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Enchentes no RS afetaram até 92% dos empregos em cidades mais destruídas, diz Ipea

As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em abril e maio chegaram a afetar até 92% dos postos de trabalho nos municípios gaúchos mais atingidos, de acordo com estimativa feita por pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada nesta quarta-feira (3).

Por meio de georreferenciamento de endereços, o instituto mapeou os estabelecimentos privados atingidos por inundações de água e lama e por deslizamentos de terra. Os pesquisadores sobrepuseram os pontos que marcam os estabelecimentos afetados à mancha que indica as áreas inundadas.

Nas cidades mais afetadas, como é o caso de Eldorado do Sul, Roca Sales e Muçum, a projeção é de que 74% a 82% dos estabelecimentos tenham sido impactados. Para esses mesmos municípios, entre 84% e 92% dos postos de trabalho foram prejudicados, de acordo com a estimativa do Ipea.

O estudo considera como diretamente afetados os estabelecimentos cujos locais de funcionamento foram alcançados pelas inundações e deslizamentos de terra ou que ficaram ilhados por causa das enchentes.

A mancha de impacto das enchentes chegou a uma área de aproximadamente 16,13 mil quilômetros quadrados, atingindo 484 cidades gaúchas.

Ainda segundo os pesquisadores, ao considerar os 418 municípios em estado de calamidade ou de emergência, 334,6 mil postos de emprego foram diretamente afetados, o que representa quase 14% das vagas registradas nessas cidades.

O Ipea utilizou dados do eSocial fornecidos pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Empregadores utilizam o sistema para registrar contratações, demissões, férias, entre outros eventos.

“Os dados do eSocial são organizados no nível do estabelecimento. Conceitualmente, considera-se como estabelecimentos as unidades de uma mesma empresa (matriz) que estão separadas espacialmente, ou seja, com endereços distintos de operação da empresa. Por meio desses endereços, é possível [encontrar] a geolocalização dos vínculos dos trabalhadores”, afirma o estudo.

O levantamento abrange apenas os postos de emprego com vínculos ativos de trabalho. Foram desconsiderados empregos na administração pública ou em empresas públicas.

De acordo com o levantamento, ao menos 27% dos estabelecimentos e 38% dos postos de trabalho de Porto Alegre foram diretamente atingidos.

O Rio Grande do Sul viu o número de mortos por causa das chuvas chegar a 180 nesta terça-feira (2). Segundo a Defesa Civil estadual, 32 pessoas continuam desaparecidas no estado e há mais de 800 feridos.

Paulo Ricardo Martins/Folhapress

Chuva volta a assustar moradores do Rio Grande do Sul

A Defesa Civil de Guaíba, a 32 km de Porto Alegre, divulgou um alerta na madrugada desta segunda-feira (24) pedindo para que as pessoas que se encontram em áreas de alagamento, próximas às margens do lago Guaíba, procurem locais seguros ou o abrigo localizado no ginásio do Coelhão.

Segundo as informações do órgão, a incidência de vento sul e sudeste, prevista para ocorrer até terça-feira (25), provoca o represamento da água do lago.

Há risco de alagamentos em pontos localizados às margens do Guaíba, além de inundações em córregos e arroios próximos ao lago.

O nível do Guaíba, na medição da régua instalada próxima à Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, chegou a 3,41 metros na madrugada desta segunda. A cota de alerta é de 3,15 metros e a de inundação é 3,60 metros.

A sala de situação da Defesa Civil monitora a situação e divulga atualizações sobre as condições hidrometeorológicas.

Mais de 10 mil imóveis foram atingidos pela inundação ocorrida na cidade no início de maio, durante o fenômeno climático extremo no Rio Grande do Sul.

O município foi inundado pela cheia do lago Guaíba, transbordamento do rio Jacuí e vazamento de água de uma barragem. A prefeitura realiza ações de limpeza para recolher as toneladas de lixo que ficaram nas ruas após os estragos provocados pela enchente.

Em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, um temporal com granizo e vento forte assustou moradores na noite de domingo (23), mas ninguém precisou sair de casa.

No final de semana, a prefeitura informou que as equipes de socorro estão em alerta e pediu para os moradores evitarem deslocamentos para as áreas de encostas ou com declives, consideradas de risco.

Para os moradores dessas regiões, a orientação é ficarem atentos a sinais de deslizamento, como rachaduras nas paredes ou piso, barulho ou pequenas vibrações que venham do telhado, piso e paredes, árvores, postes ou cercas inclinadas.

Em Porto Alegre, o nível do lago Guaíba ultrapassou a cota de alerta na manhã de quinta-feira (20). Alagamentos causaram transtornos especialmente na zona norte da capital. A situação foi agravada por um problema na Ebap (Estação de Bombeamento de Águas Pluviais) 3 São Pedro, no bairro São Geraldo, que teve a operação normalizada em poucas horas.

Folhapress

Microexplosão atinge município gaúcho de São Luiz Gonzaga

O fenômeno que atingiu o município de São Luiz Gonzaga, na região das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul, por volta de 22h30 desse sábado (15), foi classificado pela Sala de Situação da Defesa Civil do estado, que acompanha os efeitos das enchentes, como "microexplosão". O fenômeno é decorrente de intensa instabilidade associada a uma frente fria estacionária, juntamente com o fluxo de umidade do norte do país”.

Segundo a Defesa Civil, uma pessoa ficou ferida. “Foi registrado que uma pessoa se feriu enquanto tentava colocar lonas em sua residência, mas não há maiores informações a respeito da condição atual, no momento”.

No início da madrugada de hoje, uma equipe do órgão foi para lá apoiar a administração da cidade, conhecida como capital estadual da Música Missioneira e capital gaúcha do arroz carreteiro.

“De acordo com levantamento da prefeitura, cerca de 1.200 residências, quatro escolas, dois postos de saúde, o prédio da Secretaria municipal de Saúde, o Museu Arqueológico e diversos estabelecimentos comerciais foram destelhados por ventos fortes e queda de granizo”, informou, em nota, a Defesa Civil.
O ministro extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, disse que conversou com o prefeito de São Luiz Gonzaga, Sidney Brondani, e com a vereadora Ana Barros para informar que acompanha desde cedo o temporal que ocorreu na cidade, onde cerca de 15 mil pessoas foram atingidas

Pimenta acrescentou que a situação merece toda a atenção e acompanhamento neste momento difícil em que vive o estado.

“Já estou com uma cópia do decreto de emergência e fiz contato com a Defesa Civil Nacional. O governo do presidente Lula, como sempre, estará presente, dando apoio a São Luiz Gonzaga. Eu, particularmente, como ministro de Apoio à Reconstrução, estou totalmente à disposição e presente para ajudar em tudo que for necessário a São Luiz Gonzaga neste momento”, disse por meio de áudio.
 
Fenômeno

A Defesa Civil estadual informou que a microexplosão é um fenômeno que pode ocorrer quando existem tempestades intensas com muitas descargas elétricas, granizo e muita água na sua base.

“Quando a nuvem não suporta mais a quantidade de água, ela 'despeja' todo esse volume significativo em direção ao solo, fazendo com que ocorra muita precipitação em pouco tempo, geralmente sendo acompanhada de rajadas de vento que podem chegar a 150 km por hora”

A conclusão sobre o tipo do fenômeno, de acordo com a Defesa Civil estadual, foi baseada nos danos ocorridos em São Luiz Gonzaga e nas imagens captadas do local pela Brigada Militar. “A Sala de Situação do RS concluiu que foi um fenômeno dessa natureza que ocorreu na cidade”, relatou.

As operações no município contam com o trabalho de guarnições da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros Militar, equipes da administração municipal, além das equipes da Defesa Civil estadual e municipal.
 
