Eleição de Trump – Sinal amarelo para a esquerda no Brasil, por João Vilas Boas*

Nas últimas semanas, os olhares do mundo estão todos direcionados para a eleição americana. Primeiro, desperta elevada curiosidade a busca por compreender o sistema eleitoral de voto indireto adotado pelo país, no qual nem sempre o candidato mais votado pela população acaba sendo eleito, como ocorreu com Hillary Clinton em 2016.

Além disso, o fato de o país ser uma potência global, com uma moeda forte, poderio militar e grande influência geopolítica, são fatores que justificam a grande atenção concedida ao pleito.

A ampla vitória do republicano Donald Trump, que derrotou a democrata Kamala Harris tanto em votos populares quanto em número de delegados – pela primeira vez em 20 anos – acende um alerta amarelo para a esquerda no Brasil, que em 2026 deverá enfrentar mais um processo eleitoral marcado por forte polarização entre esquerda e direita.

Desde o anúncio oficial da vitória de Trump, políticos conservadores da direita brasileira, a exemplo do ex-presidente Bolsonaro (PL), do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (PL-SP) e de diversos parlamentares da ala conservadora, parabenizaram e celebraram a vitória do republicano, reacendendo a chama segregadora que fragmentou o país em 2022.

O avanço do populismo de direita não é um fenômeno isolado, como ratificado na eleição norte-americana, mas sim, mais uma demonstração de que essa é uma tendência que ganha força com a vitória de Milei, na Argentina, e de Bukele, em El Salvador.

O crescimento da tríade – Trump, Milei e Bukele – reflete uma crise de representatividade que afeta tanto as instituições tradicionais quanto as figuras políticas estabelecidas. No Brasil, a esquerda enfrenta um desafio similar, pois muitos eleitores se sentem desencantados com a política tradicional, deixando um poderoso vácuo para que líderes populistas consigam articular um sentimento de frustração contra o “sistema”.

A esquerda brasileira, ao longo dos anos, tem perdido a capacidade de se conectar verdadeiramente com o público, em grande parte pela ausência de domínio das redes sociais, que são corriqueiramente utilizadas por políticos ligados à direita para se comunicar diretamente com seus eleitores, contornando a mídia tradicional. Desse modo, a esquerda brasileira precisa adaptar-se a essa nova realidade e aprender a utilizar esses canais com maior eficácia, capturando a atenção de uma base que é ativa online e muitas vezes cética em relação aos canais tradicionais.

Além disso, Trump utilizou durante toda a sua campanha discursos fortes em torno da segurança pública e da ordem. No Brasil, onde a insegurança é uma preocupação central, essa retórica pode facilmente capturar a atenção dos eleitores em 2026.

Na última quinta-feira (31), em reunião com ministros e governadores, o presidente Lula chegou a apresentar a PEC da Segurança Pública, numa tentativa de oferecer uma resposta eficaz e direta às críticas sobre a falta de um plano de segurança em sua gestão. Contudo, foi rebatido pelo governador de Goiás e pretenso candidato a disputar o Planalto, Ronaldo Caiado (UB), que em sua fala reiterou que a segurança estará no centro do debate da eleição presidencial de 2026 – um possível ponto de trunfo para a direita brasileira, assim como ocorreu nos Estados Unidos.

Desse modo, o alerta amarelo é iminente: há uma demanda latente por soluções concretas para problemas que já pautaram a eleição de 2022 e devem continuar no centro do debate em 2026. Sem dúvidas, a eleição de Trump e de outros líderes na América dá o tom de uma corrente que pode ser ainda mais fortalecida no Brasil, onde a direita já conta com elevada representatividade na Câmara dos Deputados, tendo o PL como o partido com maior bancada.

Portanto, para seguir no comando do Palácio do Planalto e garantir um presidencialismo de coalizão eficaz para a governabilidade, a esquerda brasileira precisará passar por uma autocrítica breve e assertiva.

* João Vilas Boas é bacharel em CiênciaPolítica, pós-graduado em Gestão Pública e graduando em Direito e Assessor Parlamentar.

