da PF sobre Abin põe bolsonarismo, Congresso e STF em crise

A Polícia Federal cumpriu nesta quinta-feira (25) mandados de busca e apreensão numa investigação sobre o suposto uso político da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) contra adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O principal alvo da operação é o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. A PF chegou a pedir a suspensão do mandato do parlamentar, mas a medida não teve a concordância da PGR e foi negada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

As suspeitas que vieram à tona na operação de hoje causaram reação política em Brasília, com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, falando em “um dos maiores escândalos da história” e a “ponta de um novelo que envolveu dezenas de milhares de pessoas”.

Em outra mão, o caso deve causar ainda mais tensão na relação de parte do Congresso com o Supremo, já que foi a segunda operação em pouco mais de uma semana com buscas dentro da sede do Legislativo. Bolsonaristas tentam articular medidas para rever os poderes do STF na volta do recesso, em fevereiro, e dizem que há perseguição política.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) escreveu em rede social: “Mais um capítulo da ditadura do Judiciário. Cabe ao Senado brecar esta perseguição e preservar as liberdades”.

A PF mira o uso pela Abin do software espião FirstMile, de fabricação israelense, e apura se a agência produziu relatórios sobre ministros do STF e opositores de Bolsonaro. Em outra frente, a investigação encontrou indícios de que a Abin atuou para fornecer informações sobre investigações em andamento para Jair Renan e Flávio Bolsonaro, filhos do ex-presidente.

O deputado Ramagem negou qualquer utilização ou relação com softwares de espionagem da Abin.

“Nenhum plano de operação, em três anos de Abin, assinado por mim, colocava a utilização do FirstMile [como um pedido]”, disse o deputado, em entrevista à GloboNews, nesta quinta.

Um dos casos citados na investigação de monitoramento foi o do hoje ministro da Educação, Camilo Santana (PT), que foi governador do Ceará. Trecho da decisão cita relato de que um dos policiais investigados teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da casa do então governador.

No documento em que autorizou buscas e apreensão, Moraes afirma ainda ter havido monitoramento ilegal da promotora responsável pela apuração do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

“Ficou patente a instrumentalização da Abin para monitoramento da promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa sobre os homicídios qualificados perpetrados em desfavor da vereadora Marielle Franco e o motorista que lhe acompanhava”, escreveu Moraes.

A operação, batizada de Vigilância Aproximada, investiga uma “organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial”.

O programa investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, não permite acesso a conteúdos de ligação ou de trocas de mensagem.

“Esses eventos dão a conhecer a existência do que a representação [policial] denomina de uma Abin paralela, utilizada para colher dados sensíveis sobre autoridades e agentes políticos relevantes”, escreveu o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

De acordo com a PF, a “Abin Paralela” criada na gestão Ramagem tentou atrelar Moraes e o também ministro do STF Gilmar Mendes à facção criminosa PCC.

Para a corporação, as informações sobre a tentativa de ligar os ministros ao PCC foram encontradas em documentos apreendidos na Abin.

“O arquivo Prévia Nini.docx mostra a distorção, para fins políticos, da providência, indicando a pretensão última de relacionar a advogada Nicole Fabre e os Ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte”, disse a PGR sobre os documentos achados pela PF.

A PF afirma que a Abin sob Ramagem também se valeu do software FirstMile para monitorar o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a ex-deputada Joice Hasselmann.

O monitoramento investigado na operação, diz a PF, foi feito pelo agente federal Felipe Arlota, um dos alvos que foi afastado do cargo por decisão de Moraes. O policial é próximo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho de Bolsonaro.

Os policiais também investigam suposto uso da agência para favorecer Flávio e Jair Renan.

No caso do filho mais novo de Bolsonaro, a Abin teria atuado para ajudá-lo, já que ele era alvo de investigação pela PF sobre as relações com empresas que mantinham e tinham interesse em contratos com o governo federal.

Agentes da Abin tentaram atrapalhar a investigação e coletar informações com o objetivo evitar “riscos à imagem” de Bolsonaro.

Um policial federal lotado na Abin chegou a seguir um dos alvos da investigação, que, desconfiado, acionou a Polícia Militar.

O policial foi ouvido pela PF e confirmou que trabalhava diretamente com Ramagem e que recebeu a missão de levantar informações sobre o caso investigado.

Flávio, por sua vez, teria sido beneficiado com a atuação da Abin para levantar informações contra auditores da Receita Federal.