Previsão

No fim da manhã deste domingo (16), a Defesa Civil do estado publicou em sua página na internet um alerta de chuva intensa com risco de alagamentos, ventos fortes e descargas elétricas, válido até as 19h de hoje. Recomendou que, em caso de emergência, a população ligue para 190/193.

“Caso seja surpreendido pelo tempo severo, busque abrigo e não atravesse alagamentos a pé ou mesmo de carro. Procure informações junto à Defesa Civil da sua cidade, conheça os planos de contingência municipais para saber quais os riscos e como agir em caso de desastre no seu município”, completou.

Edição: Graça Adjuto /Por Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Prefeituras do RS receberão R$ 180 milhões do Judiciário

Foto: Divulgação/Agência Brasil
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, disse nesta sexta-feira (7) que os R$ 180 milhões repassados pelo Judiciário para a Defesa Civil gaúcha serão inteiramente enviados para as prefeituras do estado. 

“Tomamos essa decisão de encaminhar para as prefeituras, que são neste momento quem está na linha de frente para dar respostas a suas comunidades”, disse Leite durante cerimônia no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). “O prefeito que tem esse conhecimento na ponta do que mais é necessário”, completou. 

O governador agradeceu, em nome do povo gaúcho, a iniciativa do Judiciário, que disponibilizou com celeridade os recursos para atender os atingidos pela tragédia climática que castiga o Rio Grande do Sul desde o fim de abril. 

Segundo Leite, esses recursos devem ser todos empregados em ações de resposta ao desastre ambiental, em assistência humanitária e iniciativas imediatas para responder os afetados pelas cheias dos rios gaúchos. “Prédios que foram danificados, estruturas que foram comprometidas, estradas que precisam ser refeitas, limpeza urbana”, exemplificou. 

O repasse emergencial de valores pelo Judiciário tornou-se possível após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ter autorizado a destinação para o Rio Grande do Sul de penas em dinheiro aplicadas e pagas em contas judiciais. 

De acordo com informações do CNJ, foram repassados até o momento R$ 94.440.666,73 pelos tribunais estaduais, enquanto a Justiça Federal encaminhou R$ 45.578.705,13. Comarcas do próprio Rio Grande do Sul arrecadaram R$ 36.109.594,67.

“Espero que essas quantias sejam capazes de ajudar nesse momento difícil”, disse o presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso.

Por Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil - Brasília

Lula reclama de burocracia e pede “resposta imediata” ao RS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz, nesta quinta-feira (6), a sua quarta visita ao Rio Grande do Sul, para acompanhar os trabalhos de recuperação no Vale do Taquari, uma das regiões mais atingidas pelas enchentes do último mês.

Ao conversar com moradores do bairro Passo de Estrela, no município de Cruzeiro do Sul, Lula voltou a se comprometer com a construção de moradias para a população e reclamou da burocracia.

“Eu acho que não tem ninguém no mundo que reclama mais da burocracia do que eu. Eu reclamo em fóruns internacionais, reclamo aqui dentro, porque é tudo muito difícil, muito complicado”, disse, argumentando que o caso do Rio Grande do Sul é excepcional. “Precisamos dar uma resposta imediata a esse povo que precisa. Nós estamos trabalhando muito e temos que vencer a burocracia”, acrescentou.

O Rio Grande do Sul enfrenta o pior desastre climático da sua história e vem trabalhando na recuperação de estruturas após as enchentes que afetaram 476 dos 497 municípios do estado e deixaram 172 mortos. Só no bairro Passo de Estrela, 650 moradias foram destruídas.

Lula lembrou que o planejamento para reconstrução das cidades deve ser feito com responsabilidade e que será necessário procurar lugares mais seguros para instalação da nova infraestrutura.

“A gente não pode reconstruir um pronto-socorro e uma escola em lugar vulnerável à enchente, a gente não pode fazer as casas aqui nesse lugar. Está provado que esse lugar é um lugar reservado para a água. Quando a natureza fez o mundo, esse lugar aqui era reservado para a água. Nós humanos ocupamos isso aqui sem saber muitas coisas e agora a natureza nos alertou”, disse.

O presidente prometeu “ajudar a recuperar a dignidade do povo do Rio Grande do Sul”.

“Isso a gente tem que fazer em todos os lugares que o povo for vítima de desastres climáticos, como o que aconteceu aqui.”

“Temos urgência de fazer, mas para fazer sempre leva um tempo. Pra destruir é rápido, pra reconstruir é difícil. Mas tem que achar o terreno, depois o terreno tem que ser preparado, tem que fazer arruamento […], não dá pra largar vocês em um barraco, tem que fazer a coisa bonitinha. Então não tem como fazer em uma semana. O nosso compromisso é dar de volta a vocês o direito de viver dignamente”, disse aos moradores.

Depois de Cruzeiro do Sul, Lula seguiu para o município de Arroio do Meio, onde anuncia novo apoio financeiro ao estado.

Agência Brasil

Defensoria afirma que famílias no RS não conseguem acessar auxílio de R$ 5.000 brasil

Um relatório elaborado pela DPU (Defensoria Pública da União) aponta que, passado um mês desde o início da tragédia que assola o Rio Grande do Sul, o acesso a benefícios sociais ainda é custoso e, por vezes, impraticável para muitas das vítimas das enchentes.

O órgão ainda relata a situação precária encontrada nos alojamentos e alerta para o risco de sobrecarga e de aumento expressivo da exclusão social caso o governo de Eduardo Leite (PSDB) insista na construção das chamadas “cidades provisórias”.

Segundo a DPU, muitos dos afetados têm dificuldade para acessar o Auxílio Reconstrução, apoio de R$ 5.100 ofertado pelo governo federal, e os programas estaduais Volta por Cima e SOS Rio Grande do Sul. Entraves burocráticos e exigências de cadastros em canais digitais estariam por trás do transtorno.

Dados obtidos pelo órgão junto à Secretaria Nacional de Renda de Cidadania, que está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Social, ainda indicam que apenas 5.268, ou 23%, das 22.616 famílias elegíveis para receber o Bolsa Família ingressaram, de fato, no programa e estão recebendo os recursos.

“Esse contexto [de tragédia] exige um modelo de atuação diferente do habitual, que se adapte à dinâmica do evento e à necessidade de desburocratização para garantir o acesso a direitos”, afirma a DPU.

“No que diz respeito ao Auxílio Reconstrução, a DPU tem observado uma série de equívocos no cadastro das famílias na plataforma gov.br”, acrescenta. “É urgente que sejam disponibilizados novos mecanismos para o acesso”.

Os defensores públicos federais também fazem um alerta para o risco de o estado se tornar palco de um “gigantesco campo de desabrigados” caso não reveja seus planos de acolhimento.

Na semana passada, o governo Eduardo Leite assinou um termo de cooperação para a construção de cinco “cidades provisórias”, como ficou conhecida a proposta, ou Centros Humanitários de Acolhimento. Três das estruturas serão implementadas em Porto Alegre, e outras duas, em Canoas (RS).

A DPU afirma que o superpovoamento sobrecarregará todas as estruturas de atendimento à população na região e fomentará “um conglomerado urbano com altos índices de exclusão social”.

Como alternativa, sugere que o governo aproveite imóveis públicos ociosos para dar abrigo aos desalojados e desabrigados, forneça um aluguel social temporário e financie quartos de albergues e da rede hoteleira, entre outras medidas que poderiam substituir os centros provisórios.

“Não é adequada a formação de um gigantesco campo de desabrigados em plena capital gaúcha quando estudos apontam a existência de imóveis disponíveis para alocação de famílias desabrigadas em espaços menores, próximos dos bairros de origem e com melhor gestão dos serviços”, diz a DPU.