Quem são os evangélicos brancos, os ‘lindos cristãos’ que impulsionaram vitória de Donald Trump

Eleição nos Estados Unidos
“Como Jesus votaria?” A duas semanas da eleição que decidiria o 47º presidente dos Estados Unidos, o pastor Charles Stock levantou essa questão na Life Center, igreja que fundou na Pensilvânia. Melhor seria, segundo ele, optar por “um líder imperfeito que faz coisas boas” do que “sofrer sob o comando dos perversos Acabe e Jezabel”.

O casal aparece na Bíblia como modelo anticristão, farto em idolatria, fraqueza e crueldade. Jezabel, a pior dos dois, morreria tal qual preconizado pelo profeta Elias, com seu cadáver devorado por cachorros.

Não é difícil inferir de quem Stock estava falando. O líder com defeitos seria o republicano Donald Trump, com acusações judiciais que incluem pagar para silenciar uma estrela pornô com quem teve um caso extraconjugal. Já a democrata Kamala Harris encarnaria a Jezabel do século 21, alguém que poria em risco valores caros ao conservador americano, como aborto e casamento homoafetivo.

Kamala perdeu, Trump ganhou, e o resto é história para um bloco eleitoral que se alinha ao empresário por três pleitos consecutivos. São os chamados evangélicos brancos. Stock e sua Life Center fazem parte desse grupo, que mostra um engajamento eleitoral maior do que a média. Isso é ouro num país onde o voto não é obrigatório, e vencer uma eleição passa também por convencer alguém a sair de casa para votar.

Segundo o Public Religion Research Institute, esse quinhão evangélico não chega a 15% da população, mas pode representar um em cada quatro eleitores. Cerca de 80% dessa turma votam em Trump.

Raimundo César Barreto Jr., professor de cristianismo global no Seminário Teológico de Princeton, lembra que a divisão evangélica nos EUA não espelha a brasileira. Na América Latina, o termo evangélico é tomado como sinônimo de protestante. Na terra de Trump, o evangelicalismo é entendido como um ramo do movimento religioso iniciado em 1517 com a Reforma Protestante.

As igrejas brancas operam numa frequência própria dentro do grupo, predispostas “às questões raciais [pró-branco] e patriarcais, a ideia de uma família tradicional com o homem sendo chefe da família, com uma posição subalterna da mulher”, afirma Barreto Júnior.

O apoio a Trump em outros galhos protestantes, como denominações de maioria negra ou latina, é bem mais bambo, embora haja terreno para ser conquistado ali. “Entram questões que ultrapassam o debate racial. Ele é o ‘strongman’, o líder forte, macho, que tenta projetar o domínio dessa masculinidade que tem apelo para homens negros, hispânicos e brancos nos EUA.”

O republicano não desperdiçou oportunidades para tonificar laços afetivos com a direita cristã. Em julho, convocou seus “lindos cristãos” a saírem para votar “só desta vez”. “Quer saber? Mais quatro anos e tudo será resolvido, tudo ficará bem. Vocês não terão mais que votar, meus lindos cristãos”, disse sem explicar o que quis dizer com não haver mais necessidade de ir às urnas no futuro. A fala foi mal digerida por quem o vê como uma ameaça à democracia, sobretudo após seus entusiastas liderarem o atentado golpista do 6 de janeiro de 2021.
Em “The Kingdom, the Power and the Glory” (o reino, o poder e a glória), Tim Alberta, um jornalista que cresceu em um lar evangélico, analisa a aliança entre esses religiosos e o trumpismo. Cita o incômodo de pastores com o “conservadorismo sem dentes”, sem coragem de partir para cima, e o pendor para abraçar fake news como um culto satânico democrata que canibaliza crianças.

Alberta também fala num medo difuso que contamina muitos desses evangélicos, como se sua identidade religiosa estivesse a perigo num país cada vez mais plural e secularizado.

Em 2017, primeiro ano de Trump na Presidência, americanos responderam ao Public Religion Research Institute sobre qual religião enfrentava mais discriminação. “O público em geral era duas vezes mais propenso a mencionar muçulmanos”, diz o autor. “Apenas um grupo discordou dessa visão: os evangélicos brancos.” Cristãos, para esses dissidentes, eram o alvo mais visado.

Um pastor ex-trumpista lhe soprou então a reflexão: “Quando uma pessoa se convence de que está sitiada, que os inimigos estão vindo atrás dela e querem destruir seu modo de vida, o que a impedirá de se radicalizar?”.

O presidente eleito alimenta essa atmosfera de pânico. Em 2023, chegou a propor uma força-tarefa para combater a “perseguição contra cristãos na América”.

Trump, um presbiteriano que nunca deu sinais de praticar intensamente sua fé, ganhou pontos ao indicar juízes benquistos pela direita religiosa na Suprema Corte americana. Só assim para Roe vs. Wade, decisão de 1973 que garantia o direito constitucional ao aborto, cair dois anos atrás. Espera-se que mais coelhos saiam dessa cartola conservadora.

Também soube explorar o atentado que por pouco não lhe custou a vida, em julho. Passou a dizer que Deus o poupou por um motivo. A narrativa do “escolhido” deu certo.

Democratas saem em desvantagem nesse eleitorado porque, em geral, “sentem-se desconfortáveis ao falar sobre questões de fé”, afirma o historiador da religião Randall Balmer, da Dartmouth College. “Kamala discorreu sobre sua educação multirreligiosa, e Tim Walz [seu vice], sobre a filiação luterana, mas não fez muita diferença. O abismo religioso entre os dois partidos é real.”

Balmer diz se perguntar como pode “uma direita cristã que se vangloria de defender valores familiares” endossar “um predador sexual confesso, casado três vezes, alguém que não consegue nem fingir alfabetização religiosa”.

“A melhor explicação que posso oferecer é que os evangélicos brancos veem essa relação como transacional: apoiarão Trump, que por sua vez lhes dará o que querem em termos de nomeações de novos juízes.” As batalhas no Judiciário, afinal, são cruciais para fazer valer a agenda conservadora.

Já há inclusive quem proponha uma adaptação do MAGA (Make America Great Again). O slogan trumpista por excelência viraria MACA: Make America Christian Again. Faça a América ser cristã de novo.

Anna Virginia Balloussier, Folhapress

Reforma de Jerônimo deve ativar disputa entre Wagner e Rui no governo, por Raul Monteiro*

A reforma administrativa pretendida pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), sobre a qual se fala muito mas pouco se sabe, deveria chegar em boa hora para dar uma chacoalhada na gestão e em certa medida prepará-lo para a sucessão de 2026, quando ele pretende disputar a reeleição. Não deve, no entanto, ser operação fácil para o político diante do desafio que será reacomodar forças petistas em conflito, como o senador Jaques Wagner e o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, além de um grupo de prefeitos aliados que perderam a reeleição ou simplesmente estão encerrando seus mandatos a partir de 2025.

Ajustes no governo, com troca ou realocação de quadros, sobretudo após eleições ou em meados de mandato, são comuns e até esperados. Ainda mais quando o gestor começa a enfrentar os primeiros sinais de desgaste e passam a pipocar aqui e ali críticas à coordenação política e ao estilo de gestão, além de crescerem as cobranças sobre o desempenho da administração e a apresentação de resultados, como claramente parece ser o caso. Com a experiência acumulada nestes dois anos como governador, Jerônimo já deve ter percebido que alguma mudança é esperada pela sociedade e as forças políticas que o apoiam.

Em condições normais, ele deveria ficar atento ao movimento dos partidos cuja coalizão lidera, especialmente sobre a fisionomia com que saíram das eleições municipais, porque certamente terá consequência sobre a sucessão estadual da qual ele deve ser a principal figura, assim como à performance dos quadros que indicaram à administração, conduzindo a partir daí suas avaliações para a tomada de decisões, das quais não devem faltar certamente suas preferências pessoais e a linha de afinidade que deseja para a própria equipe. Mas isso não será suficiente no caso de Jerônimo.

Se já não se disfarçam as pequenas escaramuças entre os chamados times de Wagner e Rui no curso da atual gestão, exigindo do governador jogo de cintura para contornar os elementos que levam a confrontos e evitar conflitos que paralisem o governo, os dois líderes deverão se enfrentar claramente no processo de ocupação de espaços na reforma, o que pode colocar em xeque os planos mais pessoais do gestor para os próximos dois anos de governo. Hoje, é nítido o predomínio da influência de Wagner sobre a administração, em detrimento das forças ligadas ao ministro chefe da Casa Civil.

Não poderia ser diferente. Wagner correu na frente para assumir o controle do PT quando percebeu que, empoderado pela popularidade, o sucessor poderia sair do controle e, aproveitando-se da habilidade pessoal em contraposição a dificuldades de Rui na área, praticamente assumiu o controle político do governo, deixando ao ex-governador funções que estão longe de exercer a mesma influência sobre Jerônimo que possui hoje. Daí porque uma disputa entre os dois não está descartada, tem potencial explosivo e terá que ser administrada pelo governador em qualquer mudança que pretenda no secretariado.

*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

Bahia é líder nacional em redução de desmatamento, com queda expressiva de 63,3%

secretário Eduardo Sodré celebrou a conquista e creditou o sucesso à equipe do Estado da Bahia.
A Bahia se tornou destaque nacional ao conquistar liderança na redução do desmatamento no bioma Cerrado, na região do Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, registrando uma queda expressiva de 63,3%, entre agosto de 2023 e julho de 2024. O anúncio foi feito durante cerimônia realizada nesta quarta-feira (6), no Palácio do Planalto, em Brasília, que contou com a presença do vice-presidente, Geraldo Alckmin, da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do secretário estadual do Meio Ambiente, Eduardo Sodré, entre outras autoridades.

O secretário Eduardo Sodré celebrou a conquista e creditou o sucesso à equipe do Estado da Bahia. “Esse resultado é fruto de um trabalho em equipe, orientado pelo nosso governador Jerônimo, mas de responsabilidade de cada um dos servidores e servidoras do sistema ambiental. Juntos, aplicando a viabilidade ambiental e técnicas corretas de licenciamento e combate a incêndios florestais, enfrentamos o desmatamento como ele merece”, destacou.

Além da Bahia, que liderou a redução, os demais estados do Matopiba também apresentaram quedas em suas taxas de desmatamento no período: o Maranhão registrou redução de 15,1%; o Piauí alcançou uma diminuição de 10,1%; e o Tocantins teve queda de 9,6%. No total, a região apresentou uma redução de 76,4% no desmatamento

Também foram apresentados os dados que mostram que o Brasil reduziu o desmatamento em 30,6% na Amazônia e em 25,7% no Cerrado. De acordo com o SAD Cerrado, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o desmatamento da savana brasileira emitiu mais de 135 milhões de toneladas de CO₂ entre janeiro de 2023 e julho de 2024, um volume considerável, comparado a 1,5 vezes as emissões anuais do setor industrial brasileiro. Na Amazônia, a taxa oficial de desmatamento foi de 6.288 km² no último ano, representando a maior queda percentual em 15 anos.

Ainda no evento, o Governo Federal firmou com os estados da região de Matopiba um pacto para a prevenção e controle do desmatamento e incêndios ilegais nos biomas, reforçando seu compromisso com a preservação dos biomas. A parceria com o governo federal inclui também investimentos em desenvolvimento sustentável, como a criação de novas unidades de conservação e a retomada do Fundo Amazônia. Esses resultados são vistos como parte de um esforço contínuo para fortalecer a governança ambiental e garantir um desenvolvimento econômico que respeite o meio ambiente e combata o avanço do desmatamento.

Pacto

O Pacto Interfederativo para a Prevenção e Controle do Desmatamento Ilegal e Incêndios Florestais no Cerrado, assinado pelo Secretário de Meio Ambiente da Bahia, Eduardo Sodré, juntamente com representantes do governo federal e dos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí (região do MATOPIBA), estabelece medidas para combater a perda de vegetação nativa no Cerrado — um bioma essencial para a agricultura, pecuária e conservação dos recursos hídricos do Brasil. O pacto prevê a identificação e a punição dos responsáveis por desmatamento ilegal, além de reforçar a transparência e o compartilhamento de dados entre os governos. Também será formado um grupo de trabalho dedicado ao desenvolvimento de estratégias de conservação ambiental. Essa iniciativa integra o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Cerrado, promovendo a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável na região.

Dupla alcançada no Arenoso exibia armas nas redes e praticava ataqua a tiros

Guarnições das RONDESPs Central e Chapada, empregadas na Operação Hórus, apreenderam armas e munições com os integrantes de facção.

A dupla alcançada no bairro do Arenoso, em Salvador, na noite de quarta-feira (6), exibia armas de fogo nas redes sociais e promovia ataques a tiros contra rivais de outra facção.

Guarnições das RONDESPs Central e Chapada, empregadas na Operação Hórus, realizavam patrulhamento contra integrantes de facções, quando localizaram um “bonde”, na Rua 21 de Abril.

Os traficantes atiraram nas equipes e, após confronto, dois acabaram feridos. Com eles foram apreendidos duas pistolas, carregadores, munições e pinos de cocaína. A dupla foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.

Bolsonaro pedirá a STF para ir à posse de Trump: ‘Vai falar não para o cara mais poderoso do mundo?’

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quarta-feira (6) que pedirá ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes autorização para ir à posse de Donald Trump, marcada para o próximo dia 20 de janeiro nos Estados Unidos.

Em entrevista à Folha, o ex-presidente disse que já teve três pedidos de viagem internacional negados por Moraes, o último deles para ir à casa de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, onde o republicano recebeu convidados para acompanhar a apuração nesta terça-feira (5).

“Se o Trump me convidar, eu vou peticionar ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral], ao STF. Agora, com todo o respeito, o homem mais forte do mundo… você acha que ele vai convidar o Lula? Talvez protocolarmente”, disse Bolsonaro.

“Quem vai convidar do Brasil? Talvez só eu. Ele [Moraes] vai falar não para o cara mais poderoso do mundo? Eu sou ex. O cara vai arranjar uma encrenca por causa do ex?”

Bolsonaro está com o passaporte retido e proibido de deixar o país devido às investigações das tratativas golpistas ocorrida durante a reta final do seu governo, em 2022.

Um dos filhos do ex-presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) esteve em Mar-a-Lago nesta terça-feira (5).

“Vou peticionar ao Alexandre. Ele decide. O Eduardo [Bolsonaro] tem amizade enorme com ele [Trump]. Tanto é que de 85 convidados ele foi e botou mais dois para dentro, o Gilson [Machado, ex-ministro de Bolsonaro] e o filho do Gilson. Ele me tem como uma pessoa que ele gosta, é como você se apaixona por alguém de graça, né? Essa paixão veio da da forma como eu tratava ele, sabendo o meu lugar”, disse Bolsonaro.

O ex-mandatário disse que sempre soube a diferença entre ele e Trump, dizendo que seria uma relação proporcional à do Brasil (Trump) com o Paraguai (Bolsonaro).

O ex-presidente está inelegível e não poderá figurar nas urnas eletrônicas pelo menos até 2030.

Ele foi condenado por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação sob acusação de difundir mentiras sobre o processo eleitoral em reunião com embaixadores e utilizar eleitoralmente o evento de comemoração do Bicentenário da Independência.

Ao comentar as investigações que ainda pesam em torno de seu nome, como a das tratativas golpistas de 2022, ele subiu o tom em relação a Moraes.

“Há dois anos querendo me incriminar como golpista, vai a merda, porra. O cara tá há dois anos com a mulher, tô desconfiando que tá me traindo e tô há dois anos dormindo com ela. E tô investigando, me traiu, não me traiu… resolve essa parada logo, tenha altivez. Manda soltar esses coitados que estão presos aí a 17 anos de cadeia”, afirmou, se referindo a condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro.

Camila Mattoso e Ranier Bragon/Folhapress

Vitória de Trump vira novo motivo para divergência de Haddad e Gleisi sobre cortes de gastos

A repercussão da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos expôs, mais uma vez, as divergências entre a equipe econômica e a cúpula petista sobre o rumo da política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Enquanto o ministro Fernando Haddad (Fazenda) falava em cuidar da casa —expressão entendida como uma defesa da austeridade fiscal— , a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), dizia que as necessidades do povo não cabem na agenda neoliberal.

Na manhã desta quarta-feira (6), Haddad foi o primeiro da Esplanada a comentar o resultado da eleição. Ele aproveitou a fala para dizer que o Brasil tem de cuidar das finanças, “cuidar da economia para ser o menos afetado possível, qualquer que seja o cenário externo”.

A declaração ocorre num momento em que, sob pressão do mercado, o governo prepara um pacote de medidas para conter a trajetória da dívida pública e manter o equilíbrio fiscal com a sobrevivência do arcabouço fiscal. Sem ajustes nas despesas obrigatórias, a regra fiscal está ameaçada.

Nesta quinta-feira (7), o presidente Lula tem nova reunião com a JEO (Junta de Execução Orçamentária), colegiado de ministros responsável pelas decisões de política fiscal e orçamentárias do governo.

E uma ala do governo e do PT —da qual Gleisi faz parte— resiste a cortes em áreas sociais. Ao afirmar que a eleição de Trump representa um sinal de alerta para o campo democrático no mundo, Gleisi sugeriu “dar respostas concretas às necessidades e expectativas do povo, que não cabem na receita neoliberal que o mercado quer impor ao governo e ao país”.

O impasse vai além do pacote de revisão de gastos. Em jogo, por trás das divergências, está a disputa política sobre o caminho econômico que o presidente Lula deveria seguir para buscar a sua reeleição em 2026. Ou mesmo eleger um sucessor.

A leitura de integrantes da área econômica nesta quarta foi a de que a eleição de Trump reforça a posição de Haddad sobre a necessidade de entregar ao Congresso um pacote de medidas estruturantes de corte de despesas para enfrentar o cenário internacional mais desafiador após o resultado das urnas nos EUA.

Em sua rápida entrevista, Haddad lembrou já ter defendido cautela em virtude do cenário internacional. A declaração foi feita após o ministro ser questionado sobre o impacto da vitória de Trump na economia brasileira.

“Temos que aguardar um pouquinho e cuidar da nossa casa, cuidar do Brasil, cuidar das finanças, cuidar da economia, para ser o menos afetado possível”, disse.

“Quando nós estávamos negociando as medidas com o Congresso Nacional, eu dizia, no final do ano passado, entre novembro e dezembro, que era preciso ter muita cautela interna, em virtude do que estava acontecendo no mundo, e tentando sensibilizar o Congresso sobre as dificuldades de 2024”, afirmou.

Para Haddad, agora será preciso sensibilizar mais o Congresso porque o momento internacional é desafiador. Ele não entrou em detalhes das dificuldades que o Brasil pode enfrentar com o retorno de Trump à Casa Branca.

Auxiliares do ministro avaliam que medidas estruturantes darão mais robustez ao Brasil para apagar os ruídos sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal via contas públicas ajustadas.

Além disso, o mercado financeiro tem expectativa de que Haddad apresentará um pacote de ajuste fiscal positivo, aliviando as incertezas que rondam o governo Lula nesse setor.

A equipe econômica também tem alertado Lula para o perigo da alta do dólar para a inflação, o que poderia engatilhar uma espiral negativa na economia, o que poderia ameaçar a sua reeleição.

Por outro lado, o dólar em queda frente ao real, no dia do anúncio da vitória de Trump, endossou o argumento de alguns integrantes do governo de que toda a turbulência no Brasil, que levou à disparada da moeda americana, não tinha um componente relacionado à piora da política fiscal.

Para reforçar essa avaliação, ressaltam que nada mudou da semana passada em relação ao comportamento do câmbio desta quarta-feira.

Como mostrou a Folha, medidas mais estruturantes sofrem resistências de ministros da área social, que têm reforçado o discurso contra redução de benefícios sociais. A reação está crescendo, sobretudo por parte dos ministros do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, e da Previdência Social, Carlos Lupi. Os dois sinalizaram que rejeitam as medidas mais duras e têm procurado sensibilizar o presidente Lula.

O ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), embora não tenha dado declarações críticas publicamente, também não é simpático a mudanças nas regras dos benefícios da sua pasta.

Há uma avaliação no governo que a eleição americana aumentou a importância deste debate no Brasil. A economia foi um dos principais pilares da campanha do republicano, que explorou a insatisfação dos americanos com sua vida financeira durante o governo Joe Biden.

Apesar de os índices macroeconômicos estarem positivos, a inflação chegou a disparar desde 2020 para os maiores valores em 40 anos.

À Folha, Gleisi usou o exemplo americano para defender esforços para a economia popular. Ela ressaltou que, no governo Biden, os indicadores econômicos eram razoáveis, mas não atenderam às expectativas do povo.

No Brasil, integrantes do governo vem se questionando desde o início da gestão Lula 3 por qual motivo a melhora nos índices não reflete numa elevação na percepção da qualidade de vida das pessoas e, em última instância, da aprovação do governo.

Lula agora está nos detalhes finais do pacote proposto pela equipe de Haddad para cortar gastos. As propostas em estudo atingem áreas caras para o petismo, como educação, saúde e assistência social.

Marcada por debates acalorados nos grupos de WhatsApp integrados por petistas, essa discussão também é alimentada pela disputa pelo comando do PT e a condução do partido nas eleições de 2026. Defensores de Haddad alegam que as críticas à política econômica, quando vocalizadas pela presidente do PT, prejudicam o projeto político de Lula e do próprio ministro da Fazenda.

Uma outra corrente do PT argumenta que o debate interno é uma marca do partido, acrescentando que medidas hoje na mira do ministro são conquistas petistas. Apoiadores de Haddad dizem que a crítica a seu pacote abala a confiança do mercado na disposição de Lula para implementá-lo.

Adriana Fernandes, Catia Seabra e Marianna Holanda/Folhapress

STF vê volta de Trump sem efeito para Bolsonaro em processos, mas embate maior no Congresso

Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) afirmaram nesta quarta-feira (6) reservadamente que a volta de Donald Trump à Casa Branca não terá efeito no Judiciário em relação às condenações de inelegibilidade impostas a Jair Bolsonaro (PL) nem sobre investigações já avançadas, como a que trata da trama golpista que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Apesar disso, magistrados dizem avaliar que pode crescer a pressão política para que o ex-presidente tenha a inelegibilidade revertida via perdão dado pelo Congresso Nacional.

Antes mesmo da vitória de Trump, bolsonaristas e o próprio Bolsonaro já vinham se articulando para incluir o perdão no projeto que tramita na Câmara e que, por ora, só trata da anistia aos que participaram dos ataques na praça dos Três Poderes.

Após o resultado anunciado nesta quarta-feira, interlocutores do ex-presidente disseram que o STF não conseguirá resistir ao “vento contra” que surgirá a partir do êxito do candidato republicano.

A avaliação de que a situação jurídica de Bolsonaro pode mudar diante da vitória de Trump é compartilhada por integrantes da defesa do ex-presidente —especialmente com uma eventual anistia aos envolvidos nos ataques às sedes dos Poderes.

Na semana passada, o próprio Bolsonaro foi ao Congresso negociar tanto a anistia aos que participaram dos atos de 8 de janeiro como a ele próprio.

“Foi um julgamento político [a inelegibilidade] e estamos buscando maneiras de desfazer isso aí. A prioridade nossa é o pessoal que está preso, eu sou o segundo plano”, afirmou o ex-presidente após reunião em que o seu partido, o PL, selou o apoio à candidatura de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) à presidência do Senado.

Na leitura de ministros do Supremo e de tribunais superiores, se aprovada no Congresso, a anistia pode levar a um novo embate institucional, já que a cúpula do Judiciário é contra o perdão aos invasores que destruíram as sedes dos três Poderes.

A Folha conversou com seis ministros e auxiliares do Supremo nesta quarta. A avaliação majoritária é que o novo governo Trump terá outras preocupações, como o avanço da China, a política de imigrantes e as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio.

Acreditar que a eleição do republicano pode impactar a situação criminal ou eleitoral de Bolsonaro, avaliam estes ministros, é um erro de avaliação sobre as prioridades de Trump e a capacidade do Brasil de solucionar seus dilemas internos.

Não se descarta, porém, que um eventual apoio da Casa Branca aos ataques de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes possa causar desassossegos. O bilionário, dono da rede social X (antigo Twitter), deve assumir um cargo no governo Trump em 2025 —o presidente eleito já prometeu a ele o posto de chefe de um novo Departamento de Eficiência Governamental.

A expectativa atual no Supremo é que a Polícia Federal apresente até o fim do ano o relatório final da investigação sobre a trama golpista envolvendo Bolsonaro e aliados para reverter o resultado da eleição de 2022. A eventual denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) deve ficar para o primeiro semestre de 2025.

Ministros do Supremo afirmam, reservadamente, que preferem encerrar os casos antes das eleições de 2026, para não haver pendências antes do pleito. Os julgamentos também poderiam cessar a apreensão do mundo político sobre o destino de Bolsonaro, abreviando o protagonismo do tribunal nas investigações.

Bolsonaro está inelegível devido a duas decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) expedidas em 2023. Com isso, por ora não poderá figurar nas urnas eletrônicas pelo menos até 2030.

Ele foi condenado no ano passado por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação sob acusação de difundir mentiras sobre o processo eleitoral em reunião com embaixadores e utilizar eleitoralmente o evento de comemoração do Bicentenário da Independência.

Além disso, o ex-presidente está no centro de outras investigações, entre elas a que apura as tratativas em torno de um golpe de Estado que visava impedir a posse de Lula (PT) em 2023.

Uma eventual anistia a Bolsonaro e aos golpistas que depredaram as sedes dos Poderes pode ser analisada pelo STF caso o tribunal seja provocado a se manifestar. O projeto de lei que perdoa os invasores ainda será analisado por uma comissão especial da Câmara dos Deputados.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), promete encerrar a análise da proposta de anistia sobre o 8/1 ainda em sua gestão. Isso significa que o deputado quer uma solução para o imbróglio ainda este ano, já que ele não deve comandar mais a Casa após o recesso parlamentar entre dezembro e janeiro.

Mesmo com o impacto político gerado pela eleição de Trump à Presidência do EUA, os ministros do STF fizeram piada nesta quarta antes da sessão no plenário, como mostrou a colunista Mônica Bergamo.

A brincadeira era adivinhar qual dos ministros seria o primeiro a ter o visto para entrada nos Estados Unidos negado por Trump. Em setembro, um grupo de deputados e senadores dos EUA encaminhou carta ao secretário de Estado americano, Antony Blinken, solicitando a revogação de vistos de todos os magistrados do STF.

Eles chamavam o ministro Alexandre de Moraes de “ditador totalitário” e argumentavam que os outros membros do Supremo eram “cúmplices destas práticas antidemocráticas”.

Camila Mattoso e Cézar Feitoza/Folhapress
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Padre é afastado após vazamento de fotos íntimas com outros homens

 

Um padre foi afastado das funções pela Diocese de Catanduva, no interior de São Paulo, depois que fotos íntimas dele com outros homens vazaram na internet. Segundo informação do Uol, as imagens mostram o padre Fabio Marsaro de Paula, de 52 anos, com outros homens, em selfies em que aparecem as genitais. Em outra foto, ele aparece segurando uma cerveja. O religioso atuava na Paróquia Imaculada Conceição, na cidade de Palmares Paulista (SP). Em comunicado oficial, assinado pelo bispo José Benedito Cardoso, é anunciado o afastamento do padre. O bispo pede ainda orações pelo sacerdote, mas não informa o motivo por trás da decisão. A diocese confirmou, contudo, ao ser questionada, que sabe da existência das imagens. LEIA MAIS

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