Lula adverte para risco de nova guerra se ordem global não mudar

Presidente discursou em plenária sobre reforma das instituições no G20
A modernização das instituições internacionais, inseridas na lógica de um mundo multipolar, é essencial para evitar o risco de uma nova guerra mundial ou de uma crise econômica de escala planetária, advertiu nesta segunda-feira (18) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele abriu a segunda sessão da Cúpula de Líderes do G20, que discute a reforma da governança global.

“A resposta para a crise do multilateralismo é mais multilateralismo. Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita”, discursou o presidente no encontro, que começou com mais de duas horas de atraso após a demora na realização da foto oficial dos líderes da reunião de cúpula.

Dizendo que a ordem vigente desde o fim da Segunda Guerra Mundial e o neoliberalismo não deram certo, Lula defendeu a reforma das instituições internacionais que amplie o peso dos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. A reforma da governança internacional é um dos eixos da presidência do Brasil no G20 (grupo das 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana).

“A globalização neoliberal fracassou. Em meio a crescentes turbulências, a comunidade internacional parece resignada a navegar sem rumo em disputas hegemônicas. Permanecemos à deriva, arrastados por uma torrente que nos empurra para uma tragédia. Mas o confronto não é uma fatalidade. Negar isso é abrir mão da nossa responsabilidade”, acrescentou Lula.

Para Lula, o G20 tem poder para reformar a ordem internacional na medida em que o grupo reúne tanto países ricos como em desenvolvimento.

“Em torno desta mesa estão os líderes das maiores economias e blocos regionais do planeta. Não há ninguém em melhor posição do que nós para mudar o curso da humanidade. Este ano, a reforma da governança global entrou em definitivo na agenda do G20”, comentou.

Conselho de Segurança
Uma das pautas da revisão da governança global é a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). Em seu discurso, Lula criticou o poder de veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Segundo o presidente brasileiro, esse sistema resulta na omissão do poder internacional diante de guerras e conflitos.

“A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional. O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes. Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor”, declarou Lula, numa crítica indireta a Estados Unidos, Israel e Rússia.

O presidente acrescentou que sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis. Lula mencionou conflitos esquecidos em países pobres e criticou intervenções estrangeiras que não conseguiram resolver guerras. “Intervenções desastrosas subverteram a ordem no Afeganistão e na Líbia. A indiferença relegou o Sudão e o Haiti ao esquecimento. Sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis”, comentou.

Lula destacou que a Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada por apenas 51 países, dos 193 atuais. O presidente pediu maior presença de países emergentes e em desenvolvimentos nos debates e afirmou que nenhuma discussão pode ser interditada. “A estabilidade mundial depende de instituições mais representativas. A pluralidade de vozes funciona como vetor de equilíbrio. O futuro será multipolar. Aceitar essa realidade pavimenta o caminho para a paz”, disse.

Agência Brasil

Cumprimento frio entre Lula e Milei viraliza nas redes

Uma montagem produzida pela Folha que reúne várias fotografias e evidencia o encontro frio e formal entre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o seu homólogo da Argentina, Javier Milei, viralizou nesta segunda-feira (18) nas redes sociais.

A fotografia dos sisudos Lula e Milei está no centro da montagem e contrasta com as outras imagens nas quais o presidente brasileiro e outros líderes globais sorriem.

Os líderes se reúnem para a cúpula de chefes de Estado do G20, que ocorre nesta segunda (18) e terça (19) no Rio de Janeiro. O encontro de Lula com Milei foi seco —não houve descontração como ocorreu entre o brasileiro e outros políticos, incluindo conservadores, caso da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

Além do representante argentino, a montagem feita pela Folha mostra o encontro de Lula com os líderes de Chile, África do Sul, França, Itália, Índia, Reino Unido, Japão e EUA.

Milei e Lula têm mantido relacionamento distante desde o pleito no país vizinho, ocorrido no ano passado e vencido pelo ultraliberal. Já durante a cúpula do G20 a delegação argentina manifestou divergências ao posicionamento brasileiro em relação a temas como gênero, taxação de bilionários e agenda 2030.

Depois de dificultar as negociações diplomáticas na cúpula, a Argentina de Milei recuou de posições que ameaçavam entravar os trabalhos do bloco no Rio.

Primeiro, Buenos Aires mudou de ideia a respeito de sua oposição a trechos do documento final da cúpula que tratavam de igualdade de gênero e taxação dos super-ricos. O texto acordado pelos países do G20 apoia “o comprometimento total com igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas”. No parágrafo sobre taxação, a declaração se compromete a se engajar de forma produtiva para garantir que indivíduos com patrimônio ultra elevado sejam tributados de forma efetiva.

Depois, a delegação argentina também cedeu e aceitou fazer parte da Aliança Global Contra a Fome a Pobreza proposta pelo presidente Lula. O país teria sido o único a ficar de fora da iniciativa.

Para justificar as divergências, a Presidência argentina disse em nota que, “sem bloquear a declaração dos demais líderes”, discordava “da noção de uma maior intervenção estatal é uma forma de lutar contra a fome”.