O filho de Bolsonaro à época era investigado no caso da rachadinha da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e tentou apontar irregularidades na Receita como forma de anular a apuração.

Após uma reunião das advogadas de Flávio com Bolsonaro, agentes da Abin teriam produzido relatórios sobre com o senador deveria atuar para se livrar das investigações.

No documento, encaminhado para a defesa de Flávio Bolsonaro por mensagem de aplicativo, eram apontados caminhos a serem seguido pelo senador para desmontar as acusações que pesavam contra ele.

Em nota, Flávio Bolsonaro disse ser mentira que Abin tenha atuado para favorecê-lo. “Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”, afirmou.

Advogado de Jair Renan, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga disse à Folha que o filho mais novo de Bolsonaro “não tem nada para esconder que precise de atuação de quem quer que seja, sobretudo de forma ilegal”.

Ele também classificou a apuração que envolve Jair Renan como “obra de ficção” e “narrativa que não tem pé nem cabeça”. “Não foi comprado o equipamento na época do [ex-]presidente Bolsonaro. O que eu estou vendo é especulação política sobre essa questão”, declarou.

A ação desta quinta é um desdobramento da Operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023 para investigar o uso do FirstMile. Nessa nova fase, o foco principal são policiais que atuavam na Abin, em especial no CIN (Centro de Inteligência Nacional), estrutura ligada ao gabinete de Ramagem na agência durante o governo Bolsonaro.

Ao todo, sete policiais federais foram alvo da ação e foram afastados dos cargos públicos.

Além de Ramagem, ao menos dois agentes da PF, Marcelo Araújo Bormevet e Felipe Arlotta Freitas, são alvo das medidas desta quinta. O delegado federal Carlos Afonso Gonçalves, ex- chefe do CIN, também foi afastado do cargo.

O ex-diretor da Abin teria sido corrompido por dois oficiais da Abin que ameaçaram divulgar o uso do software espião após a agência cogitar demiti-los em um processo administrativo interno por participação em uma fraude licitatória do Exército.

Em entrevista para a GloboNews, Ramagem negou todas as acusações e disse que há uma “salada de narrativas”, sem conjunto de provas, e que nunca utilizou, teve acesso ou sequer teve as senhas do FirstMile.

“Nunca tivemos a utilização, execução, gestão ou senha desses sistemas”, disse, se referindo a ele e sua equipe direta.

Sobre a possibilidade de uso irregular da ferramenta de espionagem, afirmou: “Se o policial usa a arma equivocadamente, não é culpa do diretor-geral. Se a Receita [Federal] tem um novo sistema e utiliza errado, não é culpa do diretor-geral da Receita”.

Fabio Serapião , Bruno Boghossian , Ranier Bragon e Julia Chaib/Folhapress


Incêndio em tanque deixa quatro feridos na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco

Explosão em tanque de petróleo deixa quatro feridos na Refinaria Abreu e Lima
Quatro trabalhadores ficaram feridos em um incêndio num tanque de óleo na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Segundo a Petrobras, o fogo foi rapidamente controlado e as vítimas encaminhadas a hospitais da região.

Segundo a FUP (Federação Única dos Petroleiros), o estado de saúde dos feridos é estável. A Petrobras diz que eles “foram prontamente atendidos na unidade e encaminhados para avaliação médica externa”.

O Hospital Dom Helder disse que o paciente Fábio Rodrigues deu entrada na unidade em estado estável, com queimaduras em 10% do corpo. “O paciente foi estabilizado e, em seguida, transferido para o Hospital da Restauração”, concluiu.

A reportagem ainda não conseguiu contato com o Hospital da Restauração para saber o estado dos outros feridos.

O acidente ocorreu por volta das 15h30. A Petrobras afirma que foi provocado por um “fagulhamento seguido de chama” no tanque, que estava em manutenção. “As equipes internas da refinaria foram acionadas e atuaram para controle da ocorrência”, disse a estatal.

“As causas serão investigadas e as unidades de produção da Refinaria operam normalmente, sem outros impactos”, concluiu a empresa. A FUP afirmou que o sindicato dos petroleiros local fará parte da comissão de investigação.

Inaugurada parcialmente em 2014, a Abreu e Lima é a refinaria mais nova da Petrobras. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve na unidade para celebrar a retomada das obras para a conclusão do projeto original.

A Petrobras prevê gastar entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões para concluir o empreendimento, que foi projetado como uma parceria entre o Brasil e a Venezuela e se tornou um dos pivôs da Operação Lava Jato.

Nicola Pamplona/Folhapress

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