Os defensores destacam que uma atuação célere e eficaz por parte do Governo do RS é necessária num contexto em que milhares de cidadãos ainda se encontram em espaços provisórios precários ou inadequados. Em Porto Alegre, por exemplo, apenas um dos alojamentos visitados por eles tem camas.

“São ginásios ou escolas em que as famílias ficam distribuídas sobre colchões, com pouco acesso à luz solar e sem qualquer privacidade; os banheiros ficam em condições de higiene precárias em razão do pequeno número em comparação com a quantidade de pessoas acolhidas”, diz o relatório.

“Essas constatações não desnaturam a histórica mobilização da sociedade gaúcha e nacional para o socorro às vítimas das enchentes. Evidenciam, porém, que os alojamentos são estruturas provisórias e que é atribuição do poder público assumir a gestão dos espaços”, completa.

O documento é assinado pelo Grupo Extraordinário de Monitoramento e Ação em Defesa das Vítimas das Enchentes, criado pela DPU na capital gaúcha e coordenado pelo defensor público federal Gabriel Travassos. A atuação envolve 48 defensores e servidores públicos e foi iniciada em 5 de maio.

Desde o início da crise, os defensores públicos federais já visitaram mais de 30 abrigos em Porto Alegre e fizeram mais de 1.800 atendimentos, que resultaram em mais de 2.000 processos de assistência jurídica.

A própria DPU teve sua sede na cidade alagada pelas águas do rio Guaíba, no início do mês passado. A princípio, os quadros do órgão se instalaram no Teatro Renascença, no bairro Menino Deus, mas tiveram que evacuar o local por causa de uma nova inundação.

Nos abrigos, os defensores públicos federais fazem desde atendimentos diretos a monitoramento das condições oferecidas, além de checar se grupos com necessidades específicas estão sendo atendidos, como mulheres vítimas de violência doméstica, pessoas trans e a população que vive em situação de rua.

Uma equipe também foi destacada para comparecer a agências da Caixa Econômica Federal e fiscalizar o saque de benefícios como o Bolsa Família e o FGTS, liberados em condições especiais para as vítimas.

No relatório, a DPU diz ter instaurado 30 processos coletivos de assistência jurídica. Trabalhadores que denunciaram situações de assédio laboral, com empregadores exigindo presença mesmo com a pessoa estando desabrigada e sem condições de deslocamento, estão entre os casos ajuizados.

“Ninguém pode ser deixado para trás. A reconstrução [do estado] deve observar a dimensão socioambiental dos danos para adotar medidas que a curto, médio e longo prazo previnam novos desastres e reestruturem a sociedade gaúcha por meio de ações e projetos de redução da desigualdade e reparação dos danos sofridos”, defende a DPU.

O documento elaborado pelo órgão, que em Porto Alegre é chefiado por Regina Taube, afirma que muitas das ações realizadas até aqui só foram possíveis graças ao poder da Defensoria Pública de requisitar documentos a autoridades e à administração pública.

Sob a gestão de Augusto Aras, a PGR (Procuradoria-Geral da República) ingressou com 22 processos no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo o fim do mecanismo. A demanda foi negada pela corte.

“Graças a essa prerrogativa, os membros da DPU podem requisitar exames, certidões, informações, documentos e diligências imprescindíveis de órgãos públicos e privados para a adequada assistência jurídica à população”, afirma o órgão.

Mônica Bergamo/Folhapress

Auxílio Reconstrução começa a ser pago hoje a famílias afetadas no RS

Foto: Diego Vieira / Reuters
O governo federal começa a pagar nesta quinta-feira (30) o Auxílio Reconstrução às pessoas afetadas pela tragédia climática que atinge o Rio Grande do Sul desde o fim de abril, com fortes chuvas e enchentes que desalojaram mais de 580 mil pessoas.

O benefício é pago em parcela única, no valor de R$ 5,1 mil. O primeiro lote, no valor total de R$ 174 milhões, é destinado às 34.196 famílias que primeiro se cadastraram junto às prefeituras gaúchas e tiveram as informações validadas.

Assim como em auxílios emergenciais anteriores, a responsável por processar os pagamentos é a Caixa Econômica Federal, que disponibiliza o dinheiro por meio de uma conta poupança social aberta automaticamente em nome do beneficiário.

De acordo com o ministro extraordinário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, o governo trabalha com a expectativa de contemplar duas listas semanais de famílias afetadas, à medida que as informações vão sendo validadas pelos órgãos responsáveis. O município que mais cadastrou famílias até o momento é Canoas.

Para a liberação do benefício, é necessário cumprir três fases:

1) Prefeituras: as prefeituras dos municípios afetados devem enviar ao governo federal dados sobre as localidades atingidas e as famílias desalojadas ou desabrigadas no site do Auxílio Reconstrução.

2) Famílias: a pessoa identificada como responsável pela família beneficiada precisa confirmar, desde o dia 27 de maio, o cadastro no site. É preciso acessar o botão Sou Cidadão pela conta registrada no site Gov.br, com o login e senha cadastrados. Caso haja erro de cadastro, as prefeituras deverão receber os cidadãos para corrigir dados, como CPF, endereço ou nome.

3) Pagamento: a Caixa Econômica Federal receberá a lista dos nomes aptos e fará o depósito na conta.

Balanço
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul divulgou na manhã desta quinta-feira (30) o balanço mais recente sobre o impacto da tragédia climática no estado. O órgão manteve o número de mortos em 169, enquanto 44 pessoas seguem desaparecidas. Confira os dados abaixo:

Municípios afetados: 473

Pessoas em abrigos: 45.126

Desalojados: 581.638

Afetados: 2.347.664

Feridos: 806

Desaparecidos: 44

Óbitos confirmados: 169

Pessoas resgatadas: 77.729

Animais resgatados: 12.527

Efetivo: 28.153

Viaturas: 4.046

Aeronaves: 12

Embarcações: 143

Agência Brasil

Com fim de semana de trégua, chuva deve voltar ao RS nesta segunda brasil


Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
A Defesa Civil Municipal de Porto Alegre emitiu um alerta preventivo diante da possibilidade de chuvas intensas que podem prolongar os alagamentos já existentes na capital gaúcha. A previsão é que a chuva e os ventos atinjam a região a partir da madrugada de segunda-feira (27) e se estendam até a noite.

De acordo com o órgão, a previsão é a que a precipitação fique entre 50 e 100 milímetros por dia e os ventos entre 60 e 100 quilômetros por hora (km/h), o que poderá causar transbordamentos de arroios e deslizamentos de encostas, além do risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores e de descargas elétricas.

A Defesa Civil Municipal alertou ainda sobre o alto risco de deslizamentos, processos erosivos e rolamento de blocos em áreas suscetíveis amanhã (27). Segundo o órgão municipal, podem ocorrer escorregamentos, rupturas de taludes e quedas de barreiras. “A população que reside em áreas de risco deve observar quaisquer alterações nas encostas. Em caso de sinais de instabilidade, os moradores devem procurar abrigo temporário junto a parentes ou amigos, ou utilizar as estruturas de acolhimento disponibilizadas pela prefeitura via 156”, orientou em nota.

Alerta para o estado
O estado teve um final de semana de trégua nas chuvas fortes. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o estado permaneceu neste domingo na zona amarela, de risco potencial. Nesta segunda, no entanto, a previsão é de chuva desde de manhã. A temperatura deve ficar entre 9 e 16 graus Celsius (ºC).

A região costeira e os municípios do sul do estado entram em situação de perigo. Na região sul, a previsão é de chuvas intensas, com risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e de descargas elétricas. Nas regiões litorâneas, o aviso é de intensificação dos ventos, que poderão movimentar dunas de areia sobre construções na orla. As condições devem perpetuar até o início de terça-feira (28).

Em função da previsão que indica chuvas entre os dias 27 e 28 de maio, a Defesa Civil do estado do Rio Grande do Sul alertou, desde a última sexta-feira (24), para possíveis extravasamentos da calha e respostas rápidas de rios menores, arroios e córregos onde a chuva apresenta elevada intensidade.

A orientação é para quem mora em áreas ribeirinhas ou próximo de locais com histórico de alagamento, procurar um local seguro para permanecer. Informações específicas devem ser consultadas à Defesa Civil de cada município. Em caso de emergência, ligar 190 (Brigada Militar) e 193 (Corpo de Bombeiros).

As aulas da rede pública, tanto nas escolas estaduais quanto nas redes municipais, foram suspensas nos municípios de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande na segunda e terça-feira. Na capital, também, de acordo com o governo do estado, foi determinada a suspensão de aulas na rede privada.

Situação no estado
Segundo balanço divulgado neste domingo (26) pelo órgão, o Rio Grande do Sul contabiliza 169 mortes provocadas pelas fortes chuvas e as enchentes desde o fim de abril. O estado registra ainda 56 desaparecidos e mais 806 pessoas feridas. [LINK: ]

Após vários dias sem chuva, a capital gaúcha registrou, ao longo de toda a última quinta-feira (23), precipitação prolongada e intensa. Com isso, ruas e avenidas ficaram alagadas e alguns bairros, sobretudo no centro-sul e sul da cidade, que haviam secado após as enchentes do início do mês, voltaram a ficar inundados. Os moradores tiveram de ser retirados de suas casas.

Neste final de semana, o governo do estado divulgou que o nível do Guaíba, em Porto Alegre, baixou 16 centímetros no período das 19h de sexta-feira (24) até as 6h de sábado (25). Até as 8h de sábado, a medição de 4,16 metros (m) se mantinha. A cota de inundação no local é de 3m.

 Agência Brasil

Vale do Taquari: Exército vai refazer travessias levadas pelas cheias

Foto: Divulgação/Agência Brasil
O Exército vai refazer as passarelas flutuantes para pedestres que foram instaladas em rios do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul. O estado enfrenta a maior tragédia climática de sua história, atingido por chuvas e enchentes desde o fim do mês de abril.

As pontes originais foram destruídas com as correntezas provocadas pelas primeiras chuvas e o Exército improvisou as passadeiras – como são chamadas as travessias improvisadas com passarela de madeira sobre botes. Essas passadeiras, por sua vez, cederam com as fortes chuvas da última quinta-feira (23).

“Menos de 24 horas depois do rompimento de três passarelas flutuantes, unidades de Engenharia do Exército mobilizaram-se rapidamente e já enviaram novas estruturas para a substituição e garantia do bem-estar da comunidade”, informou o órgão.

As novas travessias vêm de unidades militares de São Borja (RS), Tubarão (SC) e Palmas (PR) e serão instaladas assim que as condições de segurança dos rios e climáticas permitirem. O rompimento ocorreu nas passadeiras entre Lajeado e Arroio do Meio, localizadas no Rio Forqueta; e em Candelária, no Rio Pardo.

Durante a manhã deste sábado (25), o Exército realizou a preparação da margem do Rio Forqueta para o acesso de pedestres e embarcações. Ao meio-dia, os militares iniciaram a travessia dos moradores em botes, restabelecendo o fluxo no local. “A colocação das novas passadeiras ainda depende de melhorar as condições da correnteza do rio”, informou.

Fluxo intenso

No último domingo (19), a reportagem da Agência Brasil percorreu parte do Vale do Taquari e registrou a movimentação de pessoas na passarela montada próxima ao local onde ficava a ponte da rodovia estadual RS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio.

O fluxo de pessoas que atravessava de um lado para outro era intenso, em procedimento organizado por militares do Exército. É obrigatório atravessar com coletes salva-vidas.

Como a passarela é estreita, de "mão única", os grupos de cada margem são liberados de forma alternada. Pessoas idosas, com mobilidade reduzida e crianças têm ainda mais dificuldade, já que a travessia exige que se desça pelo barranco íngreme escorregadio, encharcado pela chuva.

No último sábado (18), o governador Eduardo Leite anunciou a construção de uma nova ponte no local, que deve custar cerca de R$ 14 milhões e levar mais de 180 dias para ser erguida.

De acordo com o último balanço da Defesa Civil do estado, divulgado na manhã de hoje, 165 mortes foram confirmadas até o momento. Há 64 pessoas desaparecidas e 581.638 ficaram desalojadas. Ao todo, 55.791 pessoas encontram-se em abrigos temporários espalhados pelo estado.

*Colaborou Pedro Rafael Vilela

Edição: Juliana Andrade/

Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil* - Brasília

Pedido de impeachment contra prefeito de Porto Alegre é protocolado na Câmara municipal

Um pedido de impeachment do prefeito Sebastião Melo (MDB) foi protocolado na última quinta (23) na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre por Brunno Mattos da Silva, secretário-geral da Uampa (União das Associações de Moradores de Porto Alegre) e integrante da Juventude do PT na capital gaúcha.

No texto endereçado ao presidente da Câmara, Mauro Pinheiro (PP), Mattos diz que o pedido se justifica por “negligência no cuidado das estações de bombeamento e do sistema de drenagem urbana da cidade”.

O requerente anexa ao pedido documentos da denúncia trazida à tona pelo deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) de que o Executivo municipal foi alertado em 2018 sobre os riscos de falhas no sistema contra enchentes da cidade. Na época, o prefeito era Nelson Marchezan Júnior (PSDB), sucedido por Melo em 2021.

Especialistas têm desde o início da tragédia apontado negligência do poder público municipal na falta de manutenção do sistema antienchente de Porto Alegre, composto por 68 km de diques, 14 comportas e 23 estações de drenagem, com bombas para devolver ao lago Guaíba a água que invade a cidade.

Brunno Mattos afirma ainda no pedido de impeachment que “a inércia do prefeito Sebastião Melo e sua administração é uma clara violação do Art. 4º, VIII do Decreto-Lei 201/67, que estabelece como infração político-administrativa a omissão ou negligência na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do município sujeito à administração da prefeitura”.

A Prefeitura de Porto Alegre informou que Melo vai aguardar a deliberação da Câmara. Em entrevista à rádio Guaíba, o prefeito atribuiu o pedido à disputa política municipal.

“Não vou entrar nessa narrativa de eleições. Eu tenho uma boa relação com o ministro Paulo Pimenta, mas o time dele daqui faz o contrário. Eu não vou entrar neste processo. Eu vou informar a sociedade sobre o que está acontecendo. O tempo que tenho na prefeitura é para cuidar da cidade”.

Melo também tem reiteradamente argumentado que não pode ser responsabilizado sozinho pela manutenção de um sistema inaugurado nos anos 1970, ou seja, pelo qual também tiveram ingerência inúmeros prefeitos que o antecederam.

O pedido de impeachment deve ser apreciado na sessão plenária da próxima segunda (27) na Câmara, mas é muito improvável que prospere –são necessários dois terços dos votos, ou 24 dos 36 vereadores. O prefeito tem maioria: 26, contra somente dez da oposição.

“Programaticamente, os vereadores governistas não têm desacordo com o que o Melo operou nos últimos quatro anos. Eles podem ter algum desconforto, algum descontentamento com a forma com que ele está fazendo a gestão neste momento de calamidade. Mas não acho que isso fará eles romperem com o governo, abrirem mão dos seus cargos comissionados nas secretarias e acatar esse pedido”, disse a vereadora Karen Santos (PSOL), a mais votada de Porto Alegre na eleição de 2020.

Para ela, o pedido tem fundamentação técnica, pois traz elementos que comprovam a negligência da prefeitura. “E existe um levante de revolta da população, dos empresários, dos microempreendedores em relação ao impacto que essa negligência teve no nosso município nos últimos dias. Mas, politicamente falando, não sei se há uma mudança de correlação de forças. Pelo contrário, percebo o governo ainda muito bem alicerçado nos partidos que compõem a sua base”.

Um dos revoltados é o advogado Jader Appelt, voluntário que, com seu barco metálico, participou nas últimas semanas de resgates em bairros alagados da zona norte de Porto Alegre e hoje ajuda na limpeza de casas e na distribuição de doações.

“Considero o pedido de impeachment contra o prefeito Melo a materialização do sofrimento e da angústia que o poder público municipal não consegue suprir, devido à falta de comunicação, clareza e suporte com a população de Porto Alegre”, afirma Appelt.

O advogado menciona que nos últimos dias o prefeito orientou a população a colocar entulhos e móveis estragados nas ruas de suas casas. “Mesmo sabendo que teria uma forte chuva na quinta (23) e na sexta (24). Ocorreu que os entulhos entupiram os bueiros, o que agravou mais ainda a inundação na cidade”.

Fabio Victor/Folhapress

Inundação em Porto Alegre foi falta de manutenção, dizem especialistas

<Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil>
O sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre é considerado “robusto, eficiente e fácil de operar e manter”, mas falhou porque não recebeu as manutenções permanentes necessárias por parte da prefeitura, por meio do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE). Essa é a avaliação de um grupo de 42 engenheiros, arquitetos e geólogos, que divulgou um manifesto, na última quinta-feira (23), em que explicam o que ocorreu para a cidade ser tomada pela água do Guaíba, na maior enchente da história da capital gaúcha.

Concebido na década de 1970 por engenheiros da Alemanha, com inspiração em modelos holandeses, o sistema porto-alegrense é composto por cerca de 60 quilômetros (km) de diques e barragens, de norte a sul da capital gaúcha. Avenidas importantes, como Castelo Branco, Beira-Rio e Diário de Notícias, além da rodovia Freeway, são barragens construídas para evitar o extravasamento da água do Guaíba para áreas urbanas.

Há também um muro de proteção, o Muro da Mauá, que funciona como dique para área central da cidade, desde a altura da rodoviária até a usina do Gasômetro. Por toda essa extensão, há 14 comportas, que permitem a entrada e saída da água, e 23 casas de bombas hidráulicas, que também tem as próprias comportas, e funcionam como pontos de drenagem da água, para devolver , em uma eventual inundação, ao lago.

Já os córregos (arroios) que cortam a cidade, como o Arroio Dilúvio, na Avenida Ipiranga, complementam o sistema de diques internos. A cota de inundação do sistema é de 6 metros de cheia, cuja altura na enchente do início do mês não passou de 5,30 metros.

“Os diques e os muros não vazam. Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção. No ano passado, quando o sistema foi acionado, durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também inundaram a região metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias casas de bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta (EBABs) estão inundadas”, diz o manifesto.

“O mais urgente que tinha que ser feito, desenvergar [comportas], trocar as borrachas, não foi feito. Não precisaríamos ter sequer 10% da inundação que nós tivemos”, argumentou o engenheiro Vicente Rauber, ex-diretor do antigo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), que nos anos 1990 já tinha lançado uma publicação sobre como prevenir enchentes na cidade, que havia passado um trágico incidente em 1941.

“Como medidas emergenciais, [o DMAE] deveria ir lá e fechar os furos, os vazamentos [das comportas]. Uma empresa de saneamento trabalha permanentemente com mergulhadores, eles são necessários para fazer qualquer atividade, qualquer conserto embaixo d’água. Conserta os furos e tenta religar as casas de bomba, fazendo ensecadeiras, tirando a água dentro dela. Estamos num círculo vicioso, as casas de bomba não funcionam porque foram inundadas, e a água não sai porque não tem bomba [funcionando]”, acrescentou durante uma entrevista coletiva para lançar a carta.

“Nós temos uma barragem, que impede a água de entrar. O muro e os diques são barragens. E, quando a barragem não impede a água de entrar, tem um sistema que pega e joga água para o outro lado da barragem. Muito simples, tradicional, clássico e eficiente, é fácil de fazer. É só manter as casas de bomba funcionando, que ela vai pegar a água de dentro da cidade e vai jogar fora”, apontou Augusto Damiani, engenheiro civil, ex-diretor-geral do DEP e do DMAE, hidrólogo e mestre em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Procurado, o DMAE informou que, atualmente, 11 das 23 bombas estão em funcionamento. No auge da inundação, 19 pararam por inundação ou por problemas elétricos. Elas estão sendo consertadas, assegurou o órgão.

Enquanto isso, moradores da região central e do norte da cidade, onde estão as bombas sem funcionamento ou com operação parcial, sofrem com o repique das enchentes, que quase colapsaram a cidade há 20 dias.

“Estamos trabalhando para religar as demais casas de bombas. Ontem [23], durante o temporal, nenhuma saiu fora de operação. Estamos trabalhando nas EBAPS [Estações de Bombeamento de Água Pluvial] que faltam. Algumas tiramos os motores para secar, outras ainda não conseguimos entrar em razão da inundação. Nossas equipes estão trabalhando incansavelmente para colocar todo o sistema em operação o mais breve possível”, disse o DMAE.

Em entrevista à Rádio Nacional, última quarta-feira (22), o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, negou falta de manutenção no sistema e atribuiu a falha à concepção do sistema.

“Em 1968, 1969, eu sou o décimo terceiro prefeito dessa leva [da década] de 1970 para cá. Esse sistema foi concebido de um jeito e ele nunca foi modificado. E ele tinha testado algumas vezes em centros menores e tinha respondido bem. Bom, mas ele nunca tinha sido testado com o fenômeno do tamanho que aconteceu”, afirmou.

“Esse fenômeno que aconteceu, o climático, ele poderia ter acontecido em qualquer cidade brasileira e talvez não fosse diferente, porque nós não temos cidades adaptadas para esse novo normal, nenhuma. Nenhuma, especialmente grandes cidades. Então, essa tragédia que aconteceu aqui, ela poderia acontecer em São Paulo, Rio de Janeiro, em qualquer outro lugar. Acho que o Brasil tem que pensar no novo normal”, insistiu Melo.

Agência Brasil

Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS

O governo federal liberou mais R$ 1,8 bilhão para ações de reconstrução no Rio Grande do Sul. A autorização do crédito extraordinário foi feita por meio da edição da Medida Provisória 1.223/2024, publicada na noite desta quinta-feira (23).

A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.

A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.

No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.

>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:

– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)

– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)

– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)

– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)

– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)

– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)

– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)

– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).

De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.

No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.

Agência Brasil

Eduardo Leite anuncia a construção de 538 casas para desabrigados

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) anunciou nesta quinta-feira (23) a construção de 538 habitações definitivas para os desabrigados pelas enchentes que atingem o estado. Do total, 300 casas fazem parte do programa A Casa é Sua – Calamidades, anunciado em março para atender vítimas das cheias de setembro de 2023.

O programa prevê a construção de 2.000 casas, número ainda distante das 300 anunciadas pelo governo estadual. As casas serão construídas pela KMB Construtora e Incorporadora, que venceu a licitação em 30 de abril. Outras 200 casas foram doadas por uma empresa privado e 38 foram viabilizadas por repasses do Ministério Público.

As 300 casas serão construídas nas cidades de Cruzeiro do Sul (40), Encantado (35), Estrela (40), Lajeado (30), Muçum (56), Roca Sales (35), Santa Teresa (24) e Venâncio Aires (40).

Leite afirmou que, para a construção das 300 casas, o governo empenhou R$ 41,8 milhões do Tesouro Estadual por meio do programa A Casa é Sua – Calamidades. As residências terão 44 m² divididos em 2 dormitórios, banheiro e sala e cozinha conjugadas e serão construídas em painéis de concreto pré-fabricado.

De acordo com a Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária (Sehab), cada casa custará R$ 192,2 mil. O prazo para o término das obras é de 120 dias, contados a partir da preparação dos terrenos —o governo não disse quando a construção deverá começar.

Os municípios beneficiados pelo programa têm a contrapartida de, conforme suas possibilidades, fornecer os terrenos —com exceção de Muçum e Venâncio Aires, que receberão terrenos do estado. A seleção das famílias contempladas também ficará a cargo das prefeituras.

Durante o evento, realizado no município de Estrela, no Vale do Taquari, o Ministério Público assinou convênio com o estado para a construção de 38 casas em Arroio do Meio —foram repassados R$ 5 milhões, e todas as casas serão construídas no mesmo modelo, de 44 m² e em painéis de concreto pré-fabricado.

As outras 200 casas serão construídas a partir de doações realizadas pelo Grupo Innova nos municípios de Cruzeiro do Sul (100), Igrejinha (50) e São Sebastião do Caí (50). Neste caso, as residências terão 36 m² e serão construídas em steel frame, sistema que usa perfis de aço para estruturar as edificações.

As casas, que terão 2 quartos, sala e cozinhas conjugadas e banheiro, serão destinadas a famílias selecionadas pelas prefeituras locais. O prazo para a conclusão das construções é também de 120 dias.

Na coletiva, o governador também disse que o Executivo enviará à Assembleia Legislativa do estado um projeto de lei para formalizar a Política Estadual de Habitação de Interesse Social. A ideia é institucionalizar programas como A Casa é Sua, para construção e reforma de casas; Porta de Entrada, que ajuda famílias de classe média a darem entrada em novos imóveis; Residencial 60+RS, voltado a idosos; e Nenhuma Casa sem Banheiro, para a construção de módulos sanitários em regiões carentes de saneamento.

João Pedro Capobianco/Folhapress

Após chuvas, Gramado tem mais de 500 hotéis e restaurantes fechados

Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto/Arquivo
Destino turístico mais importante do Rio Grande do Sul, a cidade de Gramado, na Serra Gaúcha, vive um colapso com os efeitos das chuvas que também causaram diversos danos, especialmente por causa dos deslizamentos de terra.

“O estrago de Gramado foi muito grande. Temos, depois de três dias de sol, o solo ainda se movimenta. Estamos tendo ainda deslizamentos. Temos quase 140 pontos, monitorados diariamente, ou mais de uma vez por dia, porque [o solo] ainda se movimenta”, afirmou o prefeito Nestor Tissot.

Dona da maior infraestrutura hoteleira do estado, Gramado viu sua principal fonte de renda entrar em paralisa. “Estamos com 300 hotéis fechados, 250 restaurantes fechados, a economia toda fechada”, destacou o prefeito.

Famosa por seu clima “europeu”, arquitetura típica alemã e reconhecida nacionalmente pela produção de chocolates, Gramado lida agora com problemas humanitários. De acordo com Nestor Tissot, são mais 1 mil pessoas desabrigadas, sem esperança ou expectativa de retorno rápido para casa.

“A grande maioria não poderá mais voltar, são vários bairros destruídos, ruas destruídas. Muitas casas não poderão mais ser reconstruídas nesses locais. Precisamos de áreas desapropriadas para reconstruir, temos toda a reconstrução”, acrescentou o prefeito.

Apesar disso, serviços de educação e saúde funcionam normalmente na cidade, garantiu Tissot, que integrou o grupo de prefeitos que reuniu-se com o governador Eduardo Leite nesta quarta-feira (22).

Durante a reunião com o governador e demais gestores municipais, o prefeito de Gramado demonstrou preocupação com o prolongado fechamento do Aeroporto Salgado Filho, que segue alagado e não tem prazo para reabrir. Ele pediu esforço para retomar as rotas aéreas em Porto Alegre – via Base Aérea de Canoas – e voos por Caxias do Sul, cidade mais próxima, para garantir a retomada do fluxo de turistas, especialmente no período de inverno, que é alta temporada na região.

Outra preocupação é com a aquisição de materiais de contenção de encostas de morros. O prefeito pediu que o governo do estado ajude com recursos para essas obras.

Agência Brasil

Pimenta expõe divergências com Eduardo Leite e diz que discordâncias sobre RS vão aflorar


O ministro Paulo Pimenta, designado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coordenar as ações do governo federal no Rio Grande do Sul, expôs divergências com o governador do Estado, Eduardo Leite, neste domingo, 19. Também afirmou que mais discordâncias aparecerão ao longo da resposta às enchentes

Lula foi alvo de críticas por escolher Pimenta para o cargo porque o ministro é cotado para ser candidato a governador em 2026 e é de grupo político adversário ao de Eduardo Leite. De acordo com críticos, a situação pode causar uma disputa eleitoral prematura em um momento de desastre.

Neste domingo, Pimenta se colocou contra o projeto do governo estadual de criar cidades temporárias para receber pessoas desabrigadas pelas enchentes.

“Surgiu agora o debate das tais cidades transitórias. A ideia seria quatro grandes cidades transitórias, com possibilidade de cada uma delas ter até 7.500 pessoas, isso é maior do que a grande maioria das grandes cidades do Brasil. Seriam onde a transição ocorreria”, afirmou o ministro. “Temos outra concepção sobre isso, outra ideia sobre isso”, disse Pimenta.

Segundo ele, o desafio será oferecer opções de habitação de maneira ágil para os afetados. “Esse é o grande debate, como o poder público oferece dignidade e condição para que as pessoas façam uma transição adequada até chegar o momento de elas voltarem a ter uma casa. E aí tem visões diferentes, concepções distintas, que vão aflorar de forma muito intensa a partir dos próximos dias”, declarou Pimenta.

“O Leite falou precisamos de um plano Marshall. Eu tenho falado desde o início, chamo de plano RS. Plano de Recuperação Sustentável. Temos que incluir o tema socioambiental na discussão do projeto futuro tanto da recuperação da infraestrutura quanto da atividade econômica do Estado”, disse o ministro.

Pimenta também disse que o governo Lula “não fará o jogo da disputa pequena nesse momento”, e que as conversas com o governo do Rio Grande do Sul e com prefeitos bolsonaristas serão republicanas. “É evidente que na hora em que a gente senta para discutir as estratégias essas divergências aparecem”, ressalvou

O ministro falou em live do Canal do Barão no Youtube, respondendo a perguntas de veículos de comunicação que apoiam o governo Lula.

Caio Spechoto/Estadão Conteúdo

Galão de água chega a R$ 80 no RS e MP investiga denúncias por preços abusivos

O Ministério Público do Rio Grande do Sul recebeu 680 denúncias e 65 estabelecimentos foram autuados em Porto Alegre e região devido aos preços praticados por comerciantes durante este período de calamidade

O Ministério Público do Rio Grande do Sul recebeu um total de 680 denúncias nas últimas duas semanas devido a preços abusivos praticados por comerciantes durante o período de calamidade causado pelas chuvas no Estado. Até o momento, 65 estabelecimentos foram autuados em Porto Alegre e região metropolitana. A maioria das autuações ocorreu em mercados, postos de gasolina, farmácias, empresas de caminhão-pipa, revendas de gás e água. Galões de 20 litros de água foram flagrados sendo vendidos a R$ 80, e dois funcionários de um posto de gasolina foram presos.

 As denúncias de preços abusivos podem ser feitas através do e-mail disponibilizado pelo Ministério Público. Das 680 reclamações recebidas, 315 já foram apuradas. Enquanto isso, os níveis dos rios continuam subindo no Rio Grande do Sul, com nove de dez rios monitorados pela Defesa Civil acima da cota de inundação. As enchentes afetam 461 municípios, com mais de 2,3 milhões de pessoas impactadas diretamente, 77.202 desabrigados e 155 mortes confirmadas.

 O governador do Estado, Eduardo Leite, anunciou novas ações para prestar assistência aos animais resgatados das enchentes. Mais de 12 mil animais abandonados já foram retirados das águas ou de áreas secas. Além disso, o Rio Grande do Sul enfrenta uma onda de frio, o que tem sido mais uma dificuldade para as famílias que estão vivendo em abrigos improvisados. Cerca de 50,2% dos abrigos mapeados ainda necessitam de cobertores, com 621 centros de acolhimento funcionando como refúgio para as pessoas afetadas.

Porto Alegre voltará a ter chuva forte só na quinta-feira (23)


Ainda com grande parte de sua área embaixo d’água, a região metropolitana de Porto Alegre só voltará a enfrentar uma chuva mais forte na próxima quinta-feira (23), quando poderá cair um acumulado de até 73 mm em 24 horas, segundo o site Climatempo.

Em situação normal, esse volume provocaria enxurradas e alguns alagamentos na cidade, o que pode implicar em novo aumento do nível do lago Guaíba, que está em processo de baixa lenta e gradual. Às 22h15 deste sábado (18), o nível estava em 4,53 m no Cais Mauá.

Essa influência ocorre porque, com exceção desta segunda-feira (20), quando não deve chover, nos demais dias deve haver pancadas isoladas na região, mas em menor volume.

Essas precipitações são levadas em conta pelo Instituto de Pesquisa Hidráulicas da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) para prever que o nível do lago Guaíba só deverá voltar a ficar abaixo da cota de inundação, de 3 metros, apenas no fim do mês ou início de junho.

“Os cenários de previsão indicam cheia duradoura, com redução lenta dos níveis. Deve permanecer acima dos 4 m até o início da semana que vem. Redução segue lenta, mantendo-se acima da cota de inundação de 3 m até o final do mês ou mais, dada a possibilidade de novas chuvas”, avalia o instituto.

Como a frente fria vem do Sul, as regiões da divisa com o Uruguai e campanha gaúcha receberão essa chuva mais forte ainda na quarta-feira (22). Quaraí, por exemplo, já terá uma precipitação de 39 mm na terça (21), a partir da tarde, e de 63 mm na quarta, durante todo o dia.

Já Rio Grande, que está em estado de atenção devido à elevação constante do nível das águas da lagoa dos Patos, terá chuva semelhante, com previsão de 26 mm na terça e 66 mm na quarta.

Depois de passar pelo Rio Grande do Sul, a última frente fria ainda está sobre Santa Catarina e Paraná e vai provocar chuva durante todo este domingo (19) nas regiões mais próximas do litoral, numa faixa que abrange vale do Itajaí, serra catarinense, Grande Florianópolis, Blumenau, Joinville até a região metropolitana de Curitiba.

Nesses locais, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), são previstos chuva entre 30 e 60 mm por hora ou 50 a 100 mm por dia, ventos intensos de até 100 km/h e queda de granizo. Devido ao temporal, há risco de corte de energia elétrica, estragos em plantações, quedas de árvores e de alagamentos.

MANHÃS CONTINUAM FRIAS NO SUL
Em relação ao frio, Porto Alegre continuará com temperaturas baixas durante as madrugadas, com mínimas na faixa dos 11°C e máximas de 19°C à tarde. Apenas na quarta-feira, antes da chegada da nova frente fria, é que o clima esquentará um pouco, ficando com a mínima de 16°C e máxima de 29°C. Mas logo chegará a chuva, o que fará com que o tempo volte a esfriar nos dias seguintes.

O mesmo padrão será observado em todas as regiões do Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina e Paraná, no entanto, as temperaturas ficam um pouco mais amenas, com mínimas na casa dos 16°C e máximas que podem atingir os 26°C na quarta e na quinta em Florianópolis.

Em Curitiba, segunda e terça terão mínimas de 14°C e máximas de 22°C e 24°C, respectivamente. Já na quarta as temperaturas variam entre 16°C e 27°C. E na quinta, variam entre 15°C e 25°C. A partir de sexta (24), porém, vai esfriar também nas duas capitais.

Claudinei Queiroz/Folhapress

Baixa do Guaíba revela destruição e prejuízo em Porto Alegre

<Foto: Rafa Neddermeyer/Arquivo/Agência Brasil    >
Este sábado (18) começou sem chuva e com sol em Porto Alegre. A água das ruas já baixou em boa parte da zona sul da cidade. Foi a senha para quem foi atingido começar a limpeza das casas. No bairro Menino Deus, as calçadas ficaram cheias de móveis, colchões, eletrodomésticos, livros e todo o tipo de objeto que algum dia já teve valor, mas que agora vai para o lixo.

“Eu tinha vários livros em casa e eu esqueci de levantá-los quando saí daqui. Quando eu fui lembrar, já não tinha como entrar”, disse o geólogo Evandro Oliveira. O motorista Joel Vargas não escondeu sua frustração diante dos prejuízos. “Tudo é lixo. Tudo quebrado, tudo demolido. Não se aproveita nada”.

A aposentada Marlene de Souza também lamentou a perda de seus pertences. “Está tudo com gosto, cheiro de esgoto, tudo podre”.

Com a redução no nível da água, um novo exército entra em operação. São centenas de homens e mulheres com uma única missão: retirar das ruas toneladas de lixo e de lama.

Segundo o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), 3.500 pessoas estão envolvidas no trabalho de limpeza e recuperação da cidade. Do dia 6 de maio para cá, somente onde não estava alagado, já foram recolhidas 910 toneladas. Esse número vai aumentar muito conforme as ruas forem secando. Nesta primeira etapa, estão sendo utilizados 300 veículos pesados, incluindo retroescavadeiras, pás carregadeiras e caminhões basculantes. Mas o trabalho principal, como varrição e raspagem das ruas, retirando manualmente a lama que se acumulou, é feito pelos garis.

“Temos 3.500 garis trabalhando em três turnos e um maquinário muito pesado sendo usado na remoção dos resíduos”, explicou o diretor-geral da DMLU.

Vladimir Platonov/Agência Brasil

 

Pimenta diz que apoio do PT foi fundamental para Leite ser eleito no RS e minimiza divergência política

Nomeado ministro do governo Lula para o Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta afirma que é uma visão muito “mesquinha” e “extremamente maldosa” acreditar que o presidente criou a estrutura para controlar a narrativa da reconstrução do estado.

Político gaúcho cotado como pré-candidato ao Palácio Piratini, o ex-chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social) rebate as críticas de politização da calamidade com a sua indicação.

Acrescenta que não há ruídos com o adversário político Eduardo Leite e cita que há até alguns pontos em comum, em particular nas eleições de 2022. “Eu era presidente do PT, e o nosso apoio foi fundamental para que ele fosse eleito”, afirmou à Folha.

Pimenta evita falar sobre os comentários de que a sua ida para o Rio Grande do Sul tem como efeito tirá-lo da comunicação e assim resolver um foco de críticas dentro do governo.

“É uma pergunta que deve ser feita ao presidente”, afirma.

O governo rebate críticas de politização da tragédia, mas a indicação de um político, do estado, adversário do governador não fortalece isso? Acho que é uma crítica de quem não me conhece, quem não conhece o Rio Grande do Sul, e a forma como a gente trabalha, de forma institucional, respeitosa e harmônica.

Não há nenhuma possibilidade e com certeza também não há do governador e da sua equipe, dos prefeitos, de não compreender a relação necessária nesse momento. E isso é uma crítica de pessoas que não convivem no nosso dia a dia, não conhecem a nossa realidade, e ela é totalmente infundada.

Mas só o fato de ela existir não cria ruído e divisão num momento de calamidade? Eu acredito que não. Pelo contrário. Trabalhamos hoje e ontem, o dia inteiro, de forma muito harmônica, com toda a equipe do governo do estado, com a equipe dos prefeitos. A relação está muito positiva, os resultados estão acontecendo com uma velocidade muito importante, e eu estou muito satisfeito com a forma que o trabalho está acontecendo.

O senhor fala em relação harmônica com o governador Eduardo Leite, mas nos bastidores falam o contrário. Olha, eu votei nele para governador. Eu era presidente do PT, e o nosso apoio foi fundamental para que ele fosse eleito. E acredito, inclusive, que ele votou no mesmo candidato que eu para presidente da República.

Isso mostra que nós temos muitas convergências, apesar de estarmos em partidos diferentes e termos referências sobre outras questões. Mas a minha relação com ele eu considero excelente, funcional, respeitosa, harmônica e extremamente positiva para o Rio Grande do Sul nesse momento.

A indicação do senhor não pode ser vista como uma tentativa de controlar a narrativa, contrapor um adversário que pode ser catapultado na reconstrução, com parte de recursos federais? Isso seria uma visão muito mesquinha. Seria quase incompreensível alguém pensar uma coisa dessas num momento como esse, quando o presidente Lula tem feito um esforço grande de solidariedade, de parceria, de união, de reconstrução. Então, passa longe de nós qualquer pensamento nesse sentido.

Há também uma visão de que o ministério está muito ligado ao senhor, personalista, ou mesmo à tentativa do governo federal de fortalecer imagem e marcar presença no estado. Repito que é uma visão mesquinha e extremamente maldosa imaginar que o presidente Lula montasse uma estrutura de governo num momento dramático como esse, onde é fundamental mobilizar todo esforço do governo federal para ajudar na reconstrução do Rio Grande e nós fôssemos ter como objetivo coisas tão pequenas e tão baixas como essas.

Qual será a missão do ministério? Coordenar as ações de todas as áreas do governo federal no sentido de dar agilidade, encurtar caminhos, facilitar o acesso das prefeituras e do governo do estado às políticas públicas, estabelecer relações com todos os setores da sociedade gaúcha no sentido de ouvi-los e, a partir desse diálogo, melhorar ainda mais o trabalho que a gente está fazendo e encontrar outras iniciativas necessárias para dar a resposta que o Rio Grande do Sul precisa nesse momento.

Por enquanto, esse é um ministério de duas pessoas. A estrutura dos ministérios é definida por decreto e não pela medida provisória. Os dois cargos que são necessários criar por lei é o do ministro e o do secretário executivo e os demais são definidos por decreto.

O senhor já tem uma ideia da equipe do senhor? Estamos discutindo e no decorrer da próxima semana, com certeza a gente vai, já no início, ter uma estrutura e definir claramente a equipe que a gente precisa e a forma que ela vai trabalhar.

Não tive condição de pensar porque o volume de trabalho está tão grande. Nas últimas 48 horas, eu estou 100% focado na necessidade da gente trazer para o Rio Grande do Sul bombas que consigam expulsar esse volume enorme de águas que estão aqui na região metropolitana.

Nós temos mais de 80 mil pessoas em abrigos, mais de 200 mil gaúchos e gaúchas desalojados.

Agora no estado, vai dar sequência aos esforços para combater fake news, reportando casos à PF? Se eu fosse responder a todas as fake news que foram produzidas desde o momento em que eu fui nomeado até agora, eu não teria tempo para fazer tudo o que eu preciso fazer.

É uma avalanche de mentiras, de desinformação, muitas delas de caráter criminoso, que são produzidas diariamente. Então eu não vou poder, até pelo menos por uma questão de capacidade física e de tempo, me dedicar para responder a todas as mentiras que são produzidas de forma a prejudicar o trabalho de reconstrução e de união do Rio Grande do Sul.

O governo não busca controlar a narrativa, colocando selo de fake news em fatos críticos ao governo, como o caminhão e a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] ou o caso do avião do Uruguai? O fato da ANTT é um fato mentiroso, é um fato totalmente mentiroso. Nenhum caminhão foi impedido de chegar no Rio Grande do Sul, ninguém foi impedido de transitar por exigência de nota fiscal. Essa informação de que a Polícia Rodoviária Federal e que a Polícia Federal estavam fiscalizando e exigindo nota fiscal de donativos, de doações, é uma mentira, uma fake news mentirosa que foi desmentida.

Depois, tentaram criar um factoide de que alguns caminhões que foram paralisados por excesso de peso, que logo em seguida foram liberados, tivessem a ver com a história original que era a exigência de notas fiscais para doação, o que eu repito, é mentira.

Em relação à questão do Uruguai, nós caracterizamos [como falso], mas desconheço que tenha sido feita qualquer representação criminal ou civil por conta desse episódio, o que aí é normal, são versões diferentes a respeito de um determinado fato.

Não incluo esse fato no rol das mentiras criminosas que eu imagino que devem ser investigadas pela Polícia Federal e pelos órgãos de controle.

Mas o governo cravou o selo fake news para isso e o senhor mesmo cita ‘versões diferentes’. O fato de que, de forma deliberada, o governo teria tomado uma decisão de não aceitar uma oferta de apoio do Uruguai, é falsa essa afirmação.

Então, se em determinado momento foi caracterizado como fake news, talvez por conta dessa avalanche de mentiras que tem sido divulgada, esse caso que foi simplesmente um caso falso tenha sido carimbado também como fake news.

O senhor pretende permanecer no RS por quanto tempo? Pela emergência, o prazo para que todos os convênios e contratos estejam firmados na área da saúde, da educação, da habitação, os planos de recuperação do estado, por lei, na emergência, são seis meses. Então, o prazo que eu me estabeleço é o prazo que a lei estabelece. A partir disso, cada um dos ministérios acompanha a execução.

Pretende voltar para a Secom? Olha, o presidente me pediu que eu cumprisse essa missão e que, posteriormente, retornasse para o meu trabalho 100% focado na Secom.

A comunicação do governo é criticada e uma ala considera que o remanejamento foi uma forma de mudá-la. Essa pergunta deve ser feita para o presidente da República. Mas eu particularmente acredito na política de comunicação do governo. Assim como o presidente disse que nós temos um tempo para plantar e um tempo para colher. Isso se refere também à comunicação.

Eu tenho certeza que, em pouco tempo, os índices de aprovação do governo estarão bem melhores, porque as entregas estarão chegando de forma muito mais definida. Nós temos hoje um resultado que é absolutamente dentro daquilo que nós imaginamos, do planejamento estratégico das ações do governo e das ações da comunicação.

Eu tenho certeza que, em pouco tempo, os resultados serão sentidos de uma forma muito mais efetiva.

RAIO-X
PAULO ROBERTO SEVERO PIMENTA, 59

Nascido em Santa Maria (RS), é jornalista e técnico agrícola formado pela UFSM. Foi vereador e vice-prefeito de sua cidade, deputado estadual e depois eleito para seis mandatos na Câmara dos Deputados. Assumiu em janeiro de 2023 como ministro da Secom. Foi nomeado na quarta-feira (15) como titular do Ministério Extraordinário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul

Renato Machado/Folhapress

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