“Cada vez que se tentou combater a fome e a pobreza com medidas que aumentam a presença do Estado na economia o resultado foi o êxodo tanto da população como do capital, além de milhões de mortes de vidas humanas”, disse o texto, na linguagem típica da atual administração argentina.

A Argentina tem 13% de sua população em situação de insegurança alimentar severa (leia-se, fome), segundo dados de 2022 da ONU. Com a queda do consumo, analistas projetam que esse dado crescerá em 2024. Já a pobreza, mostram dados do instituto de estatística local, atinge 52% da população argentina.

Folhapress
Unlabelled

Suspeitos de tráfico são presos pela PM em Fazenda Grande do Retiro

Foto(s): Rondesp BTS
Na madrugada desta segunda-feira (18), policiais militares das Rondesps BTS e Nordeste, empregados na Operação Hórus, prenderam dois suspeitos de tráfico no bairro de Fazenda Grande do Retiro, em Salvador. A ação resultou na apreensão de drogas, granadas, balanças de precisão, munições e material utilizado para armazenamento e comércio de entorpecentes.

Os agentes faziam rondas na região quando foram informados de que havia homens traficando drogas em uma festa nas proximidades. Quando da chegada das equipes, vários suspeitos tentaram fugir, sendo que dois deles foram alcançados enquanto deixavam o local e um carro por aplicativo. Na abordagem, os agentes encontraram duas granadas, 234 pinos de cocaína, 135 trouxas de maconha, 351 frascos de lança-perfume, 42 munições de calibre 9mm, duas balanças de precisão e 100 embalagens plásticas para separação e venda dos entorpecentes.

Os suspeitos e o material apreendido foram apresentados à Central de Flagrantes para adoção das medidas cabíveis.

Foto(s): Rondesp BTS

PM apreende drogas em Feira de Santana

Foto(s): 65ª CIPM
Na manhã desta segunda-feira (18), policiais militares da 65ª CIPM prenderam um suspeito de tráfico em Feira de Santana. Drogas e munições foram apreendidas.

Os militares faziam rondas na Avenida Tomé de Souza, quando avistaram um homem em atitude suspeita. Ao perceberem a presença dos agentes, o suspeito tentou fugir, mas foi capturado. A ação resultou na apreensão de 1 quilo de cocaína, sete trouxas de maconha, uma pedra de crack, duas balanças de precisão e nove munições calibre 9mm.

O homem e o material foram apresentados à delegacia que atende à região para adoção das medidas cabíveis.

Foto(s): 65ª CIPM

PM prende suspeito de tráfico em Paratinga

Foto(s): CIPT-MO
Na tarde de sábado (16), policiais da Rondesp Meio-Oeste e da 28ª CIPM apreenderam, em Paratinga, uma espingarda, uma porção de maconha e 84 papelotes com cocaína. Um homem foi preso.

Os militares faziam rondas nas proximidades da rodoviária do município quando receberam a denúncia de que um homem em um carro estava praticando tráfico de drogas na região. Após realizarem buscas, os agentes encontraram o suspeito e, na abordagem, localizaram o material ilícito.

O homem e o material (Uma espingarda e drogas foram apreendidas) foram apresentados à delegacia que atende à região para adoção das medidas cabíveis.

Moraes diz que regulação das redes é necessária para volta da normalidade democrática

O ministro Alexandre de Moraes, do STF
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta segunda-feira (18) que a regulamentação das redes sociais e o fim da impunidade contra crimes de ódio são o caminho para a volta da normalidade democrática no Brasil.

As declarações foram dadas uma semana antes de o Supremo julgar ações que podem derrubar trechos do Marco Civil da Internet —julgamento considerado mais importante do semestre no tribunal.

“É necessário, para nós voltarmos à normalidade democrática, uma regulamentação [das redes sociais] e o fim dessa impunidade. Nunca houve nenhum setor na história da humanidade que afete muitas pessoas e que não tenha sido regulamentado”, disse Moraes em seminário na Assembleia de Mato Grosso.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta segunda-feira (18) que a regulamentação das redes sociais e o fim da impunidade contra crimes de ódio são o caminho para a volta da normalidade democrática no Brasil.

As declarações foram dadas uma semana antes de o Supremo julgar ações que podem derrubar trechos do Marco Civil da Internet —julgamento considerado mais importante do semestre no tribunal.

“É necessário, para nós voltarmos à normalidade democrática, uma regulamentação [das redes sociais] e o fim dessa impunidade. Nunca houve nenhum setor na história da humanidade que afete muitas pessoas e que não tenha sido regulamentado”, disse Moraes em seminário na Assembleia de Mato Grosso.

Cézar Feitoza, Folhapress

Campos Neto diz que fim da escala 6×1 vai contra reforma trabalhista

Foto: presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a criticar o fim da escala de trabalho 6×1 (seis dias de trabalho e um de descanso semanal) nesta segunda-feira (18). Segundo o economista, a medida anularia mudanças introduzidas pela reforma trabalhista, sem garantia de mais direitos aos trabalhadores.

“O desemprego continua surpreendendo [positivamente], e creio que, em parte relevante, dado à reforma trabalhista. O projeto do 6×1 vai contra o que a gente produziu [na reforma trabalhista], que foi muito bom para o emprego no Brasil, e há evidências disso. Não é colocando mais deveres para os empregadores que você vai dar mais direitos aos trabalhadores”, disse Campos Neto durante o evento CEOs e C-Levels, no Insper.

Na quinta-feira (14), o economista afirmou que o fim da escala 6×1 reduziria a produtividade e elevaria o custo da mão de obra.

“O projeto do 6 por 1 é bastante prejudicial para o trabalhador, porque vai aumentar o custo do trabalho e elevar a informalidade”, avaliou Campos Neto, acrescentando que isso teria impactos na produtividade.

Recentemente, o tema virou alvo de uma proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que quer mudar a Constituição para alterar a jornada dos trabalhadores.

POLÍTICA MONETÁRIA E RISCO FISCAL

O presidente do BC também voltou a se manifestar contra mudanças na meta inflacionária, salientando que ela se situa entre 2% a 3% ao ano na maior parte dos países e que uma mudança não traria uma maior liberdade na condução das políticas econômicas.

Campos Neto também pontuou que o trabalho do Banco Central em controlar a inflação é impactado pela alta nos juros futuros, em decorrência de uma maior percepção de risco fiscal, e que esse movimento também eleva a inflação.

“Antes que a gente tenha que escutar que, na verdade, são os ‘malvados da Faria Lima’ tentando fazer uma expectativa de inflação maior, olhamos também o Firmus, que é uma pesquisa que começamos a fazer com o mundo real, com as empresas, com os empresários, e, curiosamente, esses, em geral, são mais pessimistas do que os agentes financeiros”, afirmou Campos Neto.

Para a redução nos juros futuros, o presidente do BC diz ser necessário correções na trajetória da dívida pública brasileira.

“Não acho que a realidade fiscal do Brasil é um desastre iminente. Tem muitos recursos, muita possibilidade de fazer correções de rota”, afirmou o economista.

“Para haver efeito de choque positivo, em termos de credibilidade, [o ajuste fiscal] tem que ser muito mais baseado em cortes de gastos do que em aumento de receitas. O governo está bastante esforçado, vejo bastante vontade do ministro [Fernando] Haddad de fazer”, completou Campos Neto.

O economista está no fim do seu mandato à frente do BC, que se encerra em 31 de dezembro. Para o seu sucessor, Gabriel Galípolo, ele aconselha que o indicado por Lula trabalhe com autonomia e de forma técnica.

“Não ligue para as críticas no meio do caminho, e pense nas entregas. No fim das contas, apresentações de PowerPoint e debates passam, e as entregas, como o Pix, ficam”, disse Campos Neto.

Júlia Moura, Folhares

OMS convoca reunião para reavaliar emergência em Mpox

Foto: Reprodução/Anvisa
Um comitê para avaliar a situação mundial da Mpox foi convocado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para a próxima sexta (22). A reunião pretende mensurar a dimensão da doença no mundo.

Em agosto, o órgão definiu a Mpox como uma “emergência de saúde pública de importância internacional”. É o nível mais alto de alerta da organização, que tem como procedimento padrão reavaliá-lo a cada trimestre.

A mobilização da OMS é causada pela identificação de uma mutação do vírus encontrada na República Democrática do Congo, na África, entre 2022 e 2023. Em julho, os países vizinhos também registraram a nova cepa.

Até novembro, 1.059 pessoas contraíram Mpox e outros 49.310 casos foram notificados em países como Quênia, Uganda e Ruanda.

No Reino Unido, as autoridades de segurança sanitária detectaram o primeiro caso da variante do mpox no país em outubro, mas tranquilizaram a situação afirmando que “o risco para população é baixo.”

Segundo o Ministério da Saúde, não há casos registrados da nova cepa da Mpox no Brasil.

Neste mês, o governo federal e Anvisa lançaram uma campanha sobre a doença com painéis instalados em portos e aeroportos.

O que é a Mpox
A Mpox é uma doença viral causada pelo vírus MPXV que provoca lesões na pele, ínguas, febre, dor de cabeça, calafrios e fraqueza e pode levar à morte.

A transmissão é feita pelo contato com a pele ou mucosas de pessoas infectadas. A prevenção é feita com distanciamento das lesões, higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel. Também é recomendado evitar compartilhar roupas de cama e objetos como copo, talheres e brinquedos sexuais.

Folhapress

A parceria estratégica Brasil-China deve colocar o desmatamento no centro das atenções

Foto: Augusto Dauster/Ibama
Em sua tentativa de posicionar o Brasil como líder global na ação climática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o compromisso ambicioso de acabar com o desmatamento até 2030. Essa meta representa um passo fundamental diante dos desafios relativos à economia política da degradação ambiental e do desmatamento.

Recentes incêndios florestais, secas prolongadas e enchentes históricas ressaltam a urgência de proteger as florestas brasileiras. Com mais da metade de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) relacionadas ao uso da terra e ao desmatamento, o Brasil precisa alcançar essa meta em prol de seu futuro socioambiental e para o bem de todo o planeta. Apesar dos progressos feitos sob a administração Lula, particularmente em 2023, os desafios permanecem enormes.

Essa questão não é de interesse exclusivo do Brasil; é também de grande importância para a China, o maior parceiro comercial do Brasil e principal comprador de suas exportações agrícolas, como soja e carne bovina. Para a China, a estabilidade da produção agrícola brasileira é crucial para garantir sua própria segurança alimentar.

A China já demonstrou um compromisso em apoiar as iniciativas de sustentabilidade do Brasil. Em 2023, surpreendentes 72% dos investimentos chineses no Brasil foram destinados a projetos de energia renovável e sustentabilidade.

À medida que o Brasil trabalha para cumprir seu compromisso para 2030, a China tem a oportunidade de se tornar uma parceira transformadora nas relações bilaterais com o Brasil —aspecto que ganha envergadura após os resultados das eleições presidenciais nos EUA. Aqui apresento três áreas críticas nas quais a China pode desempenhar papel mais ativo.

Primeiro, tanto o Brasil quanto a China já expressaram o compromisso com a “eliminação da extração ilegal de madeira e do desmatamento” em suas declarações oficiais conjuntas sobre o clima, mas discussões concretas ainda não foram realizadas no subcomitê de Meio Ambiente e Clima do Cosban (Comitê de Coordenação e Cooperação de Alto Nível China-Brasil). Discutir o desmatamento neste subcomitê é uma necessidade urgente, dado o papel fundamental que o desmatamento desempenha no perfil de emissões do Brasil.

Em segundo lugar, algumas empresas chinesas já começaram a demonstrar interesse em adquirir produtos livres de desmatamento, uma tendência que, se apoiada por políticas mais amplas do governo chinês, poderia gerar uma mudança significativa em todo o setor. Esse compromisso poderia ser ainda mais fortalecido por políticas governamentais chinesas que incentivem as empresas a priorizar práticas de fornecimento sustentável. Com o imenso poder de compra da China, uma mudança setorial em direção a produtos livres de desmatamento teria efeitos significativos nas cadeias de suprimentos do Brasil, potencialmente acelerando a transição para práticas mais sustentáveis no agronegócio.

Terceiro, transparência e rastreabilidade são essenciais para garantir que produtos agrícolas que entram na China provenientes do Brasil não estejam vinculados à destruição ambiental ou a danos sociais. Os dois países devem trabalhar juntos para estabelecer sistemas robustos de rastreabilidade, aproveitando as iniciativas nacionais já existentes no Brasil. Brasil e China podem garantir que o comércio de produtos agrícolas esteja alinhado com o compromisso comum de sustentabilidade forte.

O Brasil tem de abraçar estratégias de adaptação climática e de transformação de seu agronegócio. Com o apoio da China, esse objetivo pode se tornar realidade, beneficiando ambas as nações e o mundo. Juntos, Brasil e China podem mostrar ao mundo que o desenvolvimento sustentável não é apenas possível, mas também alcançável por meio de alianças estratégicas e compromissos compartilhados com a saúde do nosso planeta.

Carlos R. S. Milani, Folhapress

Lula diz que espera civilidade de Trump e relação não ideológica

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que espera uma relação civilizada e baseada no vínculo entre dois chefes de Estado com Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos.

A declaração foi dada entrevista ao Fantástico durante os preparativos para reunião da cúpula de líderes do G20, no Rio de Janeiro, e destoa de algumas das falas recentes de Lula com relação à política americana ao acenar para diálogo com o republicano.

“Eu mantenho uma relação civilizada com qualquer governo. Eu não olho ideologicamente quem é o presidente. Eu olho ideologicamente quem é o presidente que vai ser chefe de Estado”, disse Lula.

“A minha relação com o Trump vai ser uma relação oficial, como eu tive como o [George W.] Bush, como eu tive com o Obama e como eu tive com o Biden. Eu tenho uma relação do Estado brasileiro com o Estado americano, e todo mundo sabe: eu gosto de respeitar e gosto de ser respeitado”, afirmou o presidente brasileiro.

“O Brasil tem seus interesses, os EUA têm seus interesses, e nós precisamos construir o interesse de construir uma civilidade civilizada. É esse o comportamento que eu espero do Trump, e é esse comportamento que eu vou dedicar aos EUA”, disse, ainda, o presidente.

No início de novembro, em entrevista à TV francesa TF1, o presidente brasileiro disse que torcia pela vitória da vice-presidente americana e então candidata à Casa Branca, Kamala Harris. Ele também criticou Trump, e falou em “fascismo e nazismo” voltando com “outra cara”.

Lula afirmou na ocasião que a vitória de Kamala era “mais segura” para a democracia e citou os ataques ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando Trump incitou seus apoiadores a invadir o Congresso no dia que a Casa certificava a vitória de Joe Biden.

Uma semana depois, o brasileiro disse que Trump precisava pensar “como um habitante do planeta Terra” ao se referir a declarações do americano a respeito da crise climática.

“Acredito que o presidente Trump tem de pensar como um habitante da planeta Terra. E se ele pensa como o governante do país mais importante, mais rico do mundo, que tem mais tecnologia e que é melhor preparado do ponto de vista bélico, ele tem de ter a noção de que os Estados Unidos estão no mesmo planeta que eu estou”, disse.

Guilherme Botacini/Folhapress

Brasil lança oficialmente Aliança Global contra Fome no G20 com adesão de 81 países e sem Argentina

O Brasil lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza nesta segunda-feira (18), no evento de abertura da cúpula de chefes de Estado do G20, no Rio de Janeiro.

A iniciativa conta com 147 membros fundadores, sendo 81 países, a União Africana, a União Europeia, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais.

A Argentina, que vem travando uma ofensiva contra as agendas da presidência brasileira no G20, não está na lista. O país presidido pelo ultraliberal Javier Milei é o único do bloco das maiores economias que não aderiu ao projeto contra a fome.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem como meta que o plano articule programas sociais com potencial de alcançar 500 milhões de pessoas em países de baixa e média baixa renda até 2030. Internamente, a iniciativa é considerada o principal legado do mandato brasileiro ao fórum.

O processo de adesão dos países foi aberto em julho, quando a iniciativa foi apresentada pelo governo Lula na força-tarefa dedicada ao tema. Brasil e Bangladesh puxaram a fila de adesões, seguidos por diversas outras nações. Até a véspera da cúpula, a Aliança contava com a aderência pública de 41 países, entre eles Canadá, Estados Unidos, Egito, Chile, Somália e Zâmbia.

Além de governos, também integram a lista de participantes organizações internacionais, bancos multilaterais e outras entidades. Também está aberta a possibilidade de um país endossar a iniciativa, sem necessariamente aderir a ela.

O objetivo do projeto idealizado pela presidência brasileira no G20 é dar uma dimensão internacional ao combate às desigualdades sociais –uma das três principais agendas de Lula no fórum que reúne as principais economias do mundo.

Um dos pilares da proposta se apoia em uma espécie de repositório de políticas de assistência social consideradas exitosas, ao qual países interessados poderão recorrer para desenvolver medidas semelhantes em seus territórios.

O país se coloca em uma posição de liderança nesse processo, aproveitando a imagem internacional do presidente Lula como líder comprometido com a redução das desigualdades e o histórico de políticas sociais em larga escala no país. O Bolsa Família, marca das administrações petistas, serve de vitrine para ações globais.

Além de ações de transferência de renda, a Aliança inclui planos como expansão de merendas escolares em países com fome e pobreza infantil endêmica, iniciativas em saúde materna e de primeira infância e programas de inclusão socioeconômica, com foco em mulheres.

Só no Brasil, 8,4 milhões de pessoas passaram fome entre 2021 e 2023, segundo estudo da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e de outras agências da ONU.

A Aliança Global Contra a Fome e Pobreza terá uma governança própria, vinculada ao G20. Durante as negociações, o governo Lula se comprometeu a repassar R$ 50 milhões para o secretariado da iniciativa. O Brasil contará com contribuições adicionais de países como Noruega, Portugal e Espanha.

Além disso, a Aliança realizará cúpulas regulares contra a fome e a pobreza e estabelecerá um conselho de campeões de alto nível para supervisionar seu trabalho. De acordo com a presidência brasileira do G20, a estrutura completa de governança deverá estar em operação até meados de 2025.

LISTA DE PAÍSES FUNDADORES DA ALIANÇA CONTRA FOME
Alemanha
Angola
Antígua e Barbuda
África do Sul
Arábia Saudita
Armênia
Austrália
Bangladesh
Benin
Bolívia
Brasil
Burkina Fasso
Burundi
Camboja
Chade
Canadá
Chile
China
Chipre
Colômbia
Dinamarca
Egito
Emirados Árabes Unidos
Eslováquia
Estados Unidos
Espanha
Etiópia
Filipinas
Finlândia
França
Guatemala
Guiné
Guiné-Bissau
Guiné Equatorial
Haiti
Honduras
Índia
Indonésia
Irlanda
Itália
Japão
Jordânia
Líbano
Libéria
Malta
Malásia
Mauritânia
México
Moçambique
Mianmar
Nigéria
Noruega
Países Baixos
Palestina
Paraguai
Peru
Polônia
Portugal
Quênia
Reino Unido
República da Coreia
República Dominicana
Ruanda
Rússia
São Tomé e Príncipe
São Vicente e Granadinas
Serra Leoa
Singapura
Somália
Sudão
Suíça
Tadjiquistão
Tanzânia
Timor-Leste
Togo
Tunísia
Turquia
Ucrânia
Uruguai
Vietnã
Zâmbia
União Africana
União Europeia

Nathalia Garcia e Renato Machado/Folhapress

Morre o apóstolo Rina, fundador da igreja Bola de Neve

A Igreja Bola de Neve informou que detalhes sobre o velório e o sepultamento serão divulgados em breve.

Neste domingo (17), faleceu Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, conhecido como Apóstolo Rina, fundador e líder da Igreja Bola de Neve. A informação foi confirmada por meio de uma nota oficial publicada pela instituição religiosa, que lamentou profundamente a perda de seu fundador.

O líder religioso sofreu um acidente de moto enquanto retornava para São Paulo pela Rodovia dos Bandeirantes. As circunstâncias do acidente ainda não foram detalhadas, mas o impacto foi fatal..

Rina foi uma figura de destaque no cenário evangélico brasileiro. Fundou a Igreja Bola de Neve em 1999, trazendo uma abordagem inovadora e cativante para o público jovem. Com cultos realizados em um ambiente descontraído, incluindo o uso de pranchas de surfe como púlpito, a igreja rapidamente ganhou adeptos e se expandiu para diversas cidades do Brasil e do mundo.

Na nota divulgada pela Bola de Neve, a instituição expressou seu pesar: “Com profunda dor, informamos o falecimento do Apóstolo Rinaldo Luiz de Seixas Pereira […] Neste momento de grande tristeza, nos colocamos em oração por sua família, amigos e toda a igreja que foi tão abençoada por seu ministério, deixando um legado que jamais será esquecido.”

O legado de Rina vai muito além das paredes de sua igreja. Ele foi responsável por transformar a forma como o evangelho era apresentado, impactando milhares de pessoas com sua mensagem de fé e estilo de vida único. Sua partida deixa uma lacuna profunda não apenas para os membros da Bola de Neve, mas para o movimento evangélico como um todo.

 A Igreja Bola de Neve informou que detalhes sobre o velório e o sepultamento serão divulgados em breve. A família, os amigos e os seguidores de Rina permanecem em oração e luto por esta perda inesperada e dolorosa

Insulto de Janja contra Musk vira munição para bolsonarismo e dor de cabeça para diplomatas no G20

O xingamento da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, para o empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), virou munição para o bolsonarismo nas redes sociais.

Jair Bolsonaro (PL), que já chegou a falar em “pólvora” para criticar o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante o seu governo, disse após o episódio: “Já temos mais um problema diplomático”.

Aliados do ex-presidente ecoaram o discurso, e a primeira-dama chegou aos trending topics no X com menções depreciativas e machistas.

A declaração de Janja, antecipada pela Folha, foi dada durante painel do G20 Social, organizado pelo governo para fazer uma ponte entre temas tratados pelo grupo e a sociedade civil.

A primeira-dama discursava sobre a regulamentação das plataformas quando houve uma interferência em sua fala.

Em tom de brincadeira, ela disse: “Acho que é o Elon Musk”. Em seguida, emendou: “Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”.

Horas depois, Lula disse, sem menção direta ao episódio, que “não temos que xingar ninguém”.

“Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, não temos que xingar ninguém. Nós precisamos apenas indignar a sociedade”, disse o petista no festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.

Em agosto passado, no auge da crise entre Musk e o STF (Supremo Tribunal Federal), em que o bilionário se recusava a respeitar ordens judiciais–, Lula havia dito que o empresário estava sujeito às leis do país, e completou: “Ele [Musk] não pode ficar ofendendo. (…) Ele pensa que é o quê? Ele tem que respeitar a decisão da Suprema Corte brasileira.”

No governo, a declaração da primeira-dama gerou desconforto e dor de cabeça para diplomatas, muitos deles reunidos no G20, encontro das maiores potências mundiais, sediado nesta edição no Rio de Janeiro.

Reservadamente, eles e integrantes da Esplanada disseram que o xingamento pode atrapalhar as tentativas do governo de estabelecer uma relação pragmática com Donald Trump.

O presidente eleito dos Estados Unidos já indicou Musk para integrar sua gestão, no cargo de chefe do novo Departamento de Eficiência Governamental.

Desde a eleição do republicano, no início do mês, Lula tem sido cuidadoso em suas declarações a respeito. Ele sempre buscou dizer que era uma prerrogativa do povo americano eleger quem achasse melhor e que ele se relacionaria, enquanto chefe de Estado, com quem ganhasse o pleito no país.

O tom pragmático vem depois de uma declaração na reta final da campanha em que o petista citou risco de “nazismo com outra cara” para defender a vitória da democrata Kamala Harris e relembrar o 6 de janeiro dos Estados Unidos —data de ataque ao Capitólio por apoiadores de Trump.

Em outra frente, diplomatas avaliaram que a declaração de Janja também atrapalha a tentativa do governo brasileiro de chegar a consenso no G20 e reduzir atritos com a Argentina, cujo presidente, Javier Milei, também é próximo de Musk.

O país vizinho se opôs, nas negociações da cúpula, a trechos na declaração final sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres —o que também foi criticado por Janja em um discurso no Rio.

Além disso, agora os argentinos abriram uma ofensiva contra a taxação dos super-ricos, bandeira do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e tema caro para o governo brasileiro.

Integrantes da gestão Lula concordam, reservadamente, com avaliação crítica da primeira-dama que, em seu discurso, defendia a regulamentação das plataformas e o combate à desinformação.

Há quem minimize e diga que não há motivo para tanto alarme, afinal, a relação com Musk já era turbulenta e ele já não fazia gestos de apaziguamento.

O empresário, próximo ao bolsonarismo, já se recusou a cumprir ordem judicial e teve o X suspenso, além de ter xingado o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Houve ainda quem, como o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), defendesse a primeira-dama.

“A verdade é que a Janja falou o que estava preso nas nossas gargantas. Esse é o sentimento sobre Elon Musk e sua interferência negativa na política internacional”, disse no X.

A avaliação geral, contudo, é que o insulto foi desnecessário ao dar munição ao bolsonarismo.

O ex-presidente, além de falar em crise, publicou um vídeo dele com Musk, de quando o empresário veio ao país em 2022, e escreveu, em inglês: “Respeito, tecnologia e desenvolvimento. Internet para toda a Amazônia”, em referência à entrada da Starlink no país.

Bolsonaro foi criticado durante sua gestão por adotar política externa de confronto, guiada pela ideologia, sobretudo quando Ernesto Araújo esteve à frente do Itamaraty. Ele próprio também colecionou crítica a chefes de estado, como Biden, e ao então presidente argentino, Alberto Fernández.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por sua vez, disse: “Saudades quando a ‘crise diplomática’ do Bolsonaro era chamar a mulher do Macron de feia”. Ele fez menção a um episódio de quando o ex-presidente fez um comentário ofensivo à aparência da primeira-dama da França, Brigitte Macron. À época, ele se recusou a pedir desculpas também.

Já o secretário-geral do PL e senador Rogério Marinho (PL-RN) foi mais sucinto sobre o comentário de Janja e ironizou: “Que elegância”.

Marianna Holanda e Patrícia Campos Mello/Folhapress
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Explosão causa incêndio no polo de Camaçari

Uma explosão ocorreu na madrugada desta segunda-feira (18) no Polo Industrial de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Segundo informações da Polícia Militar, o incêndio já está controlado e, até o momento, não há registro de feridos. A informação é do G1.

O incidente aconteceu por volta das 3h, na unidade da empresa Braskem, especializada na produção de resinas termoplásticas. Conforme a PM, as brigadas do Polo Industrial foram mobilizadas para auxiliar os bombeiros no combate às chamas. Além disso, a área foi completamente isolada para garantir a segurança.

Atentado contamina 2026 com passos calculados de Lula, Bolsonaro e governadores cotados

O atentado em frente à sede do STF (Supremo Tribunal Federal) intensificou entre atores envolvidos na eleição para a Presidência da República em 2026 as discussões em torno de temas como anistia para condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, pacificação nacional e polarização ideológica.

Depois que Francisco Wanderley Luiz, 59, explodiu-se na praça dos Três Poderes, na última quarta-feira (13), nomes que miram, pela direita, a cadeira ocupada por Lula (PT) se manifestaram contra a politização do caso, seguindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no discurso de que se tratou de um “lobo solitário”. Já a base do petista resgatou a bandeira “sem anistia” e cobrou punição para inibir novos atos extremistas.

As reações passaram também por governadores que são tratados como pré-candidatos ou se movimentam como apoiadores de um eventual projeto unificado da direita.

Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) usaram o caso para reforçar a retórica antigoverno e acenar ao espólio eleitoral de Bolsonaro. O ex-presidente está inelegível, mas se coloca como postulante, apostando em uma remota virada a seu favor nas cortes superiores e no Congresso.

Por outro lado, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Jr. (PSD-PR) ficaram em silêncio, numa mostra de como o episódio demanda passos calculados nas esferas institucional e eleitoral.

Lula manteve a agenda oficial e, com as condições de segurança garantidas após o ataque, buscou preservar um ritmo de normalidade no governo, também sem comentar o caso.

No entanto, ministros e aliados de diferentes partidos da base demonstraram alinhamento com a leitura do STF, associando o ataque ao discurso radical do bolsonarismo nos últimos anos, que incluiu a contestação ao resultado eleitoral de 2022 sob alegações infundadas de fraude.

Os auxiliares de Lula trataram as explosões como desdobramento do 8 de janeiro, reiterando que só a punição aos responsáveis vai impedir novas ocorrências. O tom se aproxima do usado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, que refutou a teoria de fato isolado, fez uma vinculação do caso ao “gabinete do ódio” do governo Bolsonaro e falou que “não existe possibilidade de pacificação com anistia a criminosos”.

O principal impacto do atentado para Bolsonaro foi o imediato revés na pauta de anistia para os condenados do 8 de janeiro. O pleito é encampado por seu grupo, com a expectativa de pavimentar um ambiente favorável para a recuperação dos direitos políticos do ex-presidente.

Ao se manifestar, Bolsonaro procurou se distanciar do caso, recorrendo à narrativa de fato isolado cometido por pessoa com “perturbações na saúde mental”, e pediu “pacificação nacional”, num momento em que sua estratégia de defesa passa por moderar o tom e evitar confrontações com o Judiciário.

Apesar de estar inelegível até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, ele se diz o único no campo da direita com chance de vitória em 2026, por ter o que descreve como “nome nacional”. Sem uma reversão judicial, ao ex-mandatário restará um papel coadjuvante.

O atentado também jogou água fria na euforia com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o que é visto como um novo elemento de pressão em favor do ex-presidente no Brasil.

No caso de Lula, a mobilização do entorno em defesa de punição exemplar para crimes contra o Estado democrático de Direito e contra as articulações de anistia se choca com as preocupações eleitorais, depois que o pleito municipal mostrou a esquerda em dificuldade e a direita em evolução.

O presidente participa de conversas em que é aconselhado a deixar para trás o estímulo à polarização e reorganizar os ministérios e a comunicação para a segunda metade do governo. Há uma avaliação de que o tom duro contra o golpismo reforça a imagem de revanchismo e perseguição à direita.

Vocalizados por apoiadores desde a posse de Lula, os gritos de “sem anistia”, ainda assim, ganharam novo fôlego após o episódio da semana passada. Pesquisa do Datafolha de março deste ano mostrou que 63% dos brasileiros são contra anistia para os envolvidos nas depredações do 8 de janeiro.

Comentando o atentado, o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), do PT, responsabilizou “líderes da extrema direita” por “essa cultura do ódio, da intolerância, do estímulo à violência [que] faz com que as pessoas cometam crimes” contra instituições da democracia, como o Supremo.

A ministra Simone Tebet (Planejamento), do MDB, declarou que é preciso manter vigilância enquanto permanecerem “apitos” que encorajam ataques. “No ataque à democracia, os ‘lobos’ nunca são solitários”, afirmou. Anielle Franco (Igualdade Racial), do PT, disse que “nunca foi nem será um ato isolado”.

No lado oposto, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Bolsonaro, repudiou a iniciativa de “extrapolar uma atitude mentecapta de um indivíduo para dar contornos institucionais” ao caso.

“Ao invés de atribuir culpa de parte a parte, faríamos bem em reduzir a temperatura do debate político, trazendo de volta o diálogo como regra básica”, afirmou.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, apontou “distorção inaceitável dos fatos”, com o “propósito malicioso de atrapalhar o andamento do projeto de lei da anistia”. Um dos argumentos dos conservadores é que só o perdão trará uma reconciliação nacional.

Os governadores de oposição que comentaram o atentado aproveitaram as falas para mandar recados.

Caiado culpou Lula, embicando o debate para o viés da segurança pública. Ele, que se declara presidenciável para 2026, afirmou que o país tem “falta de comando” e “ausência de um líder forte” e que “um governo federal fraco e apático […] se ajoelha diante do avanço do crime organizado e do extremismo”.

Zema, que reverbera pautas bolsonaristas, endossou a visão de que o ataque cometido por Francisco foi isolado. O mineiro ainda procurou eximir o PL, sigla pela qual o autor concorreu a vereador em 2020, dizendo que “nenhum partido está isento de ter um louco entre os possíveis candidatos”.

Como nomes envolvidos na corrida ao Planalto se posicionaram sobre o atentado
Lula (PT)
Presidente não se manifestou sobre o caso até este domingo (17) e manteve a agenda. Auxiliares e aliados rebateram tese de autor “lobo solitário” e vincularam episódio a Bolsonaro e à extrema direita, rechaçando possibilidade de anistia para condenados do 8/1

Jair Bolsonaro (PL)
Inelegível, ex-presidente buscou se distanciar do episódio, tratando-o como “fato isolado”, e pediu pacificação. O caso representa um revés para a tentativa de perdoar os presos do 8/1 e pavimentar caminho para uma remota reversão de sua inelegibilidade

Tarcísio de Freitas (Republicanos)
Governador de São Paulo adotou silêncio sobre o atentado. Tido como um dos pré-candidatos do bolsonarismo para a eleição de 2026, ele defendeu no último 7 de Setembro a anistia para os condenados pela invasão às sedes dos Três Poderes, que chamou de “presos políticos”

Ratinho Jr. (PSD-PR)
Governador do Paraná também não se pronunciou. O opositor de Lula, tratado como uma das alternativas da direita para a disputa presidencial, já assumiu interesse em disputar a cadeira e defende que seu partido tenha protagonismo e candidato, descolando-se da gestão petista

Ronaldo Caiado (União Brasil-GO)
Governador de Goiás relacionou o ataque em Brasília à “falta de comando” e “ausência de um líder forte” no país. Declaradamente pré-candidato para 2026, ele usou o caso para apontar ineficiência do governo Lula na segurança, diante do avanço do crime organizado e do extremismo

Romeu Zema (Novo-MG)
Governador de Minas Gerais rechaçou a possibilidade de o ataque ser parte de um movimento maior, ecoando a tese bolsonarista de “ato isolado”, cometido por “alguém em profundo desequilíbrio emocional”. Ele também isentou de responsabilidade o PL, ao qual o autor foi filiado

Joelmir Tavares/Folhapress